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quarta-feira, 5 de junho de 2019

O cúmulo do descaramento


Sou o primeiro a conceder que as circunstâncias em que Sousa Cintra e José Peseiro entraram no Sporting não eram fáceis. O período era de enorme turbulência, o clube encontrava-se completamente fraturado e as indefinições eram mais que muitas. Também é indiscutível que, mal ou bem, tanto Cintra como Peseiro fazem parte da época que acabou com a conquista de dois títulos. Foram eles que tomaram as decisões que formaram o plantel com que o Sporting atacou a época. Por isso, a sua influência no decurso da temporada é indesmentível.

No entanto, antes de entregar os louros que ambos reclamaram recentemente pela conquista dos dois títulos, é preciso fazer uma outra pergunta: o Sporting ganhou a Taça de Portugal e a Taça da Liga graças ao trabalho de Cintra e Peseiro... ou o Sporting ganhou a Taça de Portugal e a Taça da Liga apesar do trabalho de Cintra e Peseiro?

A resposta certa será graças e apesar. Renan, jogador fundamental pelo que fez nos penáltis, foi contratado por Cintra a pedido de Peseiro. Bruno Fernandes, o jogador que acabou por ser o motor da equipa, foi recuperado por Cintra. E acaba aí o contributo positivo de ambos.

Avancemos para o resto. O Sporting conquistou os dois títulos apesar do plantel desequilibrado e carente de qualidade. É certo que não se pode culpar Cintra por haver tantos jogadores inúteis que transitaram da época anterior, mas podiam ter feito um esforço para tentar libertar alguns deles e abrir espaço para outros que efetivamente pudessem acrescentar valor. Podemos também falar dos erros de avaliação de Peseiro, que não achou necessário contratar um ponta-de-lança que competisse com Dost, que não achou necessário contratar Fábio Coentrão por achar que Jefferson era melhor, mas que deu o aval para que Cintra estourasse 5,5 milhões na aquisição do inútil Diaby - descrevendo-o na altura como o jogador mais rápido do futebol português.

(via @CantinhoMorais)
O Sporting conquistou o título apesar do futebol miserável que praticou até ao despedimento de Peseiro. Vale a pena recordar que a qualificação para a Taça da Liga ficou comprometida quando fomos derrotados em Alvalade pelo Estoril, da segunda divisão. A única coisa positiva que saiu dessa noite foi mesmo o despedimento do treinador. Ou a deprimente exibição em campo neutro com o Loures para a Taça de Portugal, bem ilustrada pela imagem da equipa técnica a olhar desesperadamente para o relógio na esperança que os ponteiros andassem mais depressa e evitassem o possível golo do empate de uma equipa que terminou a época em 7º lugar do grupo D do Campeonato de Portugal.

Para além da frase que podem ler na imagem, Peseiro queixou-se de ter sido maltratado no Sporting. Não, José Peseiro. O futebol do Sporting é que foi maltratado pelo treinador que teve - indeciso, inapto para liderar competentemente um grupo de jogadores, e incapaz de colocar a equipa a jogar um futebol minimamente decente.

Quanto a Cintra, é de um descaramento completo dizer que o Sporting podia ter sido campeão caso a direção de Frederico Varandas não tivesse feito as movimentações que fez. Essas movimentações, apesar dos constrangimentos de tempo e dinheiro, salvaram a época de uma tragédia apenas equiparável à de 2012/13. 

Volto a dizer: as circunstâncias em que Cintra entrou no Sporting não eram fáceis. Mas qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e conhecimento do futebol seria capaz de fazer bem melhor.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Revoltas seletivas

Jornalistas. Comentadores. Treinadores. Ex-treinadores convertidos em pilotos de rally. Dirigentes de associações de treinadores. Praticamente uma semana após o consumar do facto, continua a aumentar a lista de personalidades ligadas ao mundo de futebol que reagem de forma chocada/indignada/estupefacção ao despedimento de José Peseiro do Sporting. Aguarda-se a todo o momento o comentário do presidente Marcelo Rebelo de Sousa sobre o assunto.

Perante tamanha revolta, qualquer pessoa que desconheça os detalhes desta novela deve ficar a pensar que se está a falar de um treinador reconhecido consensualmente como uma referência internacional e que os maiores emblemas nacionais e continentais se acotovelarão para conseguir garantir os seus préstimos. Certamente que não iriam suspeitar de que se falade alguém que tem falhado rotundamente em todos os clubes por onde tem passado.

Os argumentos utilizados por estes sábios andam todos à volta do mesmo. Que Peseiro pegou no Sporting quando mais ninguém o queria fazer. Que tinha em mãos um plantel desfeito e dispôs de meios limitados para o reforçar. E que deixou o Sporting na luta por todas as competições. Nada disto corresponde inteiramente à verdade, sendo que por vezes a forma como alguns defendem Peseiro chega a ser aberrante. 

Havia outros treinadores - superiores, na minha opinião - disponíveis para assumir o cargo no verão, mas no momento da verdade a recomendação de Jorge Mendes pesou decisivamente na decisão de Sousa Cintra. O plantel é desequilibrado, é verdade - sendo que Peseiro teve responsabilidades nisso -, mas continua a ter alguns dos melhores executantes da liga como Nani, Bruno Fernandes ou Mathieu, e, mesmo dentro desses desequílibrios, há qualidade mais que suficiente para fazer melhor figura contra a maior parte dos adversários que defrontou. Quanto ao clube estar na luta por todas as competições, devemos agradecer antes de mais ao número anormal de pontos que Porto e Benfica têm perdido para o campeonato. Na época passada, à 9ª jornada, o Porto tinha mais 4 pontos e o Benfica tinha mais 3 pontos.

Podia falar dos equívocos de Peseiro na formação e utilização do plantel. Podia falar na inabilidade comunicacional. Podia falar nas incompreensíveis teimosias de dar minutos a jogadores inúteis. Mas o que é realmente fundamental na avaliação da justiça do despedimento é a mediocridade exibicional que se observou sistematicamente, sem quaisquer perspetivas de evolução. Uma pessoa que veja o Sporting 2018/19 a jogar fica a questionar-se se os jogadores alguma vez treinaram juntos, tal é a incapacidade de entendimento que revelam em campo. Peseiro conseguiu a proeza de fazer com que o coletivo seja inferior à soma das individualidades, quando a sua tarefa e obrigação era alcançar precisamente o contrário.

Sabemos bem que se trata de uma revolta bastante seletiva. Sabemos bem que muitos dos que defendem Peseiro o fazem porque lhes dá jeito que o Sporting esteja em subrendimento - e esses não defenderão Rui Vitória caso o atual treinador do Benfica venha a ser substituído por Jorge Jesus.

Ao invés, até consigo compreender os críticos que reagiram em defesa de Peseiro por estarem formatados para defender a classe dos treinadores - que em Portugal são tradicionalmente o elo mais fraco, muitas vezes vítimas da incompetência de outros. Mas deviam refletir melhor, pois isso não se aplica a este caso. Independentemente do nível sucesso que o futuro treinador tenha, a decisão de despedir José Peseiro é totalmente acertada porque seria uma questão de pouco tempo (algumas semanas, um par de meses no máximo) para ficarmos fora da luta pelo campeonato.

O que faz mais sentido? Mudar enquanto ainda se vai a tempo de salvar uma época, ou esperar comodamente pelo desastre anunciado? A resposta é tão óbvia...

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

"Em todas as frentes"

Ouvir e ler certos comentadores e notáveis que criticam o despedimento de José Peseiro é um exercício que desafia a sanidade mental de qualquer sportinguista que tenha acompanhado de perto o rendimento da equipa de futebol ao longo deste início de época. É um tipo de discurso que tem sido muito batido nos últimos anos, e em parte percebe-se como surgiu: o treinador é, muitas vezes, um bode expiatório da incompetência alheia, muitas vezes dos dirigentes que os contratam. Mas criticar o despedimento de Peseiro, neste contexto, apenas demonstra uma de duas coisas: ou são pessoas que se encontravam satisfeitas com o fraco rendimento do Sporting e que desejavam que o estado das coisas assim continuasse (cartilheiros, sportinguistas revoltados e afins); ou vem de pessoas que debitam invariavelmente um discurso de proteção do treinador, e que nem se deram ao trabalho de avaliar e perceber que, neste caso concreto, Peseiro é muito mais responsável do que vítima do destino que acabou por ter.

O Sporting teve um bom início de campeonato. Venceu 3 jogos e empatou na Luz nas primeiras 4 jornadas. Passou por dificuldades em Moreira de Cònegos, fez os mínimos em casa contra o V. Setúbal, foi dominado na Luz, e venceu de aflitos o Feirense. Qualidade de jogo sofrível mas, ainda assim, foi um arranque que superou as baixas expetativas que havia à partida. Havia tolerância para o mau futebol no pressuposto de que, com o tempo, se começaria a ver melhor futebol e maior capacidade de potenciar a qualidade que existe no plantel.

No entanto, nada disso aconteceu. Às más exibições começaram a juntar-se os maus resultados. As vitórias que fomos conseguindo foram, excetuando com o Boavista e Marítimo, magras e pouco convincentes. Fomos humilhados em Portimão. Sofremos mais do que devíamos para vencer o Loures e o Vorskla. Perdemos em casa com o Arsenal sem fazer um remate enquadrado, e voltámos a ser derrotados em Alvalade com o Estoril num jogo em que foi a equipa da II Liga a dispor das melhores oportunidades de golo.

Não há argumentos válidos para se defender Peseiro porque não há atenuantes que justifiquem tão pobre produção futebolística. Não se pode queixar de ter um plantel desequilibrado porque, segundo Sousa Cintra, as indecisões do treinador comprometeram vários reforços que estavam a ser negociados. Não se pode queixar de falta de qualidade do plantel num contexto de competições internas: quem tem Nani e Bruno Fernandes e não consegue montar à sua volta uma equipa que domine 80% dos adversários em Portugal não merece o cargo que ocupa. Não se pode queixar das arbitragens. Não se pode queixar do estado dos relvados em que joga. Não se pode queixar da falta de apoio dos sportinguistas, fora e em casa.

E muito menos podem os comentadores e notáveis utilizar o argumento de que o Sporting está "em todas as frentes". No campeonato tivemos a sorte de Benfica e Porto terem perdido pontos de uma forma que tem sido pouco habitual nas últimas épocas. Na Taça de Portugal, era só o que faltava se fossemos eliminados pelo Loures em campo neutro. Na Taça da Liga, tivemos dois jogos em casa e conseguimos a proeza de perder um deles contra uma equipa da II Liga - e agora, para além de termos de vencer na Feira para seguirmos para a final four, precisamos que o Estoril não vença o Marítimo por uma diferença de golos superior à nossa. E na Liga Europa, em que não nos podemos queixa de falta de sorte no sorteio, apenas estamos em boa posição porque conseguimos uma vitória que nos caiu do céu na Ucrânia num jogo miserável contra uma equipa que deveríamos ter derrotado sem dificuldades.

Peseiro falhou em toda a linha na tarefa de montar uma equipa competitiva nestes quatro meses - QUATRO MESES, não foram quatro semanas - em que treinou o Sporting. Estava mais que visto que, continuando Peseiro como treinador, seria apenas uma questão de (pouco) tempo e de pouca felicidade nos sorteios para irmos sendo afastados da luta pelas várias competições - e com isso, todas as áreas do clube seriam contaminadas pelo estigma do insucesso. Ao despedir Peseiro, Varandas fez aquilo que tinha de ser feito. Isso, por si só, não é garantia de que as coisas se corrigirão por completo de imediato - nenhum treinador terá tarefa facilitada nas atuais circunstâncias, pegando nesta equipa com as competições em andamento -, mas é uma decisão que tinha obrigatoriamente de ser tomada.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Chega

O Sporting perdeu em casa com o Estoril, equipa da II Liga. 

Corrijo: o Sporting perdeu em casa com o Estoril, equipa da II Liga, com toda a justiça. Os visitantes foram a melhor equipa no relvado. O Sporting levou um banho de bola, e teve sorte em não ter perdido por mais.

Infelizmente, nada disto surpreende. Mesmo tendo havido muitas mexidas no onze, não é admissível que jogadores que treinam diariamente juntos não consigam ligar uma jogada, não consigam sair do meio-campo com a bola jogável, não consigam mostrar futebol com um mínimo de qualidade.

José Peseiro é um incompetente, um completo incapaz. Já todos o sabiam, com exceção de Sousa Cintra. Enquanto ele continuar como nosso treinador, não vamos conseguir jogar muito melhor do que isto. Se Peseiro ainda tiver um pingo de vergonha na cara, tem de colocar o lugar à disposição ainda hoje. Se não o fizer, alguém terá de lhe mostrar a porta da rua. Chega.

domingo, 28 de outubro de 2018

A entrevista de Frederico Varandas ao Expresso

A entrevista que Frederico Varandas deu ontem ao Expresso não é particularmente longa nem tem tiradas bombásticas, mas inclui algumas mensagens importantes sobre a forma como o presidente vê o atual estado do clube. Destaco quatro momentos da entrevista:


1. "Isto é como muita gente diz - que o clube é ingovernável. (...) Mas eu acredito que vou mudar isto."

Infelizmente, a dificuldade de gerir um clube como o Sporting é um facto. A ingovernabilidade está diretamente ligada a dois fatores: o desgaste acumulado de se estar há 16 anos sem se ganhar um campeonato de futebol, e as fraturas que foram sendo geradas pelas sucessivas instabilidades diretivas e pelas fações que se foram criando. Da mesma forma que existiram grupos de sportinguistas que não deram o mínimo benefício da dúvida a Bruno de Carvalho e contestaram a sua presidência desde o primeiro dia do seu mandato, é perfeitamente visível que está a acontecer o mesmo agora com Varandas. É uma característica muito sportinguista que, infelizmente, não traz quaisquer benefícios ao clube.

Como combater isto? A curto prazo não há muito a fazer: é preciso trabalhar, reformar o clube nas suas diferentes áreas e esperar que os resultados desse trabalho comecem a aparecer. Mas ajudaria muito que a equipa de futebol jogasse a um nível bastante acima da pobreza franciscana que nos tem sido oferecida nas últimas semanas.


2. "Não, tínhamos os ordenados em dia, mas havia um prémio prometido pela CG ao plantel que tivemos de pagar. (...) Um prémio, digamos, para miniobjetivos."

Das duas, uma: ou Cintra ofereceu um prémio pelo empate na Luz, ou ofereceu um prémio por, como ele disse recentemente, ter deixado a equipa em primeiro lugar. Se foi pelo empate na Luz, é triste mas digerível. Se foi pelo facto de a equipa estar em primeiro lugar na data da eleições, então estamos perante um potencial escândalo que tem de ser justificado adequadamente pelos elementos da ex-CG. 

Nem Cintra nem ninguém tem o direito de gastar dinheiro do Sporting para poder dizer que saiu com a equipa na frente do campeonato à quarta jornada, ainda mais quando sabemos dos graves problemas de tesouraria que existiam. Para além disso, é um presente envenenado que se deixa a quem entrou a seguir - que, obviamente, não pode nem vai andar a oferecer dinheiro por lideranças que não significam absolutamente nada e outros micro-objetivos irrelevantes.


3. "O Wolverhampton pagar €18 milhões pelo Rui Patrício e o Sporting encaixa €14 milhões."

É uma confirmação oficial dos valores que já tinham sido noticiados pela imprensa. Não é o valor que todos queríamos, mas é um valor mais razoável que a tesouraria agradece e que foi obtido numa conjuntura em que, conforme disse Varandas, a defesa do Sporting apresentava mais fragilidades - pois já tínhamos estabelecido o patamar do valor de mercado do jogador nas negociações com Wolves que acabariam por descambar na rescisão de Patrício.

Há também a confirmação da participação e colaboração de Jorge Mendes neste processo. Esta é a parte que mais me custa a aceitar, considerando que, segundo o que se diz, o empresário foi um dos principais promotores para que muitos dos jogadores consumassem as rescisões. Os três milhões que nos perdoou certamente que foram mais que compensados pelas comissões que arrecadou nos negócios dos jogadores que rescindiram. E depois disso ainda nos prestou um serviço imenso ao ajudar-nos na contratação de Peseiro, que está a correr da magnífica forma que todos sabemos. 

O balanço do relacionamento entre Sporting e Mendes é e sempre foi profundamente negativo para o clube. Cá estaremos para ver os próximos capítulos desta colaboração.


4. "Sinto-me satisfeito com a qualidade do jogo? Não. Nem eu, nem o grupo, nem o treinador."

A constatação de que a opinião do presidente sobre o desempenho da equipa de futebol não é muito diferente da da generalidade dos sportinguistas, e que Peseiro é um treinador a prazo em que, na mehor (ou pior, conforme o ponto de vista) das hipóteses, o clube não exercerá a opção para o segundo ano de contrato. Resta saber qual o nível de paciência da direção para a péssima qualidade de jogo apresentada. Suponho que a continuidade de Peseiro esteja mais dependente da capacidade que o Sporting tenha para convencer o treinador certo com a época em andamento do que do trabalho que ainda possa fazer daqui para a frente. Dead man walking.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Peseiro e as alternativas

As declarações de Beto que foram divulgadas no final da tarde de ontem dão a entender que, pelo menos para já, José Peseiro é para continuar como treinador do Sporting. É uma decisão (ou não-decisão, dirão aqueles que pensam que o atual técnico não tem condições para continuar) polémica face à ausência de sinais positivos ao fim de três meses de trabalho, mas parece-me indiscutível que este dilema que foi colocado à nova direção não é nada fácil de resolver.

Não é fácil de resolver porque é complicado para um presidente despedir um treinador quando ainda nem sequer fez um mês desde que chegou - ainda mais num clube que parecia ter perdido o mau hábito de promover mudanças de equipas técnicas com a época em curso -, e ainda mais complicado fica de resolver quando não existe nenhuma alternativa óbvia a que se possa recorrer para substituir Peseiro. Uma coisa seria ter alguém como Leonardo Jardim ou Paulo Fonseca sem trabalho e disponível para regressar. Outra é olhar-se para os treinadores disponíveis (sem trabalho ou, tendo trabalho, que estão em clubes de menor dimensão) e não se ver nenhum que dê garantias razoáveis de conseguir salvar uma época que não começou bem. Há, no entanto, vários treinadores que dão garantias de conseguir não fazer pior do que Peseiro, ou seja, pior não ficaria, e é bem possível que consigam implementar melhorias em relação ao que temos agora.

De entre os treinadores portugueses que estão atualmente sem trabalho, os nomes de Rui Faria e Miguel Cardoso surgem à cabeça. Rui Faria tem estatuto graças a um percurso de grande sucesso mas desconhece-se se tem as competências necessárias para assumir o papel de treinador principal. Miguel Cardoso é um treinador com ideias de clube grande a quem não foram dadas as condições necessárias para se impor no Nantes, capaz de implementar um futebol atrativo e que poderá ser eficaz com as armas que teria no Sporting, mas a quem na minha opinião falta pragmatismo para fazer concessões à sua "proposta de jogo" contra adversários com capacidade para a anular. No entanto, mesmo sem ter quaisquer certezas sobre se são o treinador de que o Sporting precisa, parece-me que ambos os técnicos - em particular Miguel Cardoso - seriam upgrades claros em relação a José Peseiro.

Há também um conjunto de treinadores da I Liga que estão a demonstrar competência, como Nuno Manta, Luís Castro, Daniel Ramos ou Silas. No entanto, sabemos de situações similares no passado que nem sempre - ou quase nunca - é fácil a transição para um clube grande a passar por dificuldades (por exemplo, o próprio Luís Castro falhou no Porto quando substituiu Paulo Fonseca. Haveria algum risco, quer para o clube, quer para os treinadores.

Para já, a decisão da SAD parece tomada: mantém a confiança em José Peseiro, salientando que o campeonato é uma maratona que ainda está no princípio. Por um lado, parece-me que há muito wishful thinking nesta análise, pois a não ser que algo mude drasticamente, não tardará muito para ficarmos mais distantes da liderança do que os atuais quatro pontos. Por outro, tomar agora uma decisão para desenrascar poderá comprometer uma melhor solução que possa surgir daqui a um mês. O tempo dirá se a SAD está a agir bem ou não.

domingo, 7 de outubro de 2018

Derrota com assinatura de treinador

Perdemos 4-2 com o último classificado e não se pode dizer que alguém tenha ficado surpreendido em função de como o jogo decorreu. Concedo que do meio-campo para a frente a qualidade deste Portimonense é muito superior à média, mas, ainda assim, nada justifica que frente a uma defesa que está - essa sim - ao nível das piores do campeonato, o Sporting tenha criado a sua primeira oportunidade para marcar aos 60 minutos de jogo. O pouco que o Sporting criou foi em esforço. Nada sai de forma natural, não há quaisquer tipo de automatismos que potenciem a qualidade dos jogadores. Uma falta de capacidade de construção confrangedora que é evidente aos olhos de todos de há largas semanas para cá e que deixava adivinhar que seria uma questão de tempo até vivermos uma noite destas.

Houve exibições individuais paupérrimas - Ristovski, Battaglia, Gudelj e Jovane estiveram a um nível abismal - no meio de um nevoeiro tático que apenas Nani conseguiu furar com a sua clarividência, mas numa fase destas é perfeitamente claro que a responsabilidade é, sobretudo, de José Peseiro. Foi uma derrota com assinatura de treinador.

Quem, ao fim de três meses de trabalho, insiste num duplo pivot que funciona como uma espécie de anticiclone na construção de jogo (ver um jogo do Sporting 2018/19 é ver a bola sistematicamente a contornar o centro do terreno, a fugir de quem supostamente o devia pensar), quem, ao fim de três meses de trabalho, não consegue arranjar forma para que jogadores como Bruno Fernandes ou Montero deixem de receber a bola nas piores condições imagináveis, quem, ao fim de três meses de trabalho, insiste em impor a antítese de um futebol apoiado que impede que os nossos melhores executantes rendam o seu normal, quem, ao fim de três meses de trabalho, assiste impávido  ao definhar exibicional de um plantel que, apesar de desequilibrado - em parte por culpa sua -, não tem condições para continuar a ser treinador do Sporting.

A única coisa que pode segurar Peseiro neste momento é a dúvida sobre se valerá a pena mudar apenas por mudar, porque não vejo nenhum candidato que possa ser encarado como uma solução efetivamente de futuro. Mas a verdade é que olho para a frente e não consigo imaginar pior perspetiva do que ter que continuar a assistir a jogos da qualidade que temos tido até agora.

Este é o primeiro grande desafio da presidência de Frederico Varandas. Ao contrário do que pensava inicialmente, este nível exibicional torna muito difícil que seja possível aguentar Peseiro até ao fim da época sem que isso tenha o impacto negativo na sua própria presidência.

P.S.: foram assustadoras as imagens de Salin após ter embatido com a cabeça no poste. Que recupere rapidamente.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

O caso Nani

É complicado saber o que pensar da situação disciplinar que envolveu Nani. Olhando para o que aconteceu em Braga, pareceu-me na altura ser algo a que não se deveria dar grande importância: desabafos gerados pela frustração do momento, que não foram nem efusivos nem claramente dirigidos a alguém em particular. Os jornais pegaram no assunto pela rama e dois dias depois o tema parecia morto... até ao momento em que José Peseiro o comentou na conferência de imprensa de lançamento do jogo com o Marítimo. No sábado ficámos a saber que o capitão não foi convocado, sendo, ao que tudo indica, uma decisão de cariz disciplinar.

Não gostei de ver Peseiro na sexta-feira a reavivar o assunto, critiquei-o no Twitter por isso, mas precipitei-me. A verdade é que se a decisão de afastar Nani do jogo já tinha sido tomada, então o treinador não poderia deixar de comentar o caso.

Foto publicada pela conta de Twitter de Nani (LINK)
O que neste momento pode ser alvo de debate é se a atitude de Nani justificava uma sanção tão pesada. Mas mesmo nisso há que dar o benefício da dúvida a quem tomou a decisão: primeiro, porque não conhecemos o regulamento disciplinar a aplicar no plantel; depois, porque não sabemos o que se terá passado longe das câmaras; e finalmente, porque parece ser coerente com o que aconteceu com Matheus Pereira - que foi afastado de duas convocatórias após as suas queixas nas redes sociais.

Aos olhos de quem assiste a isto de fora, Nani parece ter aceitado bem a punição: esteve presente no PJR a assistir ao jogo da Liga dos Campeões em andebol e, posteriormente, no estádio e, ao longo deste período, manteve a (excelente) presença nas redes sociais.

Mais do que tentar encontrar vilões e vítimas em tudo isto - não temos dados suficientes para fazer esse tipo de julgamento público -, há uma conclusão que se pode retirar de tudo isto: não se olhou ao estatuto do jogador no momento de aplicar uma sanção disciplinar. E isso é um sinal importante que não deve ser ignorado, visto que era algo que preocupava muita gente após tudo o que tem acontecido ao longo dos últimos meses.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

O castigo a Matheus Pereira

Aquilo que Matheus Pereira fez no último domingo não é admissível. Ao usar as redes sociais para contestar a opção do treinador está a desrespeitar a hierarquia e o colega que ficou com o lugar que Matheus julgaria ser seu. Por acaso, o jogador que, provavelmente, ficou com esse lugar - Jovane - teve um papel decisivo no jogo, mas isso nem sequer é importante. Matheus tem o direito de não ficar satisfeito, tem até direito em demonstrar ao treinador o seu descontentamento pela opção - desde que de uma forma correta e no local apropriado. Nunca através do Twitter durante o intervalo de um jogo que, ainda por cima, não estava a correr propriamente bem ao Sporting.


Peseiro criticou (e bem) a atitude do jogador na conferência de imprensa que deu após o final do jogo de Moreira de Cónegos, e colocou Matheus a trabalhar sozinho. Não posso opinar se o castigo é justo ou severo porque não sei quando vai acabar nem se mais alguma coisa ocorreu na sequência deste episódio. O que sei (e espero) é que o objetivo do castigo deve ter em mente, para além da defesa da disciplina no grupo de trabalho. o próprio desenvolvimento do jogador - que é um ativo do clube e um atleta de grande potencial. Espero, por isso, que a SAD esteja a agir no sentido de que Matheus perceba que não pode repetir a atitude após a sua reintegração que, desejavelmente, deverá acontecer a muito curto prazo. A conversa de que poderá ser dispensado não faz qualquer sentido porque seria uma penalização completamente desproporcionada face ao erro cometido.

Espero também que os castigos não aumentem ou diminuem em função do estatuto. Sérgio Conceição chegou ao Porto há pouco mais de um ano e teve sucesso na abordagem disciplinadora que colocou em prática porque não olhou a nomes no momento de agir: encostou jogadores como Casillas, Soares e Marega. Se Peseiro se armar em valente com jovens que estão em fase de afirmação no Sporting e, ao invés, meter o rabo entre as pernas caso haja algum episódio idêntico (nas redes sociais, em campo ou num treino) a envolver um jogador com outro estatuto, então não será líder de coisa nenhuma. 

Espero que impere o bom senso com vista ao desenvolvimento de um talento que não nos podemos dar ao luxo de dispensar.

P.S.: percebo quem conteste este castigo face ao tratamento dado aos jogadores que rescindiram e regressaram, mas na minha opinião não são situações comparáveis. Esses jogadores rescindiram num contexto específico, que nada tem a ver com a gestão de um grupo de trabalho durante uma época desportiva, e entretanto chegaram a acordo com o clube para regressar. Do ponto de vista de quem gere o plantel, a questão das rescisões morreu aí, e não faria sentido que fossem mais tolerantes com acontecimentos como este de Matheus. Não agir seria meio caminho andado para termos o caos total no balneário numa questão de pouco tempo.

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Entrada com três pés direitos

Depois de uma pré-época pouco entusiasmante, a estreia em jogos a sério era uma excelente oportunidade para termos alguns sinais positivos que nos dessem ânimo para a época que estava a começar. Mas como a vida de um sportinguista nunca é fácil, os deuses decidiram colocar um obstáculo adicional quando os jogadores estavam no aquecimento... com uma lesão de Viviano que o deixou de fora da partida. Entrou Salin no onze, o árbitro deu o apito inicial... e aos dois minutos tínhamos o capitão amarelado por protestos de forma absurda, aos seis minutos já estávamos a perder e aos doze minutos era a vez de Bruno Fernandes também ver cartão por protestos. 

Dispensava-se um teste sério à estabilidade emocional da equipa tão cedo, mas aí estava ele. Felizmente, mesmo sem jogar bem (muito longe disso), a equipa foi capaz de virar o rumo dos acontecimentos e entrar no campeonato com o pé direito (ou, para ser mais rigoroso, com três pés direitos que colocaram a bola na baliza adversária).




O patrão Bruno - foi o único jogador que pareceu sempre esclarecido a atacar e a defender. Pouco acompanhado nos momentos de construção, conseguiu, ainda assim, tirar dois coelhos da cartola que foram decisivos para a conquista dos três pontos: excelente trabalho no golo do empate, recebendo o bom cruzamento de Ristovski, a tirar da frente o marcador direto e pontapeando para a baliza de forma indefensável, e um passe de régua e esquadro a deixar Dost na cara de Jhonatan para o golo da tranquilidade.

Bis Dost - falhou incrivelmente um golo em cima da linha, mas redimiu-se na segunda parte com um penálti marcado com enorme frieza e um chapéu de classe que fechou o resultado. É bom vê-lo novamente a distribuir abraços pelos companheiros.

Um mal que veio por bem - Salin foi um titular improvável, mas acabou por ser uma das figuras da partida. Muito seguro sempre que chamado a intervir, bem no jogo de pés e a controlar a profundidade, e ainda sacou uma excelente defesa que impediu o 2-1 para o Moreirense. Agarrou com as duas mãos a oportunidade que lhe apareceu no caminho.

As substituições - tardaram a ser feitas, mas resultaram e tiveram um impacto imediato na partida. Peseiro optou por refrescar os extremos - tentando aproveitar as circunstâncias de um jogo que estava cada vez mais partido - e não tardou que Jovane e Raphinha conseguissem mostrar serviço. Jovane acabou mesmo por ser decisivo ao ganhar o penálti que nos deu a vantagem no resultado.

A gestão de jogo nos minutos finais - com uma vantagem tangencial, a equipa soube ir congelando o jogo e foi capaz de controlar o adversário mantendo-o longe da nossa área. E ainda deu para marcar o golo da tranquilidade.



Muito para melhorar - apesar da vitória, a exibição da equipa levanta mais pontos de preocupação do que de confiança. O Sporting nunca dominou o jogo até se ver em vantagem no marcador e, pior, não conseguiu sequer controlar o adversário em períodos alargados da partida. A organização ofensiva da equipa é constrangedora - o que não admira pois jogámos com demasiados médios que pouco contribuem nessa fase - e depende exclusivamente do que Bruno Fernandes e Nani conseguem desencantar. No momento defensivo não foi complicado ao Moreirense abrir espaços a aproveitar a falta de ligação entre os nossos setores e a falta de qualidade de alguns dos nossos jogadores. Ganhámos porque temos melhores individualidades, não por sermos melhor coletivo.

Amarelos por protestos - já se sabia que os amarelos saem de forma muito mais rápida para os jogadores do Sporting, mas aquilo que aconteceu ontem em Moreira de Cónegos foi ridículo. Tiago Martins decidiu mostrar um amarelo a Nani, o capitão, por protestos que nada tiveram de espalhafatosos... logo aos 2 minutos de jogo. Dez minutos depois, foi a vez de mostrar a Bruno Fernandes, e mais tarde faria o mesmo a Jefferson. Os locutores da Sport TV disseram que os árbitros têm instruções para serem mais duros com situações de protesto... mas tenho muitas dúvidas de que o critério seja idêntico quando outras equipas estiverem em campo.

O desabafo de Matheus Pereira - não pode vir para as redes sociais demonstrar o desagrado por ter ficado de fora. Esteve muito bem José Peseiro a referir-se ao caso na conferência de imprensa.



MVP - Bruno Fernandes

Nota artística - 2

Arbitragem - Tiago Martins esteve bem no lance decisivo do jogo, já que Heriberto derruba Jovane com o joelho. Esteve mal ao nível disciplinar, pelos motivos referidos mais acima.



Vitória importante para dar alguma tranquilidade ao grupo de trabalho e para entusiasmar os adeptos. Espero que seja uma semana boa ao nível das vendas de Gameboxes.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Definições na baliza


Com a entrada de Peseiro e com o arranque da preparação da nova época, iniciou-se um período em que muitas decisões terão de ser tomadas na definição e estruturação daquilo que será o grupo de trabalho, quer ao nível da equipa técnica, quer ao nível dos jogadores. As questões a resolver são mais que muitas, mas, ao que parece, as primeiras surpresas estão ao nível da baliza, setor que parecia dos mais estáveis: a dispensa de Nélson e Tiago da equipa técnica e a possível contratação por empréstimo de André Moreira.

Compreendo a decisão de Peseiro em trazer o seu próprio técnico de guarda-redes, mesmo que isso implique a dispensa de Tiago e Nélson. O treinador tem o direito de escolher os elementos que irão trabalhar consigo, sendo que o habitual elemento da SAD na equipa técnica ficou salvaguardada com Tiago Fernandes. Claro que, pelos anos de casa que Nélson e Tiago têm, o processo de dispensa poderia e deveria ter sido conduzido de forma diferente, mas essa falha não pode ser atribuída ao treinador.

O que já tenho mais dificuldades em compreender é a necessidade de o Sporting receber André Moreira por empréstimo. Neste momento, a posição de guarda-redes está bem preenchida: 
  • Viviano tem a experiência e capacidade necessária para ser titular, ainda que seja uma tarefa muito complicada fazer esquecer por completo Rui Patrício; 
  • Luís Maximiano é uma das maiores promessas da nossa formação, podendo perfeitamente ser chamado ao onze em partidas da Taça de Portugal, Taça da Liga ou até Liga Europa para poder ir crescendo; 
  • e ainda há Salin para qualquer eventualidade em que se prefira não atirar Max às feras.

Pegando no título dado hoje pelo Record a este interesse, a pergunta que se pode colocar é: Peseiro quer André Moreira... para quê? Não colocando em causa o potencial do jogador, o que é que tem o Sporting a ganhar com o seu empréstimo? Não me parece que seja um predestinado cujo potencial compense a falta de experiência para poder ser visto de imediato como melhor solução que Viviano. E, sendo André Moreira um jogador de 22 anos a quem ainda faltam muitos minutos (a sua carreira na I Liga resume-se a 29 jogos disputados ao longo de quatro épocas) para poder ser encarado como uma certeza, não me parece que faça sentido que consuma oportunidades que deveriam ser dadas a Luís Maximiano - um jogador que é nosso, também com potencial e que justifica, esse sim, que se corram alguns riscos de forma a acelerar o seu crescimento e valorização.

Considerando que perdemos os jogadores com mais mercado - o que compremete os objetivos desportivos e futuras vendas -, não só não faz qualquer sentido estarmos a desenvolver e valorizar ativos de outros clubes, como me parece uma evidência que deveríamos concentrar os poucos recursos existentes na resolução de necessidades de plantel muito mais urgentes.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

Entregues aos bichos

A entrevista que Sousa Cintra deu ontem na SIC e SIC Notícias não foi propriamente esclarecedora sobre a maior parte dos temas que careciam de esclarecimentos mais concretos, mas não deixou de trazer algumas novidades relativamente a alguns dossiers importantes. Destaco, relativamente a estes últimos, o que foi dito sobre os jogadores que rescindiram e sobre a escolha de José Peseiro.

Em relação aos jogadores, fica a ideia de que os regressos de Bruno Fernandes e Podence estarão praticamente acertados, e que as negociações com Gelson estarão um pouco mais atrasadas. Cintra não abriu o jogo em relação às condições em que se efetuará o regresso dos jogadores, mas referiu existirem conversações com todos os atletas e/ou com os seus empresários. Disse também que o acordo com o Wolves por Rui Patrício estará praticamente definido, provavelmente pelos valores que foram inicialmente acordados com Bruno de Carvalho.

Mas a grande (pelo menos para mim) revelação da noite teve a ver com a contratação de José Peseiro:


Portanto, o empresário que colocou José Peseiro no Sporting foi... Jorge Mendes. Jorge Mendes. Que pode ajudar nalguma solução.

Portanto, estamos a procurar soluções junto de alguém que participou ativamente na decisão de alguns dos jogadores rescindirem. Já se está mesmo a ver o que se seguirá: vamos começar a receber entulho com a chancela Mendes e, ao mesmo tempo, daremos a Mendes a garantia de que será ele a negociar os jogadores que regressarão, eventualmente com direito a uma percentagem generosa da venda. Esta última frase é suposição minha, mas não se iludam: é assim que Mendes opera quando clubes em dificuldades procuram a sua "ajuda".

Chegou-se ainda ao ridículo de ouvirmos Sousa Cintra dizer que o Sporting não pode recusar a ajuda daqueles que se oferecem para nos auxiliar, referindo-se a nomes como Futre, Mendes... e Doyen. Assustador. Como se houvesse almoços grátis, ainda mais com essa gente.

Pobre Sporting... estamos entregues aos bichos.

P.S.: vou só deixar aqui esta imagem, captada ontem. Há uns tempos diria que era carvão, mas hoje, depois do que acabei de ouvir da boca de Sousa Cintra... não sei não.


segunda-feira, 2 de julho de 2018

Peseiro

Apesar de não concordar com a decisão da administração de Sousa Cintra em rescindir com Mihajlovic, consigo entendê-la. Ninguém pode contestar que, assim, se está a dar liberdade à futura direção de escolher o seu treinador sem estar sujeita a um encargo elevado - em virtude dos três anos de contrato e do salário milionário oferecido por Bruno de Carvalho ao sérvio. Espero apenas que o tal período experimental invocado seja efetivamente válido.

Mas uma vez tomada a decisão de se seguir por este caminho, só uma pessoa com muita fé no divino é que poderia acreditar que havia condições para contratar um treinador capaz de agradar à generalidade dos sportinguistas. Que treinador com mercado é que aceitaria vir para um clube privado das suas principais estrelas, com um contrato de curta duração (máximo de um ano) e salário moderado, sabendo que poderá não ter o apoio da direção que entrará em funções daqui a dois meses?

Acabou por ser escolhido José Peseiro. Ou seja, escolheu-se alguém com o perfil possível. 

Na noite de sábado assisti a variadíssimas reações à notícia. Cheguei à surpreendente conclusão de que é uma escolha consensual, já que foi muito elogiado por todos os comentadores sportinguistas e benfiquistas. Como tal, todos podemos ficar descansados.

Não tenho vontade para dizer muito mais sobre a contratação de José Peseiro que não seja o seguinte: por muito discutível que seja a sua contratação, o treinador não tem quaisquer responsabilidades sobre o atual estado do Sporting e certamente que fará o melhor que puder neste enorme desafio que o espera. O seu sucesso será o sucesso do Sporting e, como tal, espero muito sinceramente que seja feliz neste seu regresso a Alvalade.

Boa sorte.


domingo, 22 de maio de 2016

Soltas sobre a final da Taça de Portugal

  • A partir do momento em que o Porto chegou ao empate, nunca pensei que o Braga chegasse aos penáltis. Depois do 1-2, a equipa de Paulo Fonseca estava nitidamente intranquila, e adivinhava-se o empate a todo o momento. Nestas situações o fator psicológico conta muito, e notava-se o fantasma da final do ano passado a pairar sobre os jogadores do Braga. Se o Porto arriscasse no prolongamento e mantivesse a urgência de marcar um golo, não acredito que o desfecho tivesse sido o mesmo.
  • Há que dizer que este Braga pouco fez para ganhar o jogo. Os dois golos que marcou foram autênticas ofertas. De resto, uma quase confrangedora incapacidade de sair a jogar, confirmando que estão muito longe daquilo que jogavam até há um par de meses. Mais do que ter sido o Braga a ganhar, foi o Porto a perder esta final.
  • É fácil falar nestas coisas no final, mas a utilização de Hélton não fazia grande sentido, logo à partida. Não só pela escassa utilização ao longo da época, mas sobretudo porque se mostrou muito irregular - capaz do melhor e do pior - nas oportunidades que lhe deram. É verdade que Casillas também não foi um poço de regularidade, mas numa final têm que ir (sempre) os melhores lá para dentro. Se não for assim, um treinador sujeita-se a que coisas destas aconteçam.
  • Por falar em Casillas, pode não valer (na minha opinião) os 5 milhões que recebe anualmente, mas há que admirá-lo pelo profissionalismo demonstrado e pelo compromisso com a equipa. Ao contrário do que se poderia esperar - em função do que se dizia dele no Real -, em Portugal não mostrou quaisquer tiques de estrela. A forma como festejou o 2-2 (apesar de ter ficado no banco) e procurou moralizar Hélton deve tê-lo feito subir vários pontos na consideração de muita gente.
    • É incrível como o Porto conseguiu desbaratar o maior orçamento da história do futebol português. Apesar de tanto dinheiro gasto em contratações, o plantel ficou desequilibrado e coxo em posições fundamentais. As mudanças efetuadas em janeiro ainda agravaram mais a situação. É o que dá contratar-se só para dar uma alfinetada num dos rivais. Mas desta vez foi o alfinetado que se ficou a rir. Os 6 ou 7 milhões gastos em Marega, Suk e Sá chegavam e sobravam para contratar um central de categoria, o que provavelmente seria suficiente para evitar vários dos amargos de boca que sentiram na segunda metade da época - incluindo na final de hoje. E já nem entro na forma como se decidiu dispensar Lopetegui sem ter um plano alternativo bem definido. Uma gestão desastrosa, quase tão má como a forma como Godinho Lopes planeou e conduziu a época de 2012/13.
    • Desde que a parceria com a Doyen se intensificou, o Porto ganhou zero. Uma coisa não é consequência direta da outra, mas também não lhe é completamente alheia.
    • E que dizer da atitude de Pinto da Costa, a ignorar deliberadamente José Peseiro?

    • Não faz grande sentido criticar-se Fernando Santos por não ter convocado André Silva para o Europeu. Com meia-dúzia de jogos pela equipa principal e um golo marcado no momento em que os 23 foram divulgados, é perfeitamente compreensível que o selecionador não sentisse confiança suficiente para o incluir na convocatória. Mesmo tendo marcado dois golos hoje, continua a ser (em teoria) curto para chegar à seleção A. Poderia fazer sentido numa ótica de preparar o futuro, à semelhança da ida de Nélson Oliveira ao Euro 2012, mas todos sabemos como isso correu. Claro que, perante a ida de Eder, qualquer outro nome parece fazer bastante sentido...



    segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

    Ainda sobre as indicações à la carte de Vítor Pereira


    José Peseiro a falar com o fiscal-de-linha e Lito Vidigal fora da área técnica, durante o jogo de ontem. Será que as indicações dadas na semana passada por Vítor Pereira aos árbitros para serem intransigentes, já expiraram? Ou foram simplesmente congeladas temporariamente para serem retomadas hoje?

    (via @captomente)

    quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

    Peseiro e os sinais que ficam do processo de substituição de Lopetegui

    Peseiro é o novo treinador do Porto. As memórias que a sua passagem pelo Sporting me deixou é a de uma pessoa correta que conseguiu pôr a equipa a jogar futebol muito atrativo, mas igualmente inconsistente. Foi um ano inteiro de altos e baixos exibicionais que, como todos nos lembramos, terminou naquela fatídica semana em que o Sporting perdeu, a 3 tempos, o 1º lugar, a final da Taça UEFA, e ainda o 2º lugar e acesso direto à Liga dos Campeões.

    Desse período negro ficou também a incapacidade que o treinador demonstrou para ter mão no balneário. A forma como Liedson se autoexcluiu do jogo da Luz e o episódio inqualificável que, segundo Carlos Severino, se passou no intervalo da final com o CSKA, nunca teriam acontecido com um treinador que fosse um líder forte.

    Os anos que se seguiram não alteraram a minha perceção (nem, creio, a da generalidade das pessoas) sobre as qualidades e defeitos de José Peseiro. Em particular a sua passagem recente pelo Braga que, apesar da conquista da Taça da Liga, confirmou totalmente as impressões que vinham de trás. 

    Daí achar que, à primeira vista, o perfil de Peseiro ser totalmente o oposto daquilo que o Porto necessita. Com o plantel que terá à sua disposição, será seguramente capaz de pôr a equipa a jogar um futebol de ataque bem mais atrativo que o de Lopetegui. Por outro lado, isso acontecerá seguramente à custa da segurança defensiva, pois o sistema de jogo de Peseiro colocará a equipa muito mais exposta aos contra-ataques adversários - e como sabemos, a qualidade individual dos centrais e as competências defensivas dos laterais não são propriamente o ponto forte do Porto. Para além disso, o balneário não deverá ser propriamente fácil de gerir - os melhores jogadores sabem que estão de passagem e existem muitos que poderão não ter gostado da dispensa de Lopetegui.

    De qualquer forma, considerando a qualidade do plantel do Porto, não podem de forma alguma ser excluídos da luta pelo título.

    Mas, na minha opinião, a principal nota de destaque de todo o processo de substituição de Lopetegui por Peseiro é a desorientação revelada pela direção do Porto. Poucas semanas depois de Pinto da Costa ter falado de Lopetegui de forma extremamente elogiosa, o treinador basco foi despedido. Pior, foi despedido sem que a direção do Porto tivesse uma sucessão minimamente acautelada. Não digo que todos os nomes que apareceram na imprensa (Villas-Boas, Jardim, Marco Silva, Nuno Espírito Santo, Luís Castro, Paulo Bento, Sampaoli, Bielsa, Conceição ou Jesualdo, alguns deles tendo sido dados como certos em momentos diferentes) tenham sido efetivamente hipótese para o cargo, mas é natural que se pense que o período de 11 dias que decorreu sem que o Porto anunciasse o novo treinador se deveu a tentativas falhadas de convencer aqueles que eram realmente desejados.

    A verdade é que Pinto da Costa e a sua direção já vão numa sequência de 3 treinadores que não tiveram sucesso - Paulo Fonseca, Luís Castro e Lopetegui -, e as condições para que o quarto tenha melhor sorte não são propriamente animadoras: para além da questão anímica da equipa, já se vai falando no desinvestimento no plantel devido às evidentes complicações orçamentais que a eliminação precoce da Liga dos Campeões causou e que a indemnização devida a Lopetegui veio agravar.

    Para além disso, há tudo o resto: um orçamento para o futebol altamente desequilibrado e perigosamente dependente das mais-valias de vendas de jogadores, e os indícios de enorme instabilidade dentro da estrutura do clube, que vai desperdiçando uma parte considerável dos seus recursos a alimentar uma legião de comissionistas que parece ter tomado de assalto a política de transferências do clube. Já vi o Porto muito mais longe de se tornar uma espécie de Sporting de Godinho Lopes.