terça-feira, 3 de março de 2015

Os proveitos operacionais dos três grandes (excluindo transferências de jogadores)


Nota: para se perceber o lucro dos direitos televisivos, será necessário deduzir os custos de funcionamento da Benfica TV, que é algo que não é discriminado no R&C do Benfica. Mantendo o nível da época passada, os custos andarão à volta dos €5,5M.


Há uma novidade muito interessante nos R&C do 1º semestre divulgados por Sporting, Benfica e Porto: pela primeira vez são relatórios equiparados, pois o Sporting e o Porto passaram agora a incluir os números relativos ao estádio - coisa que o Benfica já fazia -, e também porque a participação do Sporting na Liga dos Campeões acaba por ajudar a colocar em pé de igualdade a análise de certos indicadores - como os bilhetes de época, bilheteira e prémios da UEFA - que nas épocas anteriores eram afetados negativamente pela nossa ausência nessa competição.

Comparando os números do Sporting com os seus rivais, há duas importantes conclusões a que podemos chegar:


1. As receitas do Sporting que dependem da massa adepta está ao nível dos seus rivais

Havendo Champions para vender e uma equipa competitiva, o Sporting tem uma capacidade de movimentação de massas que não perde em nada para os seus rivais. O Sporting é o clube que mais faturou em lugares de época (com um valor muito semelhante ao do Benfica) e em termos de bilheteira está equiparado ao Porto, a curta distância do Benfica. 

Não é possível avaliar em termos de quotização porque a SAD não tem direito a qualquer valor (os valores das quotizações ficam integralmente no clube). As SAD de Benfica e Porto recebem 25% das quotizações totais. A única forma de compararmos o Sporting com Benfica e Porto é pegar no orçamento apresentado pelo Sporting (clube) para 2014/15:



Se o orçamento fosse cumprido e se a Sporting SAD recebesse 25% do valor das quotizações, o valor encaixado seria de €0,889M (referentes a 7 mensalidades num total de 13). Ou seja, a meio caminho entre Porto e Benfica. Fica também a expetativa para perceber o impacto que a campanha Sócio num Minuto terá - mas isso é algo que só afetará o 2º semestre e que apenas será conhecido quando o clube apresentar as suas contas em AG.

-------- Interlúdio --------

Bruno de Carvalho referiu numa entrevista durante o verão que o Sporting na altura tinha 60.000 sócios pagantes, com uma quota mensal média de 8€. Se multiplicássemos os 60.000 pagantes por 8€ e por 13 mensalidades, o valor anual de quotização seria de €6,24M. Isto significa que o orçamento das quotizações (€6,1M) foi elaborado de forma prudente e está perfeitamente dentro dos números avançados pelo presidente.

Ora, aplicando a mesma lógica de raciocínio ao Benfica (a demografia é a mesma), as quotizações totais do Benfica no 1º semestre (relativo a 7 quotas mensais - os escalões de pagamento são semelhantes), os €1,29M declarados corresponderão a um total de €5,16M pagos pelos sócios. Dividindo este valor por 7 quotas, obtemos €0,74M por mensalidade. Dividindo por 8€ de quota média, chegamos a 92.142 sócios pagantes. Admito que o número possa ser superior em função do nível de sucesso da campanha Sócio Zero Euros, realizada durante o 1º semestre. De qualquer forma, fica claro para toda a gente que os 235.000 sócios são mesmo um mito. Números à Benfica, portanto.

-------- Fim do Interlúdio --------

Moral da história: sabem aquela ideia que andam a tentar vender de que o Sporting é o 3º grande? Tudo tretas. Não podemos aceitar que nos coloquem num patamar abaixo dos outros dois.


2. O Sporting precisa de conquistar espaço no relacionamento com o mercado empresarial e publicitário

O valor dos camarotes do Sporting só passou agora a ser conhecido pois constava das contas da SPM. De qualquer, é visível o enorme atraso que temos para os nossos rivais. Ao nível dos patrocínios registámos algumas melhorias, mas continuamos com muito caminho por percorrer para chegarmos ao nível de Benfica e Porto.

O atraso que temos nestas rubricas devem-se, na minha opinião, a dois fatores fundamentais:

  • As empresas são atraídas acima de tudo pelos clubes que ganham - é algo perfeitamente natural, e é mais um motivo que torna essencial a vitória na Taça de Portugal - não só a bem dos adeptos e da auto-estima do clube, mas também para tornar o Sporting mais atrativo para os patrocinadores. 
  • Existe uma perceção errada do peso real do Sporting no panorama nacional - que peca por defeito, como é evidente. Os números de bilheteira, de lugares de época e de quotizações demonstram que estamos acima do Porto e não tão distantes do Benfica. E isto apesar de não conquistarmos títulos há muitos anos. O potencial do Sporting é enorme, e penso que o clube deveria divulgar incessantemente esta ideia ao mercado.

A perceção para as empresas é extremamente importante. Voltar às vitórias é imperativo, mas cabe-nos também a nós passarmos o orgulho de pertencermos à maior potência desportiva nacional e valorizarmos sempre que possível os nossos patrocinadores. Não quero dizer com isto que devemos consumir tudo o que está associado ao Sporting de forma cega, mas em igualdade de circunstâncias na qualidade dos produtos de um patrocinador nosso e de um concorrente, não deveríamos hesitar em qual deles escolher - e não nos esquecermos de lhes dizer o motivo da nossa decisão.