terça-feira, 27 de maio de 2014

Balanço de 2013/14: Bruno de Carvalho


Foi indiscutivelmente uma das figuras da época. Usando um estilo de comunicação pouco discreto e que gera muitos anti-corpos, Bruno de Carvalho dificilmente alguma vez passará despercebido, mas a verdade é que o resultado do seu trabalho ultrapassou largamente as expetativas que os adeptos sportinguistas tinham há cerca de um ano.

O primeiro tema crítico relativo a 2013/14 foi a escolha do treinador. A decisão mais fácil seria manter Jesualdo Ferreira (muitos sportinguistas, entre os quais eu, defendiam a continuidade de Jesualdo), mas Bruno de Carvalho não teve dúvidas em ir para a guerra com um treinador que se identificasse totalmente com o seu projeto para o clube. Leonardo Jardim foi uma escolha de sucesso indiscutível que teve um impacto enorme no sucesso da época.

Mas os méritos de Bruno de Carvalho não se ficam por aqui: implantou uma cultura de exigência transversal a todas as áreas do clube; o Sporting passou a falar a uma só voz; montou uma estrutura para o futebol capaz de blindar o balneário e de fazer o seu trabalho longe dos olhares da comunicação social; tratou os sócios como adultos, não tendo medo de lhes expôr a realidade, por mais difícil que fosse, e corresponsabilizou-os no crescimento do clube. Como consequência de tudo isto, conseguiu recuperar a auto-estima dos sportinguistas.

Defendeu intransigentemente os interesses do Sporting, não tendo problemas em abrir diversas frentes de batalha sempre que necessário: a denúncia da negociata James / Moutinho, o corte de relações com o Porto, o caso Bruma, as propostas de melhoria do futebol português, a contestação ao atraso da Taça da Liga, e as críticas à arbitragem em momentos oportunos. Algumas dessas frentes acabaram por não ter consequências práticas, mas pelo menos lutou pelo que achava justo e conseguiu até expôr aos olhos de todos alguns dos interesses instalados nas cúpulas do poder do futebol.

No meio de tanto trabalho feito de forma competente, houve também aspetos menos positivos: demonstrou reagir mal à crítica (fazendo comentários dispensáveis como "esse espectador não deve ser concerteza sportinguista" ou "as pessoas não sabem do que estão a falar"), e por vezes exagerou na provocação aos adversários, como nos episódios sobre a cor da bandeira e "os nossos adversários têm que começar a dar mais luta". Prefiro deixar a bazófia para os adeptos de outros clubes.

Em resumo, Bruno de Carvalho teve uma época extremamente positiva, em que conseguiu reconciliar muitos adeptos com o clube, devolvendo o entusiasmo a Alvalade, e permitindo que os adeptos sonhassem alto num ano que se antevia de pesadelo.