segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Um passo atrás

Há mais de cinco anos, Ilori afirmou ter tomado a decisão de abandonar o Sporting porque queria dar um passo em frente na sua carreira. Não é uma frase que os adeptos gostem de ouvir de um seu atleta, e pior soa se for dita por um miúdo a quem o clube deu todas as oportunidades possíveis para se desenvolver como jogador, ao fim de apenas uma dúzia de jogos disputados pela equipa principal.

Foto: Record
Sabemos agora que o passo só foi dado em frente do ponto de vista salarial, porque, desportivamente, as coisas não correram como Ilori estaria certamente à espera. Não se afirmou no Liverpool, não se afirmou no Granada, não se afirmou no Bordéus, e não se afirmou no Aston Villa. Depois de quatro épocas jogadas ao lixo, acabou por encontrar o seu espaço no Reading, um clube do segundo escalão inglês que luta para não descer. 

Ao que parece, Ilori está disposto agora a voltar ao Sporting e o Sporting está disposto a recuperar o jogador. Depois de tudo o que aconteceu, não é necessário elaborar uma explicação demasiado complexa. Assim como estar vivo é o contrário de estar morto, o contrário de um passo em frente é dar um passo atrás. Do ponto de vista do jogador, os vários passos atrás foram sendo dados ao longo das últimas épocas - partindo de um clube de topo inglês e acabando no modesto Reading -, mas o que realmente me interessa é o seguinte: não estará também o Sporting a dar um passo atrás com esta contratação? 

Deixo para já de lado a questão do mau exemplo que o clube está a dar ao estender a mão a quem nos tratou mal no passado. Sou uma pessoa suficientemente pragmática para aceitar (sem gostar) determinadas decisões se isso trouxer benefícios desportivos para o Sporting. O que me preocupa é o seguinte: quais são as probabilidades de Ilori ser verdadeiramente útil ao Sporting, considerando que apenas se conseguiu afirmar num patamar competitivo inferior e depois de ter desperdiçado épocas críticas para o seu desenvolvimento como jogador? Ilori prometia muito em 2012/13, mas estava longe de ser um produto acabado. Mesmo que mantenha hoje os atributos físicos e técnicos de então (o que, sendo possível, ainda está por comprovar), não me parece que o seu percurso lhe tenha permitido adquirir a experiência de jogo e a maturidade psicológica necessárias para ser o central de que o Sporting precisa.

Não tenho visto os jogos de Ilori no Reading, mas parece-me utópico pensar que venha para ser utilizado com frequência no onze perante a concorrência de Coates e Mathieu. Isto significa que estamos a gastar dinheiro (que neste momento não abunda) e a comprometer-nos com um jogador durante quatro épocas e meia que vem para se sentar no banco. Entre André Pinto, Petrovic, os sub-23 e jogadores emprestados, não haverá dentro de portas alguém que consiga desempenhar esse papel até ao final da temporada? 

A direção está a correr riscos grandes com esta decisão. Em primeiro lugar, porque está a pedir a muitos sportinguistas que engulam (mais) um enorme sapo. Depois, porque os ganhos desportivos não são evidentes. Juntando-se as duas coisas, teremos um atleta de valor questionável que terá tolerância zero das bancadas, o que dificultará ainda mais o seu percurso para se afirmar no clube. E se correr mal, se este mercado de inverno correr mal, comprometerá a opinião que os sportinguistas têm da área em que há maior unanimidade em termos de boas expetativas criadas pela direção de Frederico Varandas: a constituição de uma equipa de scouting de qualidade que seja capaz, finalmente, de reforçar competentemente o clube.

Que Ilori consiga corresponder às expetativas de quem decidiu a sua contratação. Apesar das dúvidas que tenho, ficarei a torcer por isso.