quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Os infalíveis

Merece um destaque pela positiva a atitude do Sporting em pedir desculpas pela crónica do jogo com o Benfica. Significa em primeiro lugar que os responsáveis pelo clube estão atentos às opiniões dos sócios. Em segundo lugar, ao reconhecerem o erro e corrigindo-o leva-nos a acreditar que dificilmente situações destas se tornarão a repetir no futuro.

Não há outra forma de evoluir. É preciso tentar, errar, perceber o que falhou, e voltar a tentar de uma forma diferente até se conseguir superar o problema em mãos. E como não existem pessoas infalíveis, temos que perceber que o erro é inevitável. É claro que há os que erram mais e os que erram menos, e se forem menos as vezes que se erra, tanto melhor.

Eu não quero no meu clube dirigentes que se façam passar por infalíveis, e ficarei mais tranquilo se os vir a admitirem erros que são evidentes a todos. É sinal que têm a humildade de reconhecer que podem melhorar, o que significa que estarão um passo mais perto de não voltar a cometer as mesmas falhas.

Presidentes infalíveis são os do Porto e Benfica. Dirigentes catedráticos, cuja experiência no dirigismo desportivo já remonta ao século passado, nunca são apanhados a admitir um erro. E não é preciso recuar muito no tempo para apanhar excelentes exemplos da sua infalibilidade.

in expresso.pt

Realmente devemos ter todos vivido um episódio de alucinação coletiva quando aquele material isolante e placas de zinco andaram a pairar sobre as bancadas e o relvado da luz. Mas se Vieira diz que afinal o estádio tinha bastante segurança, podemos todos ficar tranquilos da próxima vez que houver um temporal em Lisboa.

Ou, por exemplo, ao tentar passar uma esponja no tremendo fracasso que foi a contratação de Roberto.



Assumir o erro de uma contratação milionária? Nem pensar! Não só insiste na "bondade da aposta ao contratar Roberto", como completa o ramalhete fabricando uma transferência fictícia ainda mais milionária para que a fachada da infalibilidade não seja colocada em causa.

Sobre Pinto da Costa nem vale a pena falar muito. Nenhuma decisão é questionada, por muito obscura que possa parecer, mesmo que desafie qualquer lógica convencional. A narrativa tradicional é que se Pinto da Costa decide de determinada forma é porque tem motivos para isso. Se alguma coisa corre mal, culpa-se o treinador. Ao se festejarem triunfos, é o nome de Pinto da Costa que surge sempre em primeiro lugar.

Veja-se o caso de Izmailov. Alguém admitiu ter cometido um erro ao trocá-lo por Miguel Lopes? Claro que não. Invente-se um problema familiar gravíssimo que o impede de treinar, e arranje-se um desterro no Cáucaso para servir os melhores interesses do clube e do jogador.

Os líderes infalíveis têm sempre uma solução. Se acontece algum problema, nunca é erro seu, mas surge de imediato um desenlace milagroso. Aciona-se a máquina de propaganda que qualquer líder infalível que se preze tem ao seu dispor, e tudo é apresentado como um golpe de génio.

Ah, a propaganda... (Imagem: slbenfica.pt)

Sou obrigado a reconhecer, no entanto, que Pinto da Costa veste bem o fato de infalível. É raro aparecerem situações que o deixem numa posição delicada e com dificuldade em explicar-se. Com Vieira é diferente: é tudo à descarada, e por isso não há construção propagandística que consiga maquilhar as asneiradas recorrentes. 

Voltando ao princípio, eu não preciso de ter dirigentes infalíveis à frente do Sporting. Estou preparado para aceitar erros de quem tem decisões complicadas a tomar, desde que se veja que há um rumo bem traçado que está a ser seguido de forma suficientemente coerente. 

Erros eu consigo compreender. Encobrimentos nem pensar.