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segunda-feira, 18 de julho de 2016

De 'Jorges Mendes' a Aurélios'


Há uns dias, Leonor Pinhão escreveu este texto, em que deixa subentendida uma suposta incoerência dos sportinguistas: os mesmos que costumam acusar a FPF de estar ao serviço de certos interesses de Jorge Mendes, acabaram, após a conquista do europeu, por reclamar uma significativa fatia do êxito para a formação de Alcochete.

Leonor Pinhão pode escrever o que entender, mas não tem razão. Não existe incoerência nenhuma, porque tanto a influência de Mendes nas convocatórias, como a importância dos jogadores formados no Sporting no sucesso do Euro 2016 são factuais, e de forma alguma são incompatíveis. Quando muito, valoriza ainda mais a forma como os jogadores com origem no Sporting conseguiram impor-se na seleção. 

Jorge Mendes é, indiscutivelmente, um empresário capaz de atrair muitos dos melhores talentos do futebol mundial para a sua carteira de clientes, mas isso não implica que todos os jogadores que representa sejam melhores do que aqueles que não representa. E, não colocando em causa a ética de todos os selecionadores e equipas técnicas que estão ou estiveram recentemente na FPF, não acredito que a influência do super-empresário não se faça sentir no seu trabalho de alguma forma, mais ou menos direta.

No Euro 2016, em concreto, todos perceberam que os jogadores atualmente ou recentemente ligados ao Sporting foram, genericamente, segundas opções. Apesar do excelente final de época, rapidamente se percebeu que Fernando Santos não pensava apostar em William, que ficou no banco no jogo inaugural. João Mário foi titular contra a Islândia, mas foi o primeiro a ser sacrificado após o empate com a Islândia - apesar de não ter estado pior que Moutinho ou André Gomes, que se mantiveram no onze durante toda a fase de grupos. Cédric Soares e Adrien só tiveram a sua oportunidade ao 4º jogo, apesar de nem Vieirinha, nem Moutinho, nem André Gomes terem convencido em algum momento nos três primeiros jogos. Cédric e Adrien apenas foram lançados - a frio - porque era fundamental que alguém anulasse Perisic e Modric, dois dos melhores jogadores do torneio na fase de grupos.

Nada disto é novidade. Como esquecer a opção de Carlos Queiroz em deixar João Moutinho de fora do Mundial 2010? Que, recorde-se, também preferiu convocar Daniel Fernandes (quem?, perguntarão muitos), deixando de fora Rui Patrício. Ou as aberrantes escolhas de Paulo Bento para o Mundial 2014, quando decidiu deixar de fora Cédric e Adrien (que tinham realizado épocas brilhantes com Leonardo Jardim) para levar André Almeida e Rúben Amorim. O mesmo Paulo Bento que só lançou William Carvalho no 2º jogo do mundial, quando André Almeida se lesionou e se viu obrigado a colocar Miguel Veloso como lateral esquerdo (já não tinha Fábio Coentrão). O mesmo Paulo Bento que deu a primeira internacionalização a Ivan Cavaleiro (três meses depois do seu 3ª e último jogo como titular do Benfica para o campeonato) e que levou Nélson Oliveira ao Euro 2012, sem que nada no seu rendimento justificasse essa oportunidade.

Ainda poderíamos mencionar outros casos mais recentes, já na época de Fernando Santos: Nélson Semedo foi titular num jogo decisivo na Sérvia, menos de dois meses depois de se estrear na I Liga, e Gonçalo Guedes foi titular num particular com a Rússia ao fim de três meses de utilização regular no Benfica. Gelson Martins e Rúben Semedo, por exemplo, não tiveram direito a benesse idêntica, apesar de não terem demonstrado rendimento inferior em campo.

Isoladamente, podemos sempre encontrar justificações para as decisões acima referidas. Mas em conjunto, é totalmente óbvia a existência de dois pesos e duas medidas nas escolhas dos convocados.

Este tipo de gestão de convocatórias só é possível graças à inexistência de uma comunicação social crítica, que questione verdadeiramente os resultados visíveis destes jogos de interesse. Pior, parte dessa comunicação social é parte do aparelho, funcionando como primeira linha de cobertura destas escolhas: promovendo jogadores, elogiando o rendimento de alguns muito para além do que é justificado, e rebaixando outros - estabelecendo o ambiente ideal para que tudo isto pareça normal. Não me consigo lembrar de melhor exemplo do que este, poucos dias antes de Paulo Bento anunciar os jogadores que iriam ao mundial do Brasil:



Portanto: sim, Leonor, a seleção continua a ser a seleção de Mendes. Os jogadores de Mendes tiveram e continuarão a ter um tratamento preferencial em relação a outros que estejam em igualdade de circunstâncias, assim como os jogadores sportinguistas terão que continuar a provar muito mais do que os outros até terem uma oportunidade. Felizmente, quando os jogos do Euro 2016 passaram a ser de mata-mata e deixou de haver margem para insistir em favoritismos injustificados, Fernando Santos teve bom senso e fez entrar os "Aurélios" até então preteridos. Ajudaram a fortalecer a equipa, e o resto da história já todos conhecem.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Ronaldo a sofrer (e a fazer sofrer) no banco

A sofrer...


... e a fazer sofrer.

A noite histórica dos underdogs


Se, há um par de meses, um argumentista decidisse escrever o guião do jogo de ontem tal como acabou por acontecer, provavelmente não o conseguiria vender a nenhum estúdio. Toda a gente tolera um pouco de fantasia nas histórias em que um underdog luta para ultrapassar todas as adversídades que se atravessam no seu caminho, mas idealizar uma final em que Portugal venceria a seleção anfitriã sem Cristiano Ronaldo desde os dez minutos e com um fenomenal golo de Éder, seria demasiada ficção para ser levada a sério.

No entanto, para nossa imensa felicidade, foi isso mesmo que aconteceu. Perante a lesão do jogador em que se depositava toda a fé de um país, os onze bravos que ficaram em campo souberam carregar a responsabilidade acrescida que lhes caiu nos ombros: nomeadamente Rui Patrício, que fez uma exibição memorável com quatro ou cinco defesas que nos mantiveram a um golo do sonho; Pepe e Fonte, que estiveram irrepreensíveis como sempre; William e João Mário, que não foram menos gigantes que os gigantes que defrontaram; e, claro, Éder, o herói improvável que, com o seu golo, calou, no melhor momento possível, todos aqueles (eu incluído) que achavam que não tinha lugar na convocatória,

O golo de Éder, aliás, passou a ser o mais importante da história do futebol português, e o mais provável é que passem várias décadas até ser destronado ou igualado. Alguém imaginava que isto viria a acontecer?

E, evidentemente, há que dar o devido mérito a Fernando Santos, pelo facto de ter conseguido vender a sua ideia de jogo ultra-conservadora ao grupo de trabalho com aquela vitória à Croácia. O selecionador sabia que seria impossível Portugal ser a melhor seleção do Euro, mas também sabia que bastava sermos apenas um pouco melhores do que todos adversários que nos calhassem em sorte. Fernando Santos correu imensos riscos por essa opção, tantos quanto os riscos que não correu dentro de campo, pois seria responsabilizado por todos se a aposta não desse frutos. 

A maior ironia é que ao assumir uma estratégia predominantemente defensiva, tornou a seleção menos dependente de Ronaldo do que alguma vez tinha sido nos últimos oito anos - e isso acabou por dar um jeito imenso  ontem, quando a equipa ficou orfã do seu super-craque.

Desfrutemos do melhor momento de sempre do futebol português. Parabéns a Fernando Santos, parabéns a todos os jogadores, parabéns a todos nós!

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Na final!

E não é que Fernando Santos regressa apenas a Portugal no dia 11? Quem diria? Se fizer alguma graçola sobre isso, eu sou um daqueles a quem a carapuça serve na perfeição.

Parabéns, Portugal!


sábado, 25 de junho de 2016

Uma questão de fé e de tomates

Fernando Santos tem recorrido frequentemente à palavra , quando questionado sobre aquilo que poderemos esperar da seleção no Euro 2016. Ontem, na conferência de imprensa, explicou o motivo da sua fé, atribuindo-a à crença que tem nos seus jogadores.

Percebo a ideia e partilho-a parcialmente. Depois de ver o que Nani, Cristiano, Quaresma e João Mário fizeram contra a Hungria, também tenho fé que os jogadores tenham passado a ter mais fé nas suas capacidades e nas dos colegas. Afinal, não é todos os dias que se recupera três vezes de uma desvantagem. E tenho fé que procurarão jogar de forma a que o todo seja superior à soma das partes, coisa que, até agora, raramente aconteceu. Se conseguirmos mais momentos como o do segundo golo contra a Hungria, estaremos mais perto do sucesso.



Mas também gostava de poder dizer que tenho fé no selecionador, em como tomará hoje as decisões certas para defrontarmos com êxito o adversário mais difícil que nos calhará em todos os jogos que disputaremos (com exceção da final, se lá chegarmos). Infelizmente, aqui a fé já não é tanta.

Ao fim de 3 jogos de preparação e 3 jogos a doer, não se notam melhorias no jogo português. Não inspira nenhuma confiança o facto de termos sido tão macios defensivamente contra a Hungria. É verdade que os húngaros foram tremendamente eficazes e tiveram sorte na forma como marcaram os três golos, mas fomos nós que nos colocámos a jeito para os sofrer, tal como já tinha acontecido no golo que a Islândia nos marcou. Logo, contra a Croácia, terá que haver muito mais concentração nos momentos defensivos, caso contrário Modric, Rakitic, Perisic e companhia não terão contemplações.

Chegamos, portanto, à questão dos tomates.


Fernando Santos não pode ter receio em mudar o que tem de ser mudado. Na realidade, não tem muito a perder: o pior que pode acontecer é não melhorar (sinceramente, pior exibição do que a da primeira parte contra a Hungria, com os jogadores que temos, é impossível), o melhor que pode acontecer é encontrar novas soluções, qualificar-se, e ganhar uma equipa que possa tirar o máximo partido das qualidades dos nossos jogadores.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Apurados à tangente. E agora, Fernando?

Apesar de ter apanhado um grupo muito acessível, Portugal apurou-se para a fase seguinte à tangente, sem qualquer brilho. We get to live another day e renova-se a esperança naquilo que poderemos fazer no resto da competição, com a expetativa de que Fernando Santos verá finalmente a luz. A luz, diga-se, já era suficientemente intensa antes da partida com a Hungria para que não escapassem ao selecionador alguns equívocos em que incorreu nas duas primeiras jornadas, mas após o jogo de ontem já nem sequer pode fingir que não os vê. Fernando Santos terá que mexer no onze contra a Croácia.

Insistir no 4-4-2 losango poderia fazer sentido se Moutinho e André Gomes estivessem na sua melhor forma. Ora, Moutinho está muito longe daquilo que já o vimos produzir, e André Gomes, apesar de ter estado a um nível satisfatório nas duas primeiras jornadas, não produz o suficiente para compensar o que perdemos ao ter João Mário amarrado num flanco e William com poucas opções de passe.

O melhor Portugal desta fase de qualificação foi aquele que jogou ontem após as duas primeiras substituições, ou seja, após as entradas de Renato  Sanches e Ricardo Quaresma. Não tanto pelo que ambos os jogadores produziram, mas principalmente pela arrumação que implicou no meio-campo. Com dois extremos em campo, João Mário passou a dispor de uma liberdade que Fernando Santos ainda não lhe tinha dado, e o rendimento da seleção aumentou de imediato. William deixou de ter que se preocupar em não atropelar Moutinho quando tinha a bola nos pés, e passou a ter bastantes mais opções de passe - não só porque João Mário, mais livre, se passou a dar muito mais ao jogo, mas também por ter Renato Sanches em movimentações constantes para criar linhas de passe.

Em relação a Renato Sanches, apesar de não ter feito um jogo brilhante, teve o mérito de ajudar a dinamizar o jogo e torná-lo mais incontrolável, com os aspetos bons e maus que isso implica. Quando Renato não tem a bola e esta está na posse de Portugal, coloca-se sempre muito perto do portador, disponibilizando-se para a receber. Tanto o faz no centro do terreno - a área em que é mais natural que esteja posicionado - como nos flancos. Se a ânsia de estar em todo o lado facilita o trabalho de quem tem a bola, também acaba por deixar, em muitos momentos, um vazio imenso que os adversários podem explorar se recuperarem o esférico. Nas suas incursões com bola, Renato também tanto pode gerar situações de desequilíbrio no meio-campo adversário, como pode perder a bola e comprometer o equilíbrio defensivo da própria equipa - se com a Hungria isso já foi visível, imaginem contra um meio que tenha Modric, Rakitic e Perisic.

No cômputo geral, a seleção ganhou com a entrada de Renato Sanches. Não me parece que o jovem jogador esteja pronto para ser titular - principalmente numa fase a eliminar e em que os adversários serão teoricamente mais difíceis -, mas é um recurso muito interessante para ser lançado na segunda parte de um jogo, numa altura em que já exista algum desgaste acumulado, se houver necessidade de agitar as águas. Para entrar de início, Adrien confere maior equilíbrio à equipa - sobretudo pela sua reação à perda de bola -, e ao mesmo tempo tem o dinamismo necessário para apoiar os companheiros no ataque. Não tendo a mesma velocidade que Sanches, também não expõe a equipa a tantas situações de risco. Para não falar no conhecimento mútuo que existe entre si e William, João Mário e Nani.

Isto, claro, só faz sentido se Fernando Santos largar o malfadado 4-4-2 losango. Infelizmente, não sei se o selecionador terá tamanho nível de ousadia. A forma como abdicou de procurar a vitória, dando ordens à seleção para abrandar o ritmo quando ainda havia muito tempo para jogar - numa altura em que convinha a Portugal procurar o golo da vitória - é preocupante. A substituição de Nani por Danilo, encostando novamente João Mário ao flanco, foi uma espécie de atirar de toalha ao chão na procura do golo. Achar, naquelas circunstâncias, que é melhor ter um pássaro na mão do que dois a voar, não é pragmatismo, é apenas falta de coragem. Mas alguma coisa terá que mudar. Adrien e Rafa estão a ser totalmente desaproveitados e nunca funcionarão em losango. Por outro lado, os últimos dois jogos mostraram ser desaconselhável a utilização de Quaresma num ataque a dois. E os laterais (com exceção de Raphael Guerreiro) não têm chegado para as exigências que o losango exige deles nos respetivos flancos. 

Perante o que temos visto, parece-me que teríamos a ganhar se jogássemos de início com:


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Não merecemos a sorte que tivemos

Fernando Santos não tem mãos para isto. Errou no onze, foi obrigado a arriscar na segunda parte e, felizmente, a coisa correu-lhe bem. Quando podia ir à procura do 1º lugar, mandou sinais para dentro de campo para segurar o resultado, mesmo que isso significasse o 2º lugar que nos colocaria na metade dos tubarões. Deixou nas mãos de terceiros o nosso destino, e por acaso o destino foi amigo com o golo da Islândia nos descontos (mesmo considerando que a Croácia é mais forte que a Inglaterra).

Passámos sem ganhar nenhum jogo num grupo fraquíssimo. Espero que ninguém na FPF ache que existe qualquer motivo para festejos. Há muito para melhorar se queremos passar a Croácia. O jogo é já no próximo sábado.

Sacando da calculadora

Sei que não se deve colocar a carroça à frente dos bois, mas é impossível ignorar o emparelhamento que se está a formar para a fase a eliminar do Euro 2016:


Se Portugal ficar em 1º ou em 3º lugar do grupo F, ficará na metade esquerda deste quadro. Nessa eventualidade, fica garantido que apenas poderemos encontrar Alemanha, Itália, Espanha, França e Inglaterra na final. Depois de uma fase de grupos com uma oposição de nível acessível, seria impossível encontrar melhor conjunto de potenciais adversários numa fase tão adiantada da competição. 

Quem segue este blogue há algum tempo, sabe que admiro (e invejo) imensamente a estrelinha de Fernando Santos enquanto selecionador. Se a máxima que diz que ter sorte dá muito trabalho, então de certeza que não existe no mundo homem mais esforçado do que Fernando Santos. Recuperando a imagem que fiz no link que deixei acima:

Níveis de estrelinha no futebol

Se já era grave não conseguirmos o apuramento com este grupo, a estrada até à final que se estendeu à nossa frente é uma oportunidade que simplesmente não podemos desperdiçar. E, como se esta conjugação de fatores não fosse suficiente, dá-se o caso de a Hungria já estar apurada (pelo que poderá, eventualmente, poupar jogadores em risco de castigo, o que facilitaria mais a nossa tarefa), e ainda pode dar-se o caso de irmos parar à metade boa da fase a eliminar mesmo não ganhando à Hungria, já que o 3º lugar do nosso grupo também nos colocará nessa parte do quadro (e o mais provável é que, ganhando, fiquemos em 1º, e empatando, fiquemos em 3º).

Se Portugal ficar em (ganhando à Hungria por mais golos do que a Islândia ganhe à Áustria), defrontará o 2º classificado do grupo E (Bélgica, Suécia ou Irlanda). 

Se Portugal ficar em , defrontará a Inglaterra

Se Portugal ficar em (empatando com a Hungria e se, havendo também empate no Islândia - Áustria, Portugal não marcar mais golos que a Islândia), defrontará a Croácia

A estrelinha está bem viva e recomenda-se. Falta sermos minimamente competentes para a aproveitar.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

The show must go on

Pior do que ver o sofrível jogo português contra a Islândia, foi ter de ler e suportar, no dia seguinte, a forma ligeira como a maior parte da comunicação social o relativizou. 

Não digo que seja caso para se estar já a pedir a cabeça de Fernando Santos, mas mete impressão ouvir certos especialistas a malharem em determinados jogadores sem fazerem um apontamento sequer ao selecionador pela escolha e distribuição das peças em campo. João Mário esteve vários furos abaixo do que se esperaria? Sim, mas será que se pode exigir que renda o normal quando é colocado numa posição que nunca fez na vida? Moutinho voltou a desiludir? Sim, mas aqui a palavra-chave é voltou. O improvável seria haver uma exibição ao nível do Moutinho que jogava no Sporting e no Porto.

Outro exemplo: colocar, como se colocou, o foco na quantidade de remates feitos pela seleção, é estar a tentar fazer um filme diferente do que foi a realidade. Dos 26 ou 27 remates, quantos tinham efetivamente uma elevada probabilidade de dar em golo? Poucos, sendo que, desses poucos, dois foram cabeceamentos de Nani. Repito, cabeceamentos de Nani

Que Fernando Santos tente vender o seu peixe, procurando convencer-nos de que a equipa se exibiu num nível "médio/alto", e que "o futebol é assim", é normal. O que não é normal é que a Comunicação Social se dispense de fazer o devido contraditório ao selecionador, e de pedir explicações pelo conservadorismo das suas opções num jogo que era para ganhar de caras. Enquanto houver esperança, vão-se queimando uns jogadores atrás dos outros, e as opções do selecionador são testadas como uma espécie de dogma que não se pode questionar.

A cobertura que nos é oferecida nas fases finais da seleção aproxima-se, cada vez mais - e de forma generalizada -, da abordagem cor-de-rosa à la Nuno Luz e Daniel Oliveira, tudo a bem de um (suposto) desígnio nacional que importa manter, mesmo que isso implique que se maquilhe tudo aquilo que não está bem. The show must go on

Infelizmente, não se apercebem que um pouco de pressão sobre quem decide pode ser benéfico, se feita nas doses certas, podendo inclusivamente ser um contributo para que o tal espetáculo se prolongue mais no tempo, apesar de os tons rosa empregados não serem tão shock.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Gelo na estreia

O empate de ontem não é nenhuma catástrofe. Não compromete a qualificação - até pode dar-se o caso de três das quatro equipas do grupo se apurarem para a fase seguinte - e continuamos dependentes de nós próprios para assegurar o 1º lugar do grupo. Mas o empate de ontem, não sendo catastrófico, é preocupante. Não tanto pelo resultado, mas sobretudo pela exibição. Ao quarto jogo, continua a não haver uma ideia de jogo coerente e voltaram a repetir-se os mesmos equívocos das partidas anteriores. Não há liderança dentro e fora das quatro linhas: basicamente temos um grupo de jogadores à deriva, que vai obtendo resultados em função dos momentos de inspiração individual que vão sendo capazes de gerar.

Faltou-nos o pragmatismo e bom senso dos islandeses, que fizeram (bem) o seu jogo em função das suas qualidades e insuficiências. Alguma coisa está errada quando se vê uma seleção como a portuguesa a insistir em cruzamentos para a área, ainda mais quando defronta um adversário como a Islândia. Ou, também, no abuso dos passes aéreos em profundidade a solicitar um homem isolado na frente. Em contrapartida, a equipa raramente procurou o espaço interior, que necessita de uma velocidade de execução bastante superior e rotinas bem consolidadas para surtir qualquer tipo de efeito.

O meio-campo foi, aliás, quase inexistente. Danilo raramente ganhou uma bola na sua área de ação e em nada contribuiu com a bola nos pés. Moutinho confirmou o mau momento de forma. João Mário, encostado à linha (!) no lado esquerdo (!!!), pouco ou nada fez na primeira parte. Curiosamente, foi retirado do jogo por Fernando Santos numa altura em que começava a mostrar boas combinações com Raphael Guerreiro. André Gomes foi o menos mau do quarteto do meio-campo, mas poucas vezes conseguiu colocar a velocidade que o jogo pedia - numa das ocasiões em que o fez, Portugal marcou. A entrada de Renato Sanches adivinhava-se, mas desta vez não produziu quaisquer frutos. Quaresma e Éder foram elementos estranhos à equipa, que parecia não estar preparada para a sua entrada. Cristiano Ronaldo fez um mau jogo: não só não aproveitou as boas oportunidades que teve, como ainda secou alguns outros lances de potencial perigo - está na altura de alguém lhe dizer, por exemplo, que há melhores marcadores de livres na equipa, que não faz sentido forçar o remate à baliza de meio do meio-campo, e que é permitido procurar alternativas de passe antes de rematar com adversários em cima dele. Pela positiva, destacaram-se Ricardo Carvalho, Raphael Guerreiro e Rui Patrício. Nani fez o que pôde numa posição que não é a sua.

É verdade que o golo dos islandeses acontece por causa de um erro defensivo nosso - Pepe tinha que falar com Vieirinha se queria fazer a troca de marcações -, mas depois disso tivemos muito tempo para procurar recuperar a vantagem no marcador.

Não faz grande sentido continuar a apostar neste losango, com jogadores desligados e/ou fora de forma, e que desaproveita as melhores qualidades de muitos dos jogadores. Ao invés, continuamos sem saber o que valeria esta seleção se o conhecimento mútuo de William, Adrien e João Mário fosse aproveitado. Continuamos... e continuaremos, porque está visto que Fernando Santos só mexerá no meio-campo para colocar Renato Sanches.

Segue-se no sábado o jogo com a Áustria. Em teoria, é uma equipa com melhores valores individuais que a Islândia mas, por outro lado, talvez seja um adversário com características mais favoráveis para a seleção portuguesa. Voltando à ideia inicial: o empate de ontem não é uma catástrofe, o apuramento para a fase a eliminar não está em causa, mas começa a faltar o tempo para Fernando Santos conseguir montar uma equipa (no sentido coletivo da palavra) que se possa bater com as melhores seleções em prova na fase a eliminar.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Teste falhado

Se há conclusão que se pode retirar do Inglaterra - Portugal de ontem, é que nenhum dos selecionadores deve ter ficado demasiado confiante após ver aquilo que as suas equipas mostraram durante os 90 minutos. A Inglaterra, porque raramente conseguiu, em vantagem numérica, desfazer a (bem) organizada defesa de Portugal. Portugal, porque acabou por perder o jogo mas, sobretudo, pelas dificuldades reveladas sempre que tinha a bola nos pés.

As escolhas de Fernando Santos dificilmente poderiam dar outro resultado contra um adversário deste nível. Colocar Moutinho e Adrien em simultâneo é um mau princípio, pois são dois jogadores com características semelhantes, pouco amigos de se aproximarem da área com frequência. Encostar João Mário à direita, deixando-o quase sempre isolado do resto dos companheiros, é condená-lo a abdicar das suas melhores qualidades. Entregar a frente de ataque a Rafa e Nani, jogadores sem qualquer presença de área, limita de forma clara as possibilidades de a equipa poder criar perigo se o adversário estiver organizado na sua defesa e meio-campo.

É claro que este treino acabou por ser seriamente afetado pela atitude irrefletida de Bruno Alves. Aqui, podemos colocar em causa a opção de Fernando Santos em levar quatro centrais trintões: de que serve tanta experiência quando dois deles (Bruno Alves e Pepe - recorde-se a expulsão desnecessária contra a Alemanha no mundial) têm demasiados momentos de imaturidade que poderão deitar tudo a perder?

Apesar de tudo, deve-se assinalar a boa organização defensiva de Portugal. liderada por Ricardo Carvalho. Tirando o golo, as poucas oportunidades da Inglaterra surgiram a partir de perdas de bola de jogadores portugueses na proximidade da área. Bom jogo, também, de Rui Patrício. Se Fernando Santos insistir em jogar com dois ou três box-to-box em 4-4-2, então Quaresma tem que ser um dos dois avançados titulares, pois é o único jogador que, neste momento, é capaz de criar desequilíbrios por si só. Renato Sanches pode ser uma arma interessante para lançar numa fase em que o jogo já esteja mais partido.

Ainda é cedo para fazer soar os alarmes após o 2º jogo em que a seleção mostrou muito pouco futebol, mas Fernando Santos tem de acabar com as experiências e começar a criar / consolidar rotinas ofensivas que permitam à seleção criar desequilíbrios de forma coletiva. Confiar exclusivamente em lances de inspiração individual ou de bola parada para criar perigo, será meio caminho andado para uma participação no Euro mais curta do que todos desejamos.

P.S.: excelentes os comentários de Jorge Jesus ao jogo. Seria muito bom que convites destes se repetissem nesta campanha do Europeu.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Primeiro ensaio

Não cabe na cabeça de ninguém que Portugal não passe a fase de grupos do Euro 2016. É politicamente correto que se diga que já não existem adversários fáceis, mas mal de nós se não conseguirmos apurar-nos para os oitavos de final tendo como adversários a Islândia, Áustria e Húngria. Ou seja, em teoria, existirá tempo e um enquadramento competitivo ideal para ir consolidando rotinas e gerindo fisicamente a equipa ao longo dos seis jogos que garantidamente teremos que disputar entre 29 de maio e 22 de junho, de forma a chegarmos ao momento da verdade no melhor momento possível.

Como tal, considerando que o jogo de ontem foi o primeiro desses seis - com a agravante de se disputar ao fim de uma primeira semana de preparação realizada a meio gás, em função da ausência de praticamente metade do grupo de trabalho -, é totalmente prematuro extraírem-se grandes conclusões da vitória por 3-0 contra a Noruega.

O resultado foi melhor que a exibição. Tirando aquilo que se viu nos golos - o rasgo de génio de Quaresma, o livre indefensável de Raphael Guerreiro e a assistência de João Mário para a finalização do capitão (!) Eder -, não posso dizer que tenha ficado entusiasmado com o futebol que a seleção praticou. Foram poucas as situações de perigo criadas, devido à demasiada insistência nos cruzamentos para a área e à ausência de jogo interior capaz de desfazer a linha defensiva norueguesa, e a equipa chegou a passar por algumas dificuldades em manter a vantagem no marcador antes do livre de Guerreiro que nos deu o 2-0.

Muito trabalho pela frente para Fernando Santos, portanto. Mas, havendo competência, existem todas as condições para que a equipa esteja a jogar o triplo daqui a umas semanas. É claro que o selecionador também poderá ajudar-se a si próprio, se tomar as suas decisões de forma racional e sem ligar a determinados privilégios ou outras influências externas. Por exemplo: depois desta faceta revelada por Guerreiro, será que Fernando Santos o deixará bater outro livre daquela posição se Ronaldo - que tem as qualidades que todos conhecemos, mas é um marcador de livres muito ineficaz - estiver em campo?


P.S.: a adaptação da música de Abrunhosa a hino da seleção é simplesmente... péssima. Poupem-nos.

terça-feira, 17 de maio de 2016

Especulando sobre os 23 para o Euro 2016

Aqueles que eu escolheria:

GR: Rui Patrício, Anthony Lopes e Beto
DD: Cédric e Vieirinha (ou André Almeida)
DE: Raphael Guerreiro e Antunes
DC: Pepe, Ricardo Carvalho, José Fonte e Rúben Semedo
MDef: Danilo Pereira e William Carvalho
MC: João Moutinho, João Mário, Adrien Silva e André Gomes
Av: Cristiano Ronaldo, Nani, Quaresma, Bernardo Silva, Rafa e Pizzi (ou Diogo Jota)


Aqueles que eu acho que Fernando Santos vai escolher mais logo:

GR: Rui Patrício, Anthony Lopes, Beto
DD: Cédric e Vieirinha
DE: Eliseu e Raphael Guerreiro
DC: Pepe, Ricardo Carvalho, José Fonte e Bruno Alves
MDef: Danilo Pereira e William Carvalho
MC: João Moutinho, João Mário, Adrien Silva e André Gomes
Av: Cristiano Ronaldo, Nani, Quaresma, Bernardo Silva, Rafa e Eder

Sei que a seleção de Mendes nunca deixará de fora André Gomes e Renato Sanches. Como tal, estou consciente que existe a forte possibilidade de não sobrar nenhuma vaga para Adrien Silva, o que, a acontecer, será uma vergonha. Espero sinceramente que Fernando Santos não dispa o fato de selecionador português para vestir o de selecionador de Jorge Mendes.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Brincar às seleções

Tenho muitas dificuldades em perceber a lógica que orienta a marcação dos compromissos particulares da seleção. Tirando o inevitável impulso das estatísticas individuais dos jogadores e do historial de Portugal, não consigo encontrar qualquer benefício na realização de um jogo com o Luxemburgo, uma seleção que na qualificação teve um duelo aceso com a poderosa Macedónia pelo 5º lugar do grupo C.

Para piorar, o jogo foi disputado num relvado deplorável. Tivesse sido o Luxemburgo - Portugal disputado há duas semanas, e teria sido um maravilhoso ensaio para os internacionais do Sporting prepararem o jogo de Arouca.

Dá toda a ideia que este planeamento e calendarização de jogos tem sobretudo o dedo da direção da FPF, e menos o do selecionador. Já sabemos que para Fernando Gomes, Humberto Coelho & Cª, os interesses desportivos são tipicamente relegados para segundo plano. O princípio orientador da marcação de particulares costuma ser o cachet recebido. Se o adversário tem ou não o perfil ideal para a preparação idealizada pelo selecionador, é uma questão secundária. É difícil esquecer que há precisamente três anos a seleção foi fazer um jogo ao GABÃO. Repito: ao GABÃO.

O lado positivo deste conjunto de dois jogos foi a possibilidade de Fernando Santos observar um conjunto de jogadores que serão o futuro desta seleção. É urgente a renovação da seleção, é bom ver que começa a haver  espaço para caras novas, mas apesar disso penso que esse processo deveria ter sido iniciado durante a fase de qualificação de uma forma mais gradual. Parece-me de uma utilidade algo discutível estar a lançar novos jogadores em massa num jogo a feijões, em vez de ir integrando um par de jogadores de cada vez ao lado do núcleo duro.

Aliás, qualquer ensaio que não inclua Cristiano Ronaldo acaba por ser um meio-ensaio. A partir do momento em que no seu lugar aparecem jogadores como Éder ou Lucas João, a estratégia de jogo tem que mudar radicalmente. É a cruz de estarmos tão dependentes de um único jogador. Compreendo a dispensa de Ronaldo (temos todo o interesse em que o nosso bola de ouro chegue a junho o mais fresco possível), mas por outro lado é um pouco constrangedor ver que o tempo de descanso que a seleção lhe concedeu acabou por servir para o jogador pôr em dia os seus compromissos relacionados com os seus negócios pessoais - no espaço destas duas semanas estreou um filme, desdobrou-se em entrevistas, tentou bater um recorde do Guiness de selfies tiradas, e sabe-se lá que outras atividades Jorge Mendes lhe terá arranjado para se ocupar...

P.S.: Fernando Santos disse no início do estágio que iria levar em consideração o Sporting - Benfica e o Real Madrid - Barcelona, e cumpriu de forma equilibrada para os clubes interessados. Valha-nos isso.

P.S.2: Parece que o Porto está indignado com o selecionador por não ter tido direito ao mesmo tratamento. Já têm a desculpa perfeita para usar se forem eliminados pelo Angrense.

domingo, 11 de outubro de 2015

Fernando Santos a superar-se a Fernando Santos

Fernando Santos bem se esforçou por perder o jogo, mas nem a combinação entre rotatividade, falta de qualidade exibicional e substituições queimadas consegue superar a já lendária vaca leiteira do outro Fernando Santos. Fernando Santos fez os possíveis para garantir a derrota ao trocar de centrais ao intervalo e ao colocar Éder na segunda parte, mas depois o outro Fernando Santos lembrou-se de colocar João Moutinho em campo, que como não poderia deixar de ser acabou por ser o marcador de um golo que em 99,97% das ocasiões não concretizaria. 

Estou totalmente convicto que Fernando Santos ganharia qualquer partida contra seleções de 2ª linha europeia (ou seleções de topo em amigáveis), mesmo que o primeiro Fernando Santos colocasse 11 Éderzitos em campo. O pior será quando os jogos forem a doer contra seleções de topo, porque aí será preciso que Fernando Santos invoque uma sorte do tipo ganhar-o-euromilhões para compensar tudo aquilo que o primeiro Fernando Santos não está a conseguir dar, e que para já as vitórias vão disfarçando.

Parabéns aos dois Fernando Santos pela campanha imaculada, o que atendendo ao passado recente não é nada que se possa desprezar. Mas daqui para a frente ambos terão desafios bem mais complicados, o que significa que pelo menos um deles vai ter que melhorar muito a qualidade do seu trabalho.

P.S.: não vi os últimos quinze minutos do jogo, mas ouvi-os no carro. Ouvi o relato na TSF. Quando Patrício e Fonte se lesionam, já perto dos 90 minutos, Paulo Cintrão e João Rosado revelavam preocupação pelas limitações físicas evidentes de Rui Patrício. Lembrei-me nessa altura de mudar para a Antena 1. E, não estranhamente - porque na realidade foi à espera disso que mudei de estação -, o ambiente era de grande risota e satisfação com a situação. Quem eram os comentadores que conseguiam encontrar na lesão do GR português assunto para tanto divertimento? Paulo "o nosso Enzo" Sérgio e José Nunes, como não poderia deixar de ser. A coisa conseguiu piorar quando Paulo Sérgio, provavelmente o comentador desportivo com menor QI de toda a Comunicação Social, sugeriu que Portugal fizesse uma substituição para colocar um GR suplente retirando um jogador de campo (?!). Não só Portugal já tinha feito as três substituições, como se por acaso ainda tivessemos mais alguma substituição por fazer, talvez fosse mais sensato tirar o GR lesionado. Falamos do mesmo Paulo Sérgio que comentou na RTP o Portugal - Gana para o Mundial,  tendo estado 15 minutos a dar uma informação errada sobre o número de golos que Portugal precisava de marcar para passar à fase seguinte. E andamos nós a pagar a gente desta...

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Missão cumprida

É tanto o entusiasmo que esta fase de qualificação tem gerado em mim, que só por volta das 17h é que me apercebi que o jogo com a Dinamarca era hoje. Esta distração não tem a ver com desinteresse pela seleção em si, mas sobretudo pelo facto de o alargamento da fase final para 24 participantes decretado pela UEFA ter acabado por transformar a qualificação num mero formalismo a cumprir pelas seleções habituais.

Mero formalismo ou não, a verdade é que foi a primeira vez, desde a qualificação para o Mundial 2006, que vencemos o nosso grupo de qualificação, enquanto que existem outras seleções de topo que não costumam facilitar nestas fases que estão neste momento de calculadora em punho, como a Holanda e a Alemanha.

Mérito portanto para Fernando Santos, que pegou num grupo de jogadores desfeito em cacos, recuperou proscritos, devolveu uma boa dose de bom-senso às convocatórias e escolhas no onze, e começou a ganhar de imediato. Nem tudo foi perfeito, o futebol praticado nunca foi convincente, continua a ser imperiosa a renovação de um grupo de trabalho de idade média muito avançada a bem da qualificação para o Mundial 2018, mas ninguém lhe pode tirar a carreira 100% vitoriosa que a seleção teve sob o seu comando.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Uma seleção que é um ponto de interrogação

Do ponto de vista dos resultados, continua imaculado o percurso de Fernando Santos na campanha de qualificação para o Euro 2016. Quinto triunfo em cinco jogos, quinta vitória pela margem mínima, das quais duas foram arrancadas nos descontos. Foi também a quinta exibição sofrível que tivemos que suportar. Bom futebol é coisa que Fernando Santos ainda não conseguiu mostrar ao fim de um ano de trabalho.

Não quero parecer ingrato nem ser acusado de falta de memória. Lembro-me bem do estado lastimável em que Paulo Bento deixou a seleção. Seguramente que das prioridades que os responsáveis federativos terão colocado ao atual selecionador aquando da sua contratação, a qualificação para a fase final do Europeu será seguramente a principal - e por aí os resultados tem sido irrepreensíveis até à data.

Pelo meio Fernando Santos obteve ainda duas vitórias raras contra a Itália (injusta face à superioridade italiana) e Argentina (com um golo marcado perto do fim), em jogos particulares.

Mas todos percebem que, a dez meses de se iniciar o Europeu, há que começar rapidamente a construir uma equipa. Fernando Santos abriu (e bem) o grupo de trabalho a todos os cidadãos portugueses aptos para a prática do futebol, em clara oposição à política de lugares cativos dos amigos de Paulo Bento. O problema é que o atual selecionador parece perdido em tantas indecisões, ao ponto de seguir um critério... incompreensível. Dos seis titulares do meio-campo e ataque que jogaram contra a França, manteve apenas 3 contra a Albânia. Danny e Bernardo Silva jogaram 11 e 5 minutos respetivamente contra a França, ontem foram titulares. Miguel Veloso, que ainda nem sequer tinha sido chamado por Fernando Santos, tirou o lugar aos habituais convocados Adrien e João Mário. Éder ora é opção, ora não é - com resultados idênticos quer esteja dentro quer fora de campo. Cristiano Ronaldo joga encostado à esquerda um dia, noutro é colocado no centro do ataque. E isto são apenas algumas das diferenças registadas entre dois jogos separados por 3 dias. Não espanta portanto que sejam raras as ocasiões em que a seleção consiga ligar lances de ataque com cabeça, tronco e membros, mesmo contra adversários de nível acessível como a Albânia.

Como é evidente, isto para já tem sido suficiente - com doses industriais de sorte à mistura - mas será muito curto quando apanharmos adversários de peso em jogos mesmo a sério. A seleção nacional revela um claro défice de talento, tendo neste momento um único jogador de dimensão internacional que tipicamente chega fisicamente por arames aos finais das épocas, pelo que não é difícil perceber que voltaremos a ter uma carreira curta na fase final do Euro 2016 se Fernando Santos não conseguir montar um coletivo cujo valor seja superior à soma das individualidades. Para já, sobram dúvidas e equívocos e uma desconfortável sensação de tempo perdido.

Não se pode adiar mais a renovação da seleção. Estou perfeitamente convencido que o grupo de jogadores que esteve na fase final do Europeu de Sub-21 seria capaz de derrotar a Albânia com mais facilidade que os A's. Paulo Oliveira, Raphael Guerreiro, William Carvalho, João Mário e Bernardo Silva têm que começar a ser opções frequentes nos 14 utilizados. Não tenho nada contra jogadores como Eliseu, Tiago, Danny e Eder, mas não têm lugar na seleção. E outros como Bruno Alves, João Moutinho, Miguel Veloso, Nani, Quaresma e Vieirinha, poderão ser úteis em determinadas circunstâncias, mas já não parecem ser elementos em que um coletivo forte possa assentar, a não ser que atravessem momentos de forma extraordinários.

Está na altura de começarmos a preparar o Mundial 2018, dando lugar a uma geração que possa carregar as ambições que todos temos. E há que não esquecer que Cristiano Ronaldo já não estará disponível para a seleção durante muito mais tempo.

sábado, 25 de julho de 2015

O sorteio da fase de qualificação do Mundial 2018


Fernando Santos continua com a estrelinha que o acompanha desde que tomou conta da seleção grega. Se há um grupo fraco, é fatal como o destino que a bolinha que contém o papelinho da sua seleção o colocará lá, seja numa fase de qualificação ou numa fase final. E se por acaso o grupo até for um pouco mais complicado - como aquele em que estamos envolvidos para o Euro 2016, sorteado quando o selecionador era ainda Paulo Bento -, ganhamos jogos nos últimos minutos e até calha haver incidentes com drones para tirar pontos a um dos principais adversários. Fernando Santos é definitivamente uma espécie de anti-Peseiro.

Não dá para Bruno de Carvalho contratar Fernando Santos por 2 dias em vésperas do sorteio da pré-eliminatória da Champions?

domingo, 14 de junho de 2015

Resultadismo

4 jogos, 4 exibições sofríveis, mas 4 vitórias. Fernando Santos chegou, fez uma revolução nas convocatórias e no onze - recuperando jogadores proscritos e privilegiando acima de tudo jogadores experientes que... jogam nos seus clubes - e para já o primeiro dos objetivos que lhe pediram no momento da sua contratação está praticamente assegurado.

Nesse sentido não há nada a apontar ao selecionador. Precisávamos de resultados e os resultados apareceram. Mas está na altura de começar a preocupar-se mais com o futuro, iniciando uma renovação que é urgente dada a excessiva dependência em Cristiano Ronaldo (que à sua conta assegurou 3 das 4 vitórias) e à média de idades dos restantes.

Desde que Fernando Santos pegou na seleção, jogadores como Danny, Nani ou Eliseu ainda não fizeram uma única partida em que justificassem a titularidade. Tiago ontem foi menos um em campo, mesmo antes de ter sido expulso. Moutinho está muito longe do rendimento passado. Ricardo Carvalho, pela 2ª partida consecutiva, não conseguiu chegar ao fim devido a problemas físicos. E ainda há Bruno Alves, que não caminha para novo. E Bosingwa provavelmente só ficou de fora por estar lesionado. A partir de setembro impõe-se que Fernando Santos comece a apostar em sangue novo de uma forma gradual e coerente. 

Outra decisão que não compreendo foi a decisão de Fernando Santos levar William e Bernardo Silva para a Arménia, prejudicando os trabalhos da seleção sub-21 - que se estreia na competição já na próxima quarta-feira contra a Inglaterra. Bernardo Silva não foi utilizado, enquanto que a entrada de William foi circunstancial em função da expulsão de Tiago - de lembrar que Carriço e Danilo são outras opções para o lugar que foram incluídos na convocatória.

Vi ontem o jogo da seleção contra a Arménia sem qualquer tipo de entusiasmo, entusiasmo esse que estava perfeitamente ao nível do empenho colocado pelos jogadores dentro de campo. Futebol 0, Patrício em dia infeliz, desinspiração geral, e mais uma vez coube a São Ronaldo a tarefa de resolver a partida. É verdade que o jogo era oficial, mas não faz qualquer sentido a UEFA estar a agendar jogos para este período. Nem quero imaginar a estopada que nos aguarda no particular com a Itália daqui a uns dias.

domingo, 29 de março de 2015

Vitória à imagem do selecionador

Se há um balanço que pode ser feito destes primeiros jogos oficiais de Fernando Santos, é que parece que o selecionador soube incutir na equipa uma dose elevada de realismo que levou os jogadores a encararem com concentração máxima os desafios que tiveram até ao momento. Nenhum dos jogos foi um portento de espetacularidade, mas todas as exibições foram sólidas. Contra a Sérvia, voltámos a ter uma seleção pragmática, concentrada e paciente, que manteve quase sempre o jogo controlado, aguardando o momento certo para disferir o golpe fatal ao adversário. Não houve nota artística, mas conquistámos 3 preciosos pontos contra um adversário que pode ser muito perigoso se dispuser de espaço para que as suas individualidades brilhem.



Positivo

As 3 dimensões de Fábio Coentrão - a sua colocação no meio-campo foi uma aposta ganha de Fernando Santos. Jogou sempre numa rotação muito elevada, conseguindo ter um papel importante em todos os momentos do jogo. Sempre preocupado em dar o apoio necessário a Eliseu (colocando-se muitas vezes em linha com a defesa, com Eliseu a deslocar-se para um espaço mais interior), muito combativo no meio-campo, e a aparecer com frequência na área adversária. Foi um verdadeiro extremo na forma como apareceu ao 2º poste para finalizar para o 2-1. E ainda fez o cruzamento para Ricardo Carvalho inaugurar o marcador. O melhor em campo.

Meio-campo afinado - a dupla Moutinho / Tiago funcionou muito bem. Souberam fechar os caminhos da área de forma muito eficiente, recuperando inúmeras bolas, e saíram sempre a jogar com muito critério. William incorporou-se na perfeição numa altura em que a preocupação principal era manter o resultado. Foi fantástico o cruzamento de Moutinho para o golo de Coentrão.

Pragmatismo à moda grega - Fernando Santos parece ter importado com sucesso o ponto forte da "sua" seleção grega: muita gente a defender (até Ronaldo e Nani desciam com frequência) de forma a povoar o nosso meio-campo de modo que a Sérvia não tivesse espaço para pensar e jogar, e aproveitando ao máximo a muita experiência dos homens em campo - que raramente se desconcentraram.


Negativo

As ofertas de Eliseu - numa noite de enorme concentração defensiva, as duas principais oportunidades de que a Sérvia dispôs foram geradas por dois momentos de desatenção de Eliseu: um alívio de cabeça para a entrada da área onde havia apenas um sérvio, e a demora em subir do 2º poste, deixando Matic em jogo para um golo fantástico. 

Ataque pouco povoado e inspirado - o downside do pragmatismo à grega é precisamente as dificuldades que isso gera no outro lado do campo. Poucas unidades incorporadas em simultâneo no ataque e poucos riscos corridos, que se juntaram a uma noite pouco inspirada de Ronaldo, Nani e Danny. Não chegámos muitas vezes com perigo à baliza de Stojkovic, mas valeu-nos a eficácia na finalização.

Cuidado com a renovação - William, que entrou a poucos minutos do fim, foi o único sub-27 em campo. Aliás, dos 14 jogadores utilizados, apenas 4 têm menos de 30 anos. A experiência é importante, mas convém não abusar. Agora que a qualificação está bem encaminhada talvez seja hora de começar a injetar algum sangue novo na equipa em jogos a sério.



Três jogos oficiais de Fernando Santos, três vitórias à imagem do selecionador - pouco espectaculares mas resultado de uma atitude séria, sem facilitismos. Somos líderes isolados do grupo com 2 pontos de avanço sobre 2º e 3º e 8 (!) sobre o 4º e 5º, numa altura em que só restam 4 jogos por disputar. Ou seja, o lugar no playoff está praticamente assegurado, e o apuramento direto dificilmente nos fugirá caso a seleção continue a encarar cada um dos jogos com este nível de seriedade.