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domingo, 7 de julho de 2019

A vida depois de Bruno

Os sócios confirmaram ontem a expulsão de Bruno de Carvalho do Sporting. Um desfecho previsível que dita o fim de um penoso processo que teve início em maio de 2018 e que tem mantido a vida do clube em suspenso. No espaço de 17 meses, o antigo presidente passou de uma situação de apoio massivo que roçava os 90% para um ponto em que a maioria dos sportinguistas não tolera sequer a possibilidade de o deixar continuar a pagar quotas e participar na vida do clube na qualidade de associado.

Votei em consciência contra a expulsão. Apesar de ser para mim evidente que Bruno de Carvalho cometeu infrações graves - que, do ponto de vista estritamente regulamentar, podem justificar a expulsão -, não esqueço tudo aquilo de muito bom que fez pelo Sporting. Pegou no clube numa altura em que ninguém mais o queria fazer, reergueu-o desportiva e financeiramente contra as previsões de muitos, promovendo um nível de militância que arrebatou várias gerações de sócios que apenas tinham conhecido lideranças resignadas e fatalistas que foram afundando gradualmente o Sporting até ao estado desesperado que culminou nas eleições de 2013. Inverteu o definhamento do ecletismo devolvendo a competitividade das nossas equipas e construindo uma casa das modalidades que é a menina dos olhos de muitos de nós. Na minha opinião, apesar de todos os erros que cometeu na fase final da sua presidência, Bruno de Carvalho deixou o Sporting em melhor estado do que aquele que encontrou e, por isso, acho injusto que lhe seja aplicada a mais severa das punições.

Foi, também, mais uma oportunidade perdida pelos atuais órgãos sociais de honrarem o seu lema de campanha: unir o Sporting. Não contesto, de forma alguma, a legalidade da sentença do CFD, da realização da AG e da decisão final dos sócios - que respeito democraticamente -, e não me passa pela cabeça que o clube tenha de viver refém da vontade e caprichos de um conjunto de fanáticos ruidosos incapaz de separar o clube do seu antigo líder. Mas creio que, considerando a delicadeza do tema, poderiam ter sido feitas pequenas cedências que em nada afetariam o decurso da AG e que ajudariam a passar uma ideia de magnanimidade de quem exerce o poder e de alguma vontade de sarar as profundas fraturas que hoje existem. Que mal viria ao mundo se fossem atribuídos 30 minutos em vez de 15 para Alexandre Godinho e Bruno de Carvalho se defenderem perante os sócios? Que mal viria ao mundo se as votações apenas se iniciassem após o final dessas duas intervenções? Que necessidade havia de emitir tiradas de pura demagogia que transformaram a AG numa espécie de Agora Escolha em que as opções eram "BdC continua sócio e não podemos ganhar campeonatos de futebol" vs "BdC é expulso e podemos ganhar campeonatos de futebol"? 


A intransigência revelada, em conjunção com os vários sinais dados ao longo destes dez meses de mandato, é, para mim, indicativo de que existem nestes órgãos sociais alguns elementos tão extremistas como os extremistas que os insultaram repetidamente nas últimas AGs. Nas cabeças desse punhado de indivíduos - seja por desejo de vingança ou paranóia -, #UnirOSporting é a menor das preocupações. Nas cabeças desse punhado de indivíduos, só hoje começou a vida pós-Bruno quando, na realidade, a vida pós-Bruno começou no dia em que os atuais órgãos sociais tomaram posse.

O ciclo de Bruno de Carvalho do Sporting está morto e enterrado desde setembro de 2018. Os problemas que a fase final da sua presidência gerou são indesmentíveis e condicionaram fortemente a época que terminou em maio, mas nada do que o sócio Bruno de Carvalho fez ou pudesse ter feito desde as última eleições alterou ou alteraria o quer que fosse. Daí achar que a sua expulsão não vai resolver absolutamente nada, não vai mudar absolutamente nada.

Votei nestes órgão sociais por achar que a melhor forma de unir o clube é através da competência, das vitórias e dos títulos. Até ver, as promessas feitas nesse sentido estão a ser cumpridas na generalidade. Há uma estratégia coerente que me parece estar a ser bem executada, a época está a ser bem preparada (há a exceção do andebol, pelas razões que se conhecem), e encaro com otimismo o desempenho da maior parte das nossas equipas em 2019/20. No entanto, não se fazer qualquer esforço para unir e cativar os sportinguistas que se afastaram - a esmagadora maioria por desilusão com o estado a que o clube chegou e não por lealdade a presidentes ou candidatos - é um caminho perigoso. Quando os sócios e adeptos não se revêm numa direção, a sua paciência vai depender quase exclusivamente da bola que entra ou deixa de entrar na baliza - e isso coloca a estabilidade do Sporting TOTALMENTE dependente do sucesso desportivo da equipa principal de futebol. Num futebol tão podre como o nosso, é um risco muito, muito imprudente de se tomar.

Se há coisa de que estou farto, é de suspensões, expulsões e eleições. De 2017 para cá parecemos mais um partido político do que um clube desportivo. Pobre Sporting...

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

A montanha que pariu um rato e o circo montado

A montanha que pariu um rato

A decisão do tribunal de permitir que Bruno de Carvalho aguarde o julgamento em liberdade foi um gigantesco balde de água fria despejado em cheio sobre todos aqueles que aguardavam ansiosamente pela confirmação da medida de coação de prisão preventiva, tomada como quase certa. Um plot twist arrasador para todos aqueles que se foram saciando durante os cinco dias de frenesim mediático que devassou por completo a vida de um cidadão - chegámos ao ponto de sermos informados da medicação que lhe tinha sido receitada - e da sua família. Foi perfeitamente percetível a desilusão (e indignação) na voz de vários jornalistas e comentadores quando foram conhecidas as medidas de coação.

A libertação de Bruno de Carvalho não é sinónimo de inocência, mas é compreensível que a sua família e amigos encarem esta decisão com alegria depois de tudo o que têm passado desde domingo. Foi tratado na praça pública como um criminoso julgado e condenado e, para quem assistiu de fora a este espetáculo, seria de esperar que existissem provas minimamente sustentadas que ajudassem a justificar o tratamento inadmissível a que foi submetido. Não existindo, acaba por ser um golpe na credibilidade de quem conduz o processo. E isso é preocupante, porque não nos podemos esquecer que não é só Bruno de Carvalho que está aqui em causa: o que aconteceu no dia 15 de maio é gravíssimo e os responsáveis, sejam eles quem forem, têm de ser determinados e punidos em conformidade, havendo sempre a necessidade de que haja consciência de que, no meio de dezenas de pessoas acusadas, nem todas terão o mesmo grau de culpa naquele trágico acontecimento.


O circo montado

Ontem, depois de conhecida a decisão do tribunal, as agulhas viraram-se para o circo montado pelo MP. Existe uma atenuante importante, na minha opinião: não me lembro de alguma vez ter visto o poder político em massa a fazer imediatamente declarações tão assertivas sobre uma situação do foro da justiça, e isso deve ter criado uma pressão imensa sobre quem ficou com a responsabilidade de investigar o sucedido.

Mas também convinha que se discutisse o circo montado pela própria comunicação social, para quem a pressão existente é apenas uma questão... de audiências, e que levou a que (mais uma vez) se cometessem excessos inadmissíveis. Justiça a David Borges que, no Jornal da Noite de ontem, fez uma curta mas importante reflexão sobre o mau serviço que os jornalistas prestaram ao público ao longo dos últimos dias.



quarta-feira, 14 de novembro de 2018

A detenção de Bruno de Carvalho

A invasão a Alcochete foi o pior momento da história do Sporting. Causou danos na vida de muitas pessoas, começando pelas dos jogadores - as vítimas do ataque -, e teve também o efeito secundário de provocar uma ferida profunda no relacionamento que muitos sportinguistas têm com o clube, ferida essa que tardará a sarar. E não podemos ignorar os danos desportivos, reputacionais e financeiros que também foram causados. Como tal, sendo eu um sportinguista que ficou enojado pelos acontecimentos que estão agora a ser investigados, desejo, como não poderia deixar de ser, que a justiça consiga para apurar o que realmente se passou e que puna todos os responsáveis, doa a quem doer. 

Desconheço os factos e provas apurados pelo Ministério Público que levaram à decisão de deter Bruno de Carvalho para interrogatório. Não vou especular sobre se havia motivos ou não para que tal acontecesse, mas parece-me claro que os direitos do cidadão não estão a ser respeitados quando este é obrigado a passar três noites numa cela antes de ser ouvido por um juiz - contribuindo assim para alimentar ainda mais o circo mediático que se sabia que iria acontecer. Ontem, para além do já habitual acampamento habitual à porta das esquadras e do tribunal e das não tão habituais perseguições de operadores de imagem a carros celulares e a outras viaturas policiais, chegou-se ao ponto de vermos uma jornalista a indignar-se em direto por as autoridades não lhe terem dado a oportunidade de filmar Bruno de Carvalho a entrar no tribunal algemado. Espero, por isso, que o sistema judicial faça por não contribuir para a transformação de um assunto muito sério num miserável reality show que faz salivar os responsáveis de muitos dos canais televisivos... e não só.

Resta-me partilhar a ideia que fui formando ao longo destes meses sobre o assunto. Tenho dificuldades em acreditar que Bruno de Carvalho tenha dado ordem para o ataque porque não vislumbro nenhum motivo racional que pudesse levar o então presidente a incentivar de alguma forma um ato violento contra os seus próprios jogadores, ainda mais estando a poucos dias de disputar uma final da Taça de Portugal que poderia ajudar a mitigar o insucesso do campeonato. As teorias que têm aparecido na imprensa oscilam entre o pouco convincente e o absurdo, como a de que a intenção de Bruno de Carvalho em ordenar o ataque passaria por forçar jogadores a sair. Aparentemente os autores desse artigo esqueceram-se que era notório que muitos dos jogadores estavam desejosos de sair do clube desde o malfadado post pós-Madrid e não precisavam dessa motivação extra. Mas lá está, é apenas a minha opinião e também aquilo que desejo. Mas como a vida nos vai mostrando que não é incomum sermos surpreendidos positiva ou negativamente pelas pessoas, neste momento não há muito mais que se possa dizer ou fazer que não seja esperar pelo decorrer do processo. Que no final se possa dizer que a justiça foi efetivamente aplicada.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

As realidades alternativas da CMTV

Ninguém poderá negar que os problemas por que o Sporting passa atualmente são graves, mas parece-me também que já todos perceberam que há uma vontade óbvia da comunicação social - uns mais do que outros - em empolar tudo o que tiver o mais fugaz cheiro a polémica que possa estar ligada, direta ou indiretamente, ao clube ou ao seu presidente.

Se há alguma coisa que as últimas semanas nos ensinaram, é que não há assunto que venda tanto como uma crise do Sporting. Nem crises no Governo, nem crises na banca, nem crises em qualquer outro clube de futebol - como se pode avaliar pela fugaz cobertura que tiveram as alegadas tentativas de suborno de jogadores do Marítimo ou pela total irrelevância que mereceu o episódio de agressões de dezenas de adeptos a atletas do V. Guimarães.

A crise do Sporting vende, e vende tanto que há quem tente arranjar problemas onde os problemas não existem, inventando realidades alternativas através de uma colagem manhosa de factos, rumores e interpretações completamente enviesadas.

Vem isto a propósito de uma peça que a CMTV exibiu na passada segunda-feira sobre uma alegada SMS enviada por Bruno de Carvalho aos jogadores de hóquei em patins do Sporting. Ora vejam, que vale a pena:


A peça começa desta forma:

"Depois das polémicas mensagens do presidente do Sporting aos jogadores da equipa principal de futebol, Bruno de Carvalho atacou AGORA por SMS os atletas de hóquei em patins do clube de Alvalade."

Não podia começar de melhor forma. Apresentar uma notícia indicando que a tal SMS foi enviada "agora" quando, na realidade, a data que lhe é atribuída tem mais de três semanas, é uma forma indecente de tentar converter notícias requentadas em acontecimentos bombásticos de última hora. Só depois de a SMS ser mostrada e lida é que o jornalista refere a data e as circunstancias em que tal mensagem terá sido enviada. 

Mas a desonestidade ainda iria piorar.

"Alguns atletas do plantel já reagiram através das redes sociais às palavras do líder do Sporting de forma IRÓNICA."

Se alguém tivesse ficado na dúvida sobre se a utilização do termo "agora" foi um descuido ou intencional, esta frase demonstra de forma clara o objetivo do jornalista Luís Silva, quando este diz que alguns atletas do plantel reagiram de forma irónica às palavras de Bruno de Carvalho. Pelo que é dito na peça, fica implícito que a ironia dos jogadores se dirige a Bruno de Carvalho quando, na realidade, a ironia dos jogadores se dirigia... à notícia da CMTV.

Como se pode ver na imagem à direita (post de Caio no Instagram), os jogadores estão a mostrar um telemóvel com imagens de um programa da CMTV onde se debatia a tal SMS de Bruno de Carvalho. A pose dos jogadores, o texto e os emojis, o facto de estarem a celebrar o campeonato que tinha sido conquistado no dia anterior, sabendo-se também que a equipa de hóquei tem feito declarações públicas de apreço pelo apoio da direção à secção, não deixa quaisquer dúvidas sobre a intenção da mensagem: estão a fazer pouco da revelação da CMTV. 

O texto e a imagem foram publicados pela maior parte dos jogadores do plantel.  







Para além disto, Gilberto Borges também se pronunciou sobre o tema...


... e o fisioterapeuta da equipa de hóquei publicou o seguinte:

(via @scpmariadavid)

Uma peça que começa por situar mal no tempo uma eventual mensagem enviada por Bruno de Carvalho, que segue fazendo uma descrição cronológica pouco rigorosa de acontecimentos relevantes, e acaba tentando criar um cenário de rotura entre jogadores e presidente que simplesmente não existe. Falta de profissionalismo e honestidade, dirão uns; apenas mais uma segunda-feira na nossa vida, dirão os jornalistas da CMTV.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

O regresso de Inácio

O Sporting anunciou ontem o regresso de Augusto Inácio à estrutura de futebol do Sporting. O homem que conquistou o campeonato em 2000 foi nomeado diretor desportivo, tendo o clube tido o cuidado de especificar num comunicado posterior que não se trata de uma substituição de André Geraldes - que retomará as funções de team manager quando forem levantadas as medidas de coação a que está sujeito. Foi também referido que Bruno de Carvalho deixará de assistir aos jogos do banco de suplentes.

Há duas conclusões óbvias que se podem retirar daqui.

A entrada de Inácio parece indicar que Bruno de Carvalho decidiu criar um maior distanciamento entre si e a equipa de futebol: primeiro pela criação de um cargo intermédio entre a direção e a equipa técnica; depois pelo regresso do presidente à tribuna durante os jogos. Era um passo inevitável face a tudo o que aconteceu nos últimos dois meses. O perfil parece-me adequado: Inácio é um homem do balneário, já desempenhou o cargo nos anos de Leonardo Jardim e Marco Silva, e é também um homem de confiança do presidente. Em teoria, são movimentações que fazem sentido. Veremos como correrá na prática.

Há depois a questão de Jorge Jesus. Inácio foi afastado porque Jesus quis preencher a estrutura de pessoas da sua confiança. Não sei qual é o tipo de relacionamento que os dois têm atualmente, mas isto não são sinais positivos para a manutenção do status quo da equipa técnica atual: no mínimo, significa que Jesus perderá muita da sua autonomia; no limite, pode significar que o Sporting se prepara para trocar de treinador. Seguramente que nos próximos dias a questão do treinador ficará definida, já que falta pouco mais de um mês para a nova época começar.

terça-feira, 22 de maio de 2018

O outro lado da moeda

Percam cinco minutos da vossa vida e vejam esta intervenção de uma sportinguista num fórum televisivo. Apesar de tudo o que se tem passado, existe um outro lado da moeda que não deverá deixar de ser considerado. 


sexta-feira, 18 de maio de 2018

Roleta russa

Bruno de Carvalho e os restantes elementos dos órgãos sociais que ainda o acompanham agendaram a emissão de um comunicado para a noite de ontem. Contra a generalidade das expectativas, Bruno de Carvalho iniciou o comunicado anunciando que não se demite, em nome dos interesses do clube. Seguiram-se outras intervenções para marcar uma posição face aos gravíssimos problemas que o Sporting atravessa.

Não renego nem nunca renegarei a admiração pelo trabalho que esta direção fez em prol do clube até há seis meses, nem o meu alinhamento com a visão que o presidente recuperou para o clube: ecletismo, transparência, ambição e dedicação. Mas Bruno de Carvalho (e quem ainda o acompanha) já devia ter percebido que os acontecimentos dos últimos meses fizeram com que seja agora maior fonte de problemas do que soluções. Aliás, neste momento é quase exclusivamente uma fonte de problemas. 

Os 90% esfumaram-se. Se o Sporting já era um clube complicado de gerir e liderar enquanto houve um apoio avassalador à direção, penso que não é difícil compreender que a partir de agora passará a ser ingovernável.

Havia um cenário que poderia dar boas hipóteses ao clube de se reequilibrar e retomar a normalidade possível a curto prazo, que passaria pela substituição imediata de Bruno de Carvalho por Carlos Vieira. Garantia uma figura credível e conhecedora da realidade para liderar o Sporting nos complicados meses que se seguirão. Mas a opção não foi essa. Insistem em fechar os olhos às evidências, preferem continuar a adiar o que parece inevitável, e agora ninguém faz ideia daquilo a que poderemos estar sujeitos nas próximas semanas.

Sinto que se iniciou um jogo de roleta russa com cinco balas colocadas num tambor de seis e em que nos calhou a nós sermos os primeiros a premir o gatilho.

terça-feira, 15 de maio de 2018

A montanha pariu um rato (pelo menos para já)

A montanha pariu um rato, pelo menos para já. 

Vamos esquecer-nos por um momento do circo mediático que se gerou no final da tarde de ontem e que se prolongou pela noite dentro. Depois de um jogo vergonhoso que nos privou de um objetivo importantíssimo e em vésperas de um outro também muito importante, é normal que o presidente tenha querido falar com os jogadores e equipa técnica. A reunião decorreu no estádio, em privado, e não no Facebook ou no Instagram. É assim que deve ser. 

Em paralelo a Comunicação Social foi armando a tenda do circo, instalando as bancadas e montando as barraquinhas das pipocas e do algodão doce, enquanto ia prometendo um espetáculo inesquecível. As "notícias" que começaram a circular garantiam que a equipa técnica tinha sido suspensa e que não estaria no Jamor, e que três jogadores (Rui Patrício, William Carvalho e Bruno Fernandes) tinham ameaçado não jogar a final da Taça caso essa suspensão se efetivasse. A Comunicação Social bem pode ter anunciado o Cirque du Soleil, mas os artistas não apareceram. A estrutura acabou por desabar ruidosamente quando, à saída do estádio, Bruno de Carvalho negou a suspensão da equipa técnica e afirmou que a reunião com os jogadores decorrera de forma normal. Acredito que seja verdade, porque até ver não houve nenhuma reação antagónica do lado dos jogadores. 

A um fim de tarde pródigo em especulações sucedeu-se uma noite de discussões assentes em premissas desmentidas oficialmente, o que é uma bela imagem daquilo em que se transformou o jornalismo e o comentário desportivo em Portugal. Lá mais para o final da noite a história foi alterada: de suspensão passou-se para uma transmissão verbal a Jorge Jesus da decisão de que lhe será instaurado um processo disciplinar. Vale o que vale, pela amostra do dia o melhor é mesmo ficarmos todos de pé atrás antes de tomar por certo qualquer notícia sem confirmação de nenhuma das partes diretamente envolvidas.

Comecei o texto com "A montanha pariu um rato, pelo menos para já.". Escrevi "pelo menos para já" porque estou totalmente convencido de que Bruno de Carvalho já não vê Jorge Jesus como a pessoa certa para o banco do Sporting e, como tal, não quererá que o treinador cumpra a última época de contrato com o Sporting. Confirmando-se este cenário, tenho a certeza de que Bruno de Carvalho não terá o mínimo interesse em pagar o último ano de contrato a Jorge Jesus. São 5, 6, 7, 8 ou 9 milhões (dependendo da cartilha) que farão muita falta ao orçamento do Sporting numa época em que não haverá Champions para forrar os cofres da SAD, pelo que não tenho dúvidas de que Bruno de Carvalho usará todas as armas à sua disposição para forçar uma rescisão "amigável" - mesmo que o processo para a alcançar seja tudo menos amigável. O Bruno mais "maluco" (roubando o termo utilizado pelo próprio presidente na recente entrevista ao Expresso) é o Bruno que avança para uma negociação que não aceita perder. Perguntem à banca, perguntem a Marco Silva, perguntem ao Inter e ao Leicester. Acredito que os próximos dias/semana não vão ser bonitos, mas é bem provável que leve a sua avante. A conta bancária do Sporting agradecerá, a reputação do clube se calhar nem tanto. Tranquilidade até o assunto estar encerrado, nem pensar.

Não vou agora entrar em comentários sobre se concordo ou não com a saída do treinador. Enquanto adepto, acho que devo fazê-lo apenas após o próximo domingo. Há uma competição importante para ganhar. Mas percebo que a direção não se possa dar a esse luxo: 2018/19 já está aí ao virar da esquina e terá de ser muito bem preparada para minimizar os efeitos do catastrófico 3º lugar em que ficámos. Vai ser uma espécie de regresso a um passado nada distante: ao contrário dos últimos anos, os nossos adversários vão ter um orçamento bastante superior ao nosso. Todos os milhões vão contar.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Uma questão de justiça



Quando a bola rematada por Dennis embateu no bloco benfiquista e dirigiu-se lateralmente para fora de campo, batendo no solo e entregando o sexto título nacional de voleibol da história do Sporting, 24 anos após a última conquista e logo na época de regresso do clube à modalidade, instalou-se a loucura no Pavilhão João Rocha. Dennis e Garrett agarraram-se a quem vinha disparado do banco, Robinho ajoelhou-se junto à rede, Luke Smith atirou-se para o chão, Fidalgo desatou a correr em euforia sem rumo aparente à volta do recinto... e Miguel Maia, o campeoníssimo Miguel Maia, o melhor jogador português de sempre e uma das figuras do tricampeonato entre 1991/92 e 1993/94, que com esta vitória encerra uma carreira impar, correu direto para a bancada para abraçar Bruno de Carvalho, que no início do 5º set tinha descido do camarote para a primeira fila. Juntou-se-lhes de imediato José Pedro Monteiro.

Não é difícil perceber o motivo que levou Miguel Maia a ter esta atitude num momento tão especial como aquele. O Sporting sagrou-se campeão devido ao trabalho de toda a equipa técnica e devido ao esforço hercúleo dos seus atletas nestes cinco jogos de exigência máxima diante de um Benfica com imenso valor e garra, mas não seria justo ignorar um outro facto: não fosse este presidente, as condições que deu à equipa - falem na diferença de orçamentos, se quiserem, mas que outra forma tinha o Sporting de criar um grupo competitivo de forma instantânea contra adversários que andam há décadas nisto? - e a visão que tem para as modalidades, de certeza que não teríamos festejado este título ontem.

O Sporting venceu o seu primeiro campeonato no Pavilhão João Rocha e poderá vencer outro no andebol já no próximo domingo (virtualmente, não matematicamente porque as derrotas valem um ponto e é preciso marcar comparência nos restantes jogos) se vencer o Benfica, atual segundo classificado. Pavilhão João Rocha, um sonho antigo que parecia enterrado e que foi materializado num espaço de tempo que ninguém julgaria possível. Ninguém, com exceção da pessoa que teve a audácia e o engenho para, em tempo de vacas esqueléticas, desencantar as condições necessárias para que este belíssimo pavilhão se tornasse uma realidade: o presidente Bruno de Carvalho.

Independentemente de tudo aquilo que aconteceu no último mês, independentemente de todos os defeitos que lhe possamos apontar na forma como comunica, por mais anticorpos que a sua forma de estar possa causar, independentemente das críticas que lhe fiz muito recentemente... não posso, nenhum sportinguista pode negar-lhe esta justiça: não há ninguém que mereça mais do que ele festejar como festejou a conquista de ontem. Obrigado a todos os jogadores, foram enormes!, obrigado à equipa técnica e a todo o staff, e obrigado à direção e a este presidente por terem acreditado - quando mais ninguém acreditava - que tudo isto poderia ser possível.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Quiz Show

Um conceito inovador de concurso inventado pela CMTV, em que os concorrentes têm hipóteses infinitas até acertarem na resposta. Melhor ainda: a resposta não tem que ser certa ou errada, basta que seja a que o anfitrião quer ouvir. Tem tudo para ser um sucesso, como se pode ver no episódio piloto em que o concorrente foi Paulo Futre.

(obrigado, Férenc!)

EDIT 17h31m:

(via @designagreatme)

terça-feira, 10 de abril de 2018

Crise! Crise! Crise!

Crise de manhã

Após um domingo escaldante que começou com um comunicado da direção, atingiu o auge durante o jogo em Alvalade e continuou noite dentro com as reações de sócios, adeptos, rivais, jornalistas e comentadores ao que se sucedeu, não seria difícil de prever que a segunda-feira seria pródiga em novos desenvolvimentos. O que não estava à espera é que esses desenvolvimentos começassem logo pela fresca e da pior maneira possível.

Jaime Marta Soares, presidente da Mesa da Assembleia Geral, demonstrou, mais uma vez, que não faz qualquer ideia de quais são as suas responsabilidades enquanto PMAG, dando uma entrevista à TSF em que teceu fortes críticas a Bruno de Carvalho, referindo que "estão esgotadas as hipóteses da manutenção da atual presidência" e que "os sócios deram o sinal" para aquilo que se deverá seguir. Em vez de reunir com o resto dos elementos da Mesa de Assembleia Geral e dar a conhecer as decisões tomadas através de um comunicado ou de uma conferência de imprensa, Marta Soares foi a correr para uma rádio debitar opinião sobre o atual momento do clube. Ou seja, depois de uma crise iniciada por críticas públicas de Bruno de Carvalho e agravada pela resposta pública dos jogadores, o PMAG decide repetir a graça e dá uma entrevista que não serve qualquer propósito quen não seja ter novamente os holofotes apontados para si.

De referir a deselegância desta facada em Bruno de Carvalho, que publicamente sempre foi solidário com as suas constantes trapalhadas - nomeadamente quando meteu os pés pelas mãos nas contagens das votações da primeira AG do ano e acabou por criar as condições para que a contestação se elevasse bem acima do que seria previsível.

Marta Soares não consegue resistir: gosta de falar quando não deve e daquilo que não deve. Que marque a AG para destituição dos órgãos sociais, que aproveite o palco pela última vez, e se ponha a andar do clube de uma vez por todas. Não sei qual será o meu sentido de voto para a destituição da direção e do Conselho Fiscal, mas o da Assembleia Geral está mais que decidido: rua!


Crise à tarde

Os canais informativos decidiram dedicar toda a tarde à situação do Sporting. Como seria de esperar, foi um desfile de cartilheiros, oportunistas e aziados, como Carlos Severino, Zeferino Boal, Diamantino, Madeira Rodrigues, Ribeiro Cristóvão ou Joaquim Rita, entre muitos outros.

O destaque vai para Ribeiro Cristóvão, que disse que o Sporting está a passar a pior crise da sua história. Ou está cego pelo raiva que tem a Bruno de Carvalho ou tem a memória muito curta, porque o drama por que os sportinguistas passaram em 2013 foi incomparavelmente superior a este - na altura, era a sobrevivência do clube que estava em causa.

No entanto, creio que estas intervenções massificadas terão um efeito bastante diferente do esperado: o ódio que esta malta verterá no seu tempo de antena nas próximas semanas fará Bruno de Carvalho recuperar muita simpatia junto dos sócios. Os órgãos de comunicação social, na sua ânsia de ver sangue a jorrar, não percebem que apenas estão a relembrar os sportinguistas do asco que têm a estas figuras, pela alegria que transparece das suas vozes e das suas faces pela crise que o clube atravessa, e pelas memórias que recuperam do mal que fizeram ao clube durante anos. O presidente apenas tem de ficar calado a amealhar estas benesses.


Crise à noite

Mais debates (um dos quais incluiu José Roquette, um homem que, nitidamente, ainda não percebeu que os sportinguistas querem um clube bem diferente daquele que o seu projeto preconizava), mais programas de debate com os paineleiros do costume, e ainda... isto:


Mais uma vez, um nojo completo que seguramente não merecerá qualquer comentário do Sindicato dos Jornalistas. Não me parece que tenha valido a pena ter quebrado uma promessa feita aos sócios em AG ao falar com eles em direto na última quinta-feira...

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Um domingo em 4 atos

1. O comunicado da tarde

Bruno de Carvalho publicou novo comunicado na sua página de Facebook, desta vez em nome da direção do clube e da administração da SAD. Fez vários esclarecimentos sobre o que se terá passado nestes últimos dias, acusando os jogadores de não terem cumprido aquilo que teria ficado entendido para resolução do problema entre as duas partes e relembrando que estes não são exemplo nenhum em matéria de amor ao clube. Reafirmou que os jogadores continuam a estar sob alçada disciplinar, mas que revogou a suspensão por achar que isso não serviria os interesses do clube.

Em relação ao que foi escrito e à forma como foi escrito, não tenho grande coisa a apontar, e acredito que, na generalidade, corresponderá à verdade dos factos.

Mas tenho dois problemas em relação a isto. O primeiro é que esta marcha-atrás confirma a intempestividade e precipitação da primeira decisão, que eram mais que óbvias aos olhos da maior parte dos sportinguistas. O segundo problema é o timing escolhido, a apenas um par de horas de um jogo que já teria ingredientes suficientes para ser de enorme tensão. A única lógica que encontro na decisão de publicar o comunicado tão em cima da hora do jogo (e não imediatamente a seguir ao jogo, por exemplo) é ter sido uma tentativa de puxar os sócios e adeptos para o seu lado no momento em que as bancadas se decidissem pronunciar sobre o que se tem passado.

Uma observação ainda para o último parágrafo: 
"Quanto à Direcção do Clube e da SAD, continuaremos com o mesmo Esforço, Dedicação e Devoção a gerir estas instituições e a lutar pela verdade desportiva, que deve voltar a ser o foco de todos nós. Pois são casos como os vouchers, os e-mails, o E-toupeira ou os jogos para perder que nos podem também afastar do caminho da Glória que traçámos e pela qual trabalhamos diariamente, 24 horas, para conquistar."

Teria sido bom que Bruno de Carvalho tivesse isso em mente quando decidiu sair da primeira das duas AG's realizadas esse ano e exigir 75% de aprovação para a AG seguinte, e antes de escrever o post pós-Madrid. A não ser que surjam novos desenvolvimentos, há-de tardar que o foco volte a estar novamente centrado nos e-mails. Nas próximas semanas (e arrisco dizer meses) o tema principal será a instabilidade no Sporting. O presidente deu essa borla à comunicação social, que, como bem sabemos, não a desperdiçará.


2. Os apupos e os pedidos de demissão

Não apupei Bruno de Carvalho porque, apesar de tudo o que tem acontecido ao longo dos últimos dias, não me esqueço de tudo o que fez pelo clube desde que assumiu o cargo. No entanto, não critico quem o tenha feito porque, para todos os efeitos, é legítimo que os sócios e adeptos utilizem um dos poucos momentos que têm para expressar de forma direta a sua insatisfação.

Em relação aos pedidos de demissão que se ouviram, a conversa é diferente, porque o estádio não é o local apropriado. Quem quiser a destituição dos órgãos sociais deve agir em conformidade, organizando-se para recolher as assinaturas necessárias para convocar uma AG para o efeito. Tão simples quanto isso. E depois todos os sócios interessados decidirão.


3. Os jogadores

Aplaudi e apoiei os jogadores na mesma medida que aplaudi em qualquer outro jogo. Achando que foram injustiçados com um post totalmente desadequado, mereciam o apoio das bancadas - mas como devem ter sempre, incluindo os Bryans, os Rúbens e os restantes patinhos feios que são alvo de assobios fáceis noutras ocasiões -, e não mais do que isso. Era só o que faltava que não fossem a jogo e que não dessem o litro. 

Foram a jogo, deram o litro e ganharam o jogo confortavelmente. Souberam lidar com a pressão. Fizeram por merecer o nosso apoio.

Agora, fazer dos jogadores heróis por causa desta crise? Isso é que não. Estão de orgulho ferido pelo que o presidente lhes disse e estão espicaçados por isso? Tenho pena que não se sintam espicaçados de igual forma quando lhes anulam golos limpos - como ainda ontem aconteceu -, que não façam comunicados conjuntos quando os árbitros ou as instâncias disciplinares escolhem um deles para dar o exemplo enquando vão poupando outros jogadores de outros clubes em situações idênticas, ou quando se viram espoliados de um campeonato em 2015/16 da forma que todos sabemos. Aí a sua visibilidade poderia ser bastante útil para o clube (vejam o que tem feito Casillas, por exemplo), e aí, sim, seria uma demonstração de grande brio e vontade de ajudar o clube. Mas infelizmente, nesses momentos, suponho que tenham ficado sempre sem bateria nos telemóveis.

Atenção, reforço: nada contra os jogadores, pelo contrário. Mas se acham que serão os jogadores os principais defensores do clube em tudo o que estiver ao seu alcance... é melhor pensarem duas vezes. Gostaria de ter visto esta mesma solidariedade em prol dos interesses do Sporting noutras ocasiões e não apenas quando se sentem atacados pelo presidente.


4. A conferência de imprensa de Bruno de Carvalho

Mais uma vez, demonstrou que não tem medo de dar a cara nos momentos complicados. E duvido que tenha havido momento mais complicado do que este desde que é presidente. No entanto... será que foi útil fazê-lo?

Disse duas coisas importantes e o resto foi uma total perda de tempo. O seu e o de quem o ficou a ouvir. 

Primeira coisa importante: disse que não se vai demitir.

Segunda coisa importante: não percebe a importância que as pessoas estão a dar ao post pós-Madrid. 

Em relação à primeira, está no seu direito e, em certa medida, era expectável. Em relação à segunda, é assustador que Bruno de Carvalho se recuse a (ou não consiga) perceber a dimensão do erro que cometeu, e perceber também que esta faceta da sua personalidade está a atropelar todas as suas qualidades e que, mais cedo ou mais tarde (provavelmente mais cedo do que mais tarde), causará a sua queda da presidência. Nas condições atuais, no estado atual em que o presidente se parece encontrar, nenhum sportinguista consegue prever quando provocará a próxima grande crise, e são muito poucos aqueles que conseguirão conviver com essa instabilidade. Eu não consigo. E é trágico que assim seja, e que isso possa vir a suceder, considerando toda a obra feita, todos os obstáculos que teve de superar para tornar o Sporting um clube competitivo e (sim, mesmo que os rivais o neguem escarnecendo) temido. É trágico porque dificilmente voltaremos a ter um presidente com o mesmo nível de dedicação e determinação, e com uma visão tão certa daquilo que o Grande deve ser.

Que desperdício.

sábado, 7 de abril de 2018

Instagram vs Facebook

Ainda estou a tentar perceber como é que uma derrota no estádio de uma das melhores equipas europeias dos últimos anos se transformou, de forma quase instantânea, numa espécie de apocalipse leonino. Os stocks de bom senso parecem ter-se esgotado em Alvalade a partir do momento em que vemos um assunto tão delicado - que devia ser tratado no interior do clube - a ser transformado numa espécie de duelo Instagram vs Facebook. É urgente que alguém consiga restaurar alguma racionalidade em ambos os lados, de forma a que o clube possa retomar a normalidade possível para atacar as três competições em que ainda está inserido.

Recuso-me a tomar partido por qualquer um dos lados porque ninguém é totalmente inocente nesta história. Nem sequer os jogadores, que podiam ter evitado esta tomada de posição pública e procurado dirigir os seus protestos pelos canais (internos) adequados. São as estrelas do clube mas não deixam de ser assalariados do clube e, definitivamente, não estão acima do clube. Ainda assim, é óbvio que existe um principal responsável por este clusterfuck: o presidente, que, sem motivo aparente, decidiu atear o rastilho que fez explodir o barril de pólvora que deixou o mundo sportinguista em chamas e não foi capaz (ou não teve interesse) de fazer um controlo de danos rápido de forma a não comprometer os objetivos que ainda existem para esta época. Pelo contrário, tudo o que fez a seguir ao post só veio piorar a situação.

A decisão de suspender a maior parte do plantel é incompreensível e totalmente desproporcionada. Em primeiro lugar, devia lembrar-se que os jogadores, ao anunciarem a sua posição de forma pública, não fizeram mais do que seguir o exemplo que vem de cima. Depois, está a desvalorizar ativos importantes do clube, passando para fora uma falsa ideia de falta de profissionalismo. E finalmente, está a danificar a imagem do clube, bastando para isso constatar o mediatismo que esta novela está a ter em todo o mundo.

Para resolver o problema no imediato terá de haver bom senso e cedências de parte a parte, admissões de erros, o quer que seja. Ir com a equipa B a jogo no domingo não é solução para nada, apenas vai piorar a situação, e isso tem de ser evitado a todo o custo. Primeiro há que recentrar o plantel nos objetivos em aberto para depois, então, se pensar na grande questão de fundo: depois do que se passou, que espaço ainda existe para Bruno de Carvalho no Sporting?

Como é que se estourou todo o capital de confiança dado pelos sócios num espaço de tempo tão curto? Juro que não sou capaz de compreender.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Conselho de amigo para o presidente

Bem, na verdade não posso dizer que sejamos amigos, mas fica aqui um conselho de alguém que admira o trabalho que tem feito: faça um favor a si próprio e largue o Facebook de uma vez por todas. Posts como o que escreveu há pouco ou como o que escreveu ontem minam, de uma forma que nem imagina, a opinião que os sportinguistas têm da sua presidência. Aliás, a última semana tem sido, toda ela, para esquecer.

Até agora, os créditos do trabalho feito têm sido mais do que suficientes para superar a questão da forma como comunica. Mas esses créditos não são vitalícios: precisam de ir sendo constantemente renovados, serão influenciados por uma exigência crescente e também pela saturação que esta forma errática e errada de comunicar vai criando nos sportinguistas - mesmo naqueles que sempre o apoiaram. Pode não fazer grande diferença hoje, no próximo mês ou até no ano que vem, mas poderá fazer a diferença quando aparecerem alternativas que os sportinguistas considerem credíveis.

Já agora, espero que este último post que escreveu não vá minar também o ambiente no balneário. Se acredita no grupo de trabalho que formou, defenda-o publicamente e critique-o em privado sempre que julgar necessário - ainda que, em primeira instância, deva ser o treinador a fazê-lo. Não é apontando publicamente o dedo a atletas que têm dado tudo semana após semana e mandando bitaites sobre opções que um determinado jogador no momento da finalização que vai ser respeitado pelos seus subordinados. É um princípio básico de gestão de equipas.

Aprecio que o Bruno de Carvalho-presidente tenha muito de Bruno de Carvalho-adepto, mas já devia saber que há momentos em que o primeiro tem de trancar o segundo numa divisão onde não haja hipótese de contacto com o mundo exterior.

P.S.: depois de ter escrito isto, fui ao Twitter e fiquei a saber que telefonou para a CMTV para falar em direto. Olhe, presidente, bardamerda para si.

A conferência sobre a violência no desporto

A Assembleia da República organizou uma conferência sobre a violência no desporto. Foram convidados os diretores dos desportivos para moderarem os vários painéis, que contaram com oradores divesos, como responsáveis de várias instituições e associações (entre os quais incluem-se os presidentes da FPF, da Liga, do Sindicato de Jogadores e da APAF), o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, representantes das forças policiais, e ainda elementos da comunicação social, como diretores e editores das equipas de informação/desporto da RTP, SIC e TVI, um vogal da ERC e a presidente do Sindicato de Jornalistas. Várias outras pessoas assistiram ou participaram das bancadas, com o destaque óbvio para os presidentes de Sporting e Benfica.

É um debate importante que tinha (e continuará a ter) de ser feito, mas que, ou muito me engano, nada de novo trará ao futebol. Aliás, a ideia principal que ficou no final... foi a hipocrisia de muitos dos intervenientes. 

Começo por Fernando Gomes, cuja principal ideia lançada foi a criação de uma entidade autónoma que se foque exclusivamente neste problema. Não consigo deixar de perguntar em que realidade paralela tem o presidente da FPF vivido nos últimos anos. Fernando Gomes, devido à sua inação, é um dos principais responsáveis - se não o principal - pelo assobiar para o lado que tem acontecido na Federação. O CD e o CJ têm meios para punir muitos dos tristes acontecimentos que têm ocorrido nos últimos anos, mas têm optado por aplicar sistematicamente medidas punitivas leves: por exemplo, quando um adepto entrou no Dragão no Porto-Benfica para tentar agredir intervenientes do jogo, nas muitas ocaisões em que adeptos benfiquistas lançam objetos pirotécnicos para zonas onde estão jogadores adversários, elementos das equipas de arbitragem ou adeptos da equipa adversária - sendo que o caso mais grave deste género até foi causado por adeptos do Braga, que atiraram um petardo que acertou num jogador do Moreirense que festejava um golo na final da Taça da Liga da época passada -, ainda no sábado passado o árbitro Luís Godinho foi atingido por um objeto no Braga - Sporting... e nunca houve coragem para interditar os respetivos estádios. Estão à espera de quê? Que aconteça mais uma tragédia?

Convém também não esquecer que é o mesmo Fernando Gomes que patrocinou a ideia peregrina de formar e patrocinar uma claque da seleção, formada com elementos dos grupos de adeptos que são uma parte dos problemas que estiveram em debate - ainda que a milhas dos problemas criados por outras claques ilegais. Ou seja, quando lhe dá jeito, não deixa de alimentar os mesmos grupos que agora quer, supostamente, controlar de forma mais rígida.

Também falou o presidente da Liga, o líder do organismo que achou boa ideia que se realizasse o Sporting - Benfica no dia seguinte ao assassinato de Marco Ficcini. A propósito, alguém se lembra da punição que o Benfica sofreu por causa dos cânticos ofensivos que os adeptos benfiquistas fizeram durante o minuto de silêncio? Pois...

Parece-me que, no geral, ninguém deu grande relevância ao que foi dito na conferência - basta ver como a maior fatia de atenção acabou por ser dedicada à presença dos presidentes de Sporting e Benfica, que ocupou um espaço mediático muito superior a tudo o resto. O que nos leva a outra questão importante que acredito que terá sido ignorada pelos elementos da comunicação social que participaram na conferência: o seu papel em tudo isto.

Não concordo com Bruno de Carvalho quando este disse que o discurso dos presidentes não contribuem para a existência de animosidade e comportamentos violentos por parte dos adeptos, pois parece-me óbvio que as palavras inflamadas e as acusações de parte a parte são um potente combustível para o estado de crispação que se vive. No entanto, concordo inteiramente nas acusações que Bruno de Carvalho fez à comunicação social, que, como muito bem sabemos, faz questão de alimentar as polémicas recorrendo a pirómanos comunicacionais profissionais. Há muito que a esmagadora maioria dos espaços noticiosos e de debate sobre futebol deixaram de ter qualquer valor informativo, dando lugar a entretenimento rasteiro, já que os jornalistas/comentadores/notáveis, em vez de serem escolhidos pelo seu profissionalismo e competência, são, na sua maioria, "colocados" por cunhas de clubes e pela apetência que têm para criar momentos televisivos virais. Ou seja, são espaços que passaram a ser dominados por cartilheiros e palhaços, que vendem fake news e dizem as maiores barbaridades que se possam imaginar sobre os adversários. Há muito que deixou de haver limites para estes indivíduos, que são, sem sombra de dúvida, os maiores promotores da crispação existente.

Basta ver, aliás, a forma como a TVI abriu o jornal da noite de quarta-feira: o tema escolhido foi a conferência sobre a violência, mas abordaram exclusivamente a acusação feita por Bruno de Carvalho à comunicação social... e terminando com um resumo das frases mais polémicas do presidente do Sporting desde que assumiu funções. 


Como puderam ver, sobre a conferência propriamente dita, nem mais uma palavra. Isto é jornalismo sério? Obviamente que não. Sentiram-se ofendidos e decidiram, em vez de informar, alimentar ainda mais a polémica.

Este comportamento da TVI não deixa de ser sintomático do estado das coisas. Apenas demonstraram que, efetivamente, estão-se a borrifar para o que se passa no futebol, desde que isso dê audiências e o seu orgulho permaneça intacto. Entrento, nessa mesma noite, o canal de "informação" da TVI emitiria um especial sobre o Benfica. Participantes: Pedro Guerra e João Malheiro, acabando prematuramente devido à saída deste último em direto por se sentir ofendido pelo primeiro. Isto é que é serviço público, TVI!


segunda-feira, 26 de março de 2018

Como o Mundo ficou pequeno (@3295c_)

Novo texto do @3295c.




Cumprem-se cinco anos de Bruno de Carvalho como Presidente do Conselho Directivo do Sporting Clube de Portugal. Fazendo uma observação mais genérica do que é hoje o Clube e recuando precisamente cinco anos e fazendo o mesmo exercício, facilmente se percebe que as duas realidades são bastante diferentes.

As diferenças são tantas que até o orgulho de ser Sportinguista, para muitos, saiu do armário. Revela-se cada vez mais e em várias ocasiões e circunstâncias. Continua o futebol a ser motivo de encolher-se os ombros pelo título que ora foge ora é negado, apesar do mérito e da qualidade. 

No entanto, até no futebol a realidade da equipa principal era muito diferente da que hoje encontramos. Não apenas no plano financeiro, da valorização dos activos, mas também no desportivo. Fábio Coentrão e Jérémy Mathieu trocaram o Real Madrid e o Barcelona, respectivamente, pelo Sporting, o que dispensa comentários.

As diferenças de realidades, separadas por cinco anos, são de tal forma abissais que até alterou a paisagem da cidade de Lisboa e a sua toponímia. Agora há uma rotunda Visconde de Alvalade, que a Câmara Municipal de Lisboa prestou a devida homenagem e tributo.

Veja-se a forma como decorre a celebração do centenário de Peyroteo, com a informação impressionante que tem sido divulgada, em termos de números, oficiais, que realmente não deixam dúvidas quanto à grandeza dessa verdadeira máquina de golos. Que coincidiu com a atribuição de uma Quina de Ouro de carreira e prestígio, por parte da Federação Portuguesa de Futebol. Um assinalável reconhecimento, mas que deverá apenas ser o início de muitas outras formas. Peyroteo merece e por uma razão simples: foi mesmo o maior de todos os tempos e não apenas em Portugal.

Fecho com o maior evento, no que à internacionalização do Clube diz respeito, que irá decorrer este ano: as comemorações dos 40 anos da visita do Sporting à China.

Não tenho dúvidas que se trata do maior evento porque as entidades envolvidas, a exposição itinerante – irá para Pequim no dia 10 de Junho e ficará no Ministério do Desporto –, que foi inaugurada recentemente à entrada da Tribuna Presidencial de Alvalade e até o simbolismo da digressão assim o determinam.

Foto: César Santos/Jornal Sporting
O Sporting, com João Rocha como Presidente, foi à China em Junho de 1978 numa altura em que o país estava completamente fechado a tudo o que estava relacionado com o Ocidente. Para se ter uma ideia, na música, o único som que era permitido ouvir era a 9.ª Sinfonia de Beethoven. Por exemplo, só a 1 de Janeiro de 1979 é que os Estados Unidos reconheceram Pequim como a capital da República Popular da China, uma vez que até então era Taipei o local onde, inclusive, estava situada a embaixada norte-americana.

Com a expansão das Academias e fazendo valer o forte código genético da formação, que levou 10 Aurélios a trazerem um título europeu para o país, Bruno de Carvalho assume-se como o Presidente que superou o paradigma do fundador. A fasquia, agora, já não é ser tão grande como os maiores da Europa e o Mundo parece agora pequeno.

Sem nenhum mas, algum porém, qualquer no entanto ou um todavia, só há uma pergunta que fica por fazer e cuja resposta será dada por cada um, Sócio, adepto ou até rival, numa assumpção inequívoca de que tudo está diferente: para melhor ou pior?

quarta-feira, 21 de março de 2018

Zero shades of grey


"Os presidentes dos três grandes fazem o pleno na justiça: todos arguidos". A imagem acima refere-se ao comentário de ontem de Rui Pedro Braz sobre a notícia de Bruno de Carvalho ter sido constituído arguido num processo de difamação que lhe foi colocado por João Paiva dos Santos. A ideia principal que o comentador da TVI24 tentou transmitir foi precisamente a que a frase indica: nenhum adepto pode apontar o dedo aos outros clubes porque todos os presidentes se sujeitam, no decurso dos seus mandatos, a serem arguidos.


Do meu ponto de vista como sportinguista, considero que aquilo que João Paiva dos Santos fez é imperdoável. Tem todo o direito de querer ser oposição à direção atual, mas, para mim, um sportinguista que, num período de guerra aberta com o Benfica, decide aliar-se ao Guerra contra o seu próprio clube, não tem lugar no Sporting. Bruno de Carvalho não costuma ser suave e diplomático nos seus posts, mas se é este que esteve na base do processo (LINK) então não me parece que tenha dito grandes mentiras.

A linha de argumentação seguida por Braz não é nova. A generalização tem sido uma técnica abundantemente utilizada - e em especial nos últimos meses - de forma a atenuar os incidentes de uns e agravar os incidentes de outros. Estar a colocar ao mesmo nível um caso de corrupção de um juiz ou de um oficial de justiça - com escutas, mensagens de Whatsapp e outras provas materiais recolhidas em buscas a suportar as suspeitas - com um caso de difamação é a mesma coisa que colocar ao mesmo nível um Bruno Fernandes, um Brahimi ou um Jonas com um caceteiro das distritais. Em última análise são todos jogadores de futebol, mas nunca podem ser misturados na esmagadora maioria dos contextos.

O mundo não pode ser visto a preto e branco, pois existe uma infinidade de tonalidades de cinzento entre os dois extremos. No contexto atual, quem se puser a equiparar - de qualquer forma que seja - a situação judicial dos três presidentes, não estará a fazer mais do que passar um atestado de estupidez ou de desonestidade a si próprio. Infelizmente, vi muito disso, quer em blogues benfiquistas, quer no Twitter, mas não posso dizer que tenha ficado surpreendido.

quarta-feira, 14 de março de 2018

A inigualável capacidade transformadora do futebol português

Convidada esta terça-feira por um deputado do PSD a comentar as recentes declarações de Luís Filipe Vieira que prometiam "agir criminalmente" contra jornalistas que coloquem "em causa o nome do Benfica", a presidente do Sindicato dos Jornalistas, Sofia Branco, respondeu que as mesmas não merecem particulares motivos de preocupação.

Em audiência na Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, que teve lugar na Assembleia da República, em Lisboa, a propósito das recentes declarações de Bruno de Carvalho contra os jornalistas, a líder sindical estabeleceu uma distinção clara entre o conteúdo das frases de Luís Filipe Vieira e as do presidente leonino.

"As declarações [de Bruno de Carvalho] tiveram logo consequências", começou por responder Sofia Branco, aludindo às tentativas de agressão a jornalistas que se seguiram, no exterior do Pavilhão João Rocha. "O conteúdo foi também diferente. [Luís Filipe Vieira] Disse que vai recorrer à justiça e tem toda a liberdade para o fazer. Não disse para se deixar de comprar jornais", explicou ainda a sindicalista, acrescentando que o sindicato apenas se irá pronunciar em situações extremas e não a cada intervenção dos clubes.



Ora, vamos lá fazer um ponto de situação.

Bruno de Carvalho apela aos sócios do clube que dirige a não consumirem determinado tipo de jornalismo - numa decisão que, em última análise, cabe sempre a cada indivíduo de forma completamente livre, e que de forma alguma condiciona o trabalho dos jornalistas.

O Sindicato dos Jornalistas reage da seguinte forma: 

"tentativa de limitar a liberdade de imprensa"

"declarações antidemocráticas"

"Bruno de Carvalho revela não conviver bem com a comunicação social e, consequentemente, com a liberdade de imprensa"

"é fundamental que as direcções dos órgãos de comunicação social adoptem uma resposta firme e colectiva"

Menos de um mês depois, Luís Filipe Vieira ameaça os jornalistas que publiquem notícias que prejudiquem a marca do Benfica - sejam factuais ou não - com processos judiciais imediatos.


A presidente do Sindicato dos Jornalistas reage da seguinte forma:

"Disse que vai recorrer à justiça e tem toda a liberdade para o fazer. Não disse para se deixar de comprar jornais."

Isto entra facilmente para o top das declarações mais absurdas que já se ouviram de um representante de uma classe profissional. Não há problema se os jornalistas forem entupidos com processos judiciais por um clube com imensos recursos jurídicos. Grave, grave, é se alguém disser algo que coloque em causa o dinheiro que entra nos bolsos dos seus patrões.

A cada dia que passa vou ficando mais surpreendido pela capacidade transformadora do futebol português: já se sabia que tem o condão de converter aldrabões em estadistas, mas pelos vistos também tem a capacidade de converter sindicalistas em paladinos do liberalismo económico. Suponho que se o Gandhi fosse vivo e fundasse um clube por cá, seria uma questão de pouco tempo até o transformar numa cópia do Canelas...

quarta-feira, 7 de março de 2018

Citius, altius, corruptus & Apontamentos de brunologia


Mais dois excelentes textos de José Diogo Quintela (um de hoje, outro da semana passada) publicados no Correio da Manhã:



CITIUS, ALTIUS, CORRUPTUS

Passaram 24 horas desde que o braço direito de Luís Filipe Vieira foi preso por suspeita de corromper funcionários judiciais para favorecimento do Benfica e, escandalosamente, ainda ninguém se demitiu. Como é óbvio, refiro-me à demissão de Bruno de Carvalho.

Este caso é resultado da presença daninha de BdC no futebol português. Até BdC chegar, reinava o fair-play e nunca alguém se lembraria de subornar. Desde que apareceu, isto transformou-se numa latrina.

Há que continuar a denúncia do repugnante Kim Jong-un de Alvalade. Rua com o Bruno, o malvado que, com o seu Facebook, obrigou os rivais a montarem esquemas corruptos! Queremos o futebol português de volta.



APONTAMENTOS DE BRUNOLOGIA

Escrevendo aqui, infrinjo a directiva de Bruno de Carvalho? Claro que não. Ele sabe que a sua função não é ser censor e sabe que os comentadores sportinguistas nunca acatariam a ordem, pois são livres. Se fossem avençados do clube, então sim, obedeceriam, para evitar despedimento por justa causa. Diria que BdC pretendeu destacar este tipo de arranjinhos, mas sou apenas brunólogo amador (o meu otorrino não me deixa estudá-lo durante muito tempo).

Não é para levar a sério. Tanto que as instruções são imprecisas: ou só se vê TV por lazer, ou vê-se o Sporting. Uma das duas. Sofrer como com o jogo de Tondela não é lazer. (Mas, se alguém levar a sério, também é bom. Não ver TV à noite significa que daqui por nove meses começam a nascer leõezinhos e em breve somos o clube com mais adeptos).

BdC quis (além de berrar, BdC gosta muito de berrar) alertar para a parcialidade do jornalismo, que realça o que de mau se passa em Alvalade e desvaloriza o que de pior se passa noutros clubes.

E não é que o jornalismo lhe deu razão? Talvez acordados pelos berros, os mesmos articulistas, que, por norma, ignoram o futebol, desataram a denunciar BdC. (Já agora, posso pedir mais variedade nas analogias ditatoriais? Porquê insistir no enfadonho ‘Kim Jong-un’, se há bons tiranos como Átila, Franco ou Mao? Dar-se-ia opinião e também aula de história).

A reacção dramática da imprensa, como se fosse morrer alguém por causa do futebol, é desajustada. Porquê? Por ser dramática, ao contrário da reacção quando morreu mesmo alguém por causa do futebol. Há um ano, um adepto foi morto por um membro das claques do Benfica. Claques que o Presidente do Benfica nega existirem, apesar de, sabe-se agora, lhes pagar advogados – e não é para tratar de multas de estacionamento, a não ser que seja estacionamento em cima de italianos.

Sabe-se, pois vem nos mails. Como vêm os indícios de que o Benfica controla observadores, árbitros, jornalistas, subdirectores de jornais, comentadores, dirigentes federativos e jogadores adversários. Sabe-se ainda que ameaça processar quem investigue os mails – ameaça séria, se pensarmos que o Presidente do Benfica pode ter conta-corrente com um juiz corrupto. Além de um informador na Justiça, que dá sempre jeito.

Sabe-se isso tudo e, mesmo assim, a CS não liga aos indícios de crime e acha que grave é um Presidente grosseiro que se queixa que a CS não liga a indícios de crime. QED.

Se BdC planeou isto, digo-lhe: ‘Espectacular, Presidente!’ Não é pelo elogio, é para citar o dirigente do FC Porto que gabou Pinto da Costa quando este ditou uma notícia falsa a um jornalista de ‘O Jogo’. Vale sempre a pena recordar os bons velhos tempos do Apito Dourado, em que o futebol português era digno e não a baixeza em que se tornou à conta do Pol Pot do Lumiar. (Vêem, colegas cronistas?)

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Sporting Clube de Pyongyang e Bruno de Carvalho, o pequeno ditador




Na passada quarta-feira, o jornal Público apontou as baterias para o discurso de Bruno de Carvalho no encerramento da última assembleia geral. Como se pode ver, os termos não foram nada meigos: em dois espaços de opinião, Bruno de Carvalho e o Sporting foram comparados ao regime nortecoreano, à Alemanha nazi, à Itália de Mussolini, à Santa Inquisição e à IURD. O presidente do Sporting, em particular, foi acusado, de forma bastante colorida - com recurso a analogias que referem alguns dos piores episódios da história da humanidade -, de querer controlar o pensamento dos sportinguistas e de punir sem piedade todos aqueles que não seguirem as instruções dadas.

Estas comparações são a parte mais insultuosa para Bruno de Carvalho e para a instituição Sporting - e, por inerência, a muitos dos seus sócios e adeptos. Mas eu, sócio que esteve presente na AG e que votou a favor dos três pontos em apreciação, sinto-me também insultado pelos atestados de estupidez que me foram passados pelo diretor David Dinis e pelo colunista João Miguel Tavares. Os trechos a que me refiro são:
"O presidente de um clube que pôs 90% dos associados numa assembleia geral a aceitar dar-lhe plenos poderes de julgamento, sem que algum deles saiba sob que critério serão utilizados."
"É certo (...) que apenas seis mil sportinguistas subscreveram as suas posições em assembleia geral (falta ainda escutar a opinião de 99,82% dos adeptos)"

Mais valia terem-me chamado carneiro e ignorante. Pelo menos poupavam algumas linhas de texto.

Sou apoiante de Bruno de Carvalho, mas o meu apoio não é, nunca foi, nem nunca será incondicional. Sei avaliar a qualidade do trabalho que tem sido feito por si e pela direção - quer o bom, quer o mau -, e consigo identificar virtudes e defeitos importantes na sua personalidade. Votei a favor dos três pontos em função das expectativas que tenho do uso que será dado aos poderes que estou a dar aos órgãos sociais com o meu voto - expectativas essas que se baseiam em cinco anos de acompanhamento muito próximo do trabalho e das decisões tomadas ao longo destes cinco anos. Na realidade, expectativas bastante melhor formadas do que aquelas em que o cidadão comum se baseia quando, por exemplo, se desloca às mesas de voto para umas eleições legislativas - não só não sabe que deputado está a eleger, como sabe muito pouco do Governo que poderá ser formado com a contribuição do seu voto. Sabe quem é o candidato a primeiro-ministro e conhece, de forma relativamente vaga, os pontos principais do programa de governo que foi proposto. E também nunca vi um Governo perder ou ganhar legitimidade em função do nível de abstenção registado. Para a realidade das AG's de clubes, esta foi bastante concorrida, pelo que não faz qualquer sentido que se questione a legitimidade das decisões tomadas por não terem estado presentes 99,82% dos adeptos. Aliás, nem faz sentido que, neste contexto, se fale em adeptos. Só os sócios podem votar.

Existe sempre uma certa dose de incerteza em qualquer eleição ou processo de escolha. Neste caso, os últimos cinco anos dão-me uma segurança razoável de que não haverá abuso de poder. Apesar de já existirem meios para punir sócios, apesar de o presidente ser um homem que nunca foi poupado no momento de apontar o dedo perante críticas que lhe façam, apenas dois - Godinho Lopes e Paulo Pereira Cristóvão - foram expulsos desde que Bruno de Carvalho assumiu o cargo de presidente - e nenhum dos casos foi por delito de opinião. A meu ver, até é um número que peca por escasso. Não desejo nem acredito que algum sócio venha a ser expulso por criticar - ou até injuriar - a atual direção, pois é uma punição que deve ser reservada para quem causa grandes danos ao clube ou comete atos de traição. Portanto, os poderes existentes têm sido utilizados com bom senso, e, respondendo a David Dinis, tenho boas razões para acreditar que será isso que se continuará a verificar.

Sabem a expressão "os entendedores entenderão"? Pois bem, os entendedores - aqueles que, gostando mais ou menos do homem, percebem a perseguição de que o Sporting tem sido alvo por parte da generalidade da comunicação social desportiva - entenderam o que Bruno de Carvalho queria dizer. 

Interpretar o discurso de Bruno de Carvalho como uma espécie de manifesto fascista com o propósito final de controlar informação, opiniões e ações dos associados e adeptos é um enorme exagero que apenas denuncia, na realidade, quem faz essa acusação. Só mesmo quem se deixa cegar pelo estilo de Bruno de Carvalho é que pode afirmar de forma peremptória algo que, na realidade, é impossível de pôr em prática. Como é que Bruno de Carvalho pode monitorizar os canais de televisão que uma pessoa vê em sua casa? Ou os jornais que o adepto compra quando passa por um quiosque? Ou as estações de rádio que o sócio ouve no carro? Ou os links em que todos eles carregam quando estão em frente a um computador? Em primeira, segunda, terceira e última análise, a decisão cabe única e exclusivamente a cada um dos indivíduos, sem coações de qualquer espécie. E, acima de tudo, Bruno de Carvalho não está a fazer qualquer imposição aos órgãos de comunicação social - outra característica dos regimes ditatoriais -, que poderão continuar a escrever e dizer tudo o que quiserem em total liberdade. Sujeitam-se é que os sportinguistas, usufruindo dessa mesma liberdade, não consumam o seu produto caso persistam em manter a sua falta de isenção e total desonestidade intelectual.

Não sei se David Dinis ou João Miguel Tavares são católicos praticantes, mas deviam olhar para o apelo de Bruno de Carvalho com maior benevolência do que as imposições que a Igreja Católica faz ao, por exemplo, proibir o uso de meios anticoncecionais. Sendo católicos, como aceitam isso? Seguem à risca? Ou permitem-se tomar algumas liberdades extra-doutrinárias em função das suas crenças pessoais? Seja uma ou outra a escolha, também acusam a Igreja de ser uma instituição fascista?

Não faz qualquer sentido, pois não?

Bruno de Carvalho apelou, não ordenou. Há alguma coisa de errado em sugerir aos sportinguistas que deixem de consumir o lixo diário que as televisões e os jornais emitem, como programas de paineleiros, programas de informação pseudo-independente que contam com a participação de vários cartilheiros, colunas de opinião de jornalistas desonestos que estão a soldo dos interesses de certos clubes? Pelo contrário, fez muito bem em fazê-lo. A carteira e a sanidade mental de muitos sportinguistas agradecem. 

Perante a constatação de que nada do que foi feito até agora tem travado a perseguição da comunicação social ao clube, sugeriu que os sportinguistas os atingissem no seu ponto mais sensível - o seu bolso. Aliás, a imediata e enérgica reação corporativista da classe dos jornalistas e dos órgãos de comunicação social - que sempre se mantiveram calados perante o atropelo diário do código deontológico de muitos dos seus membros - demonstra a enorme preocupação que a sugestão de Bruno de Carvalho lhes causou. Percebe-se facilmente o motivo: o mercado encolhe ano após ano face ao aumento sistemático de opções de consumo, e não é nada conveniente que percam nova fatia significativa das vendas ou audiências.

Em última análise, a carga insultuosa que pode ser observada nos artigos de opinião de David Dinis e João Miguel Tavares ajudam a perceber que, se calhar, Bruno de Carvalho tem mesmo razão: por muito radical que tenha sido a sua proposta de boicote, fica abaixo dos níveis de radicalismo que são dirigidos contra o Sporting numa base diária.