sexta-feira, 16 de maio de 2014

Capas que não fizeram história, nº 35: Filhos e enteados

A pré-convocatória de 30 jogadores que Paulo Bento divulgou na terça-feira veio dar razão aos que acreditam que existe má vontade por parte do selecionador em relação aos jogadores do Sporting. Ao mesmo tempo, dá a ideia que se sente o dever de selecionar qualquer jogador do Benfica que faça alguns minutos pela equipa principal.

Não é novidade nenhuma.

Por exemplo, em fevereiro de 2012, Nélson Oliveira conseguiu a proeza de alcançar a sua 1ª internacionalização sénior contra a Polónia numa altura em que tinha sido utilizado pelo Benfica no campeonato em apenas 77 minutos. Só depois de ter chegado à seleção é que teve oportunidade de ser titular no campeonato e de ser utilizado na Liga dos Campeões.
Março de 2012

A verdade é que Nélson Oliveira foi mesmo um dos 23 jogadores convocados para o Euro 2012, apesar de ter sido utilizado 390 minutos no campeonato inteiro (que corresponde a pouco mais de 4 jogos completos), 43 minutos na Liga dos Campeões, e 330 minutos na Taça da Liga.

Apesar de achar arriscada a presença de Nélson Oliveira na fase final de uma competição desta importância, compreendi a decisão de Paulo Bento. Tratava-se de um jogador com muito potencial para a posição cronicamente mais deficitária da nossa seleção. Fazia sentido dar-lhe rodagem e calo nestas grandes competições, encarando-a como uma aposta para o futuro. Está visto que o investimento esfumou-se.

Já no início de 2013/14, Paulo Bento teve várias decisões dentro da mesma linha. No princípio de setembro, na convocatória para o jogo na Irlanda do Norte, chamou Rúben Amorim (que tinha 93 minutos de utilização no Benfica), deixando Adrien de fora (264 minutos). Adrien seria depois chamado para render o lesionado Rúben Micael, mas não foi utilizado.

No princípio de outubro convocou para os jogos com Israel e Luxemburgo André Almeida (que jogaria os 180 minutos) e Cédric (que não foi utilizado). Na altura da convocatória, Cédric tinha 630 minutos (totalista nos jogos do Sporting), e André Almeida tinha 117 minutos para o campeonato e 180 minutos para a Liga dos Campeões. Mais polémico foi o facto de nem sequer ter convocado William Carvalho, que já era um dos jogadores em destaque no Sporting (melhor jogador jovem de agosto / setembro, 2º melhor jogador de agosto / setembro da Liga). 

William seria convocado na oportunidade seguinte, no play-off com a Suécia, e foi lançado às feras logo após os suecos terem feito o 2-1 e estarem a um golo da qualificação para o mundial. Felizmente para William, o jogo correu bem e até esteve na recuperação de bola do lance que daria o 2-2.

No final de fevereiro foi a vez de Ivan Cavaleiro se estrear na seleção principal, apesar de ter jogado 12 minutos na equipa principal do Benfica para o campeonato nos dois meses anteriores. Ficámos a saber que a utilização frequente numa equipa B também é um critério a ter em conta numa convocatória da nossa seleção.

Infelizmente é isto: enquanto a uns basta-lhes envergar um determinado símbolo ao peito para serem chamados por Paulo Bento e entrarem na estatística como internacionais, a outros não é suficiente serem dos melhores da Liga na sua posição.

O que estará na base desta discrepância de tratamento de Paulo Bento?

Critérios exclusivamente técnicos? Ninguém acredita nisso.

Ressabiamento dos seus tempos de treinador do Sporting? Tentativa de satisfazer os adeptos do Benfica de forma a apoiarem mais a seleção? Uma forma de agradar aos superiores hierárquicos?

Quem souber que responda.