sábado, 19 de outubro de 2013

Fredy Montero e a mudança de paradigma

Quando falamos de Fredy Montero, já ninguém pode negar que estamos na presença de um ponta-de-lança de qualidade indiscutível. Técnica apurada, excelente controlo de bola, grande mobilidade e acima tudo uma incrível frieza no momento de finalização fazem de Fredy um matador que faz a diferença.

A verdade é que torci o nariz quando soube que o Sporting o tinha contratado. Um jogador de 26 anos que andou principalmente pela MLS, com uma média de golos não muito entusiasmante, numa equipa de que nunca tinha ouvido falar, não costuma gerar grande entusiasmo em pessoas como eu que não dão nenhuma atenção a campeonatos menos mediáticos.

Encontrei um artigo da ESPN sobre Fredy, de Abril de 2012, que mostra que o seu valor era mais que reconhecido nos EUA, independentemente do número de golos que marcava. Para quem não estiver na disposição de ler o artigo todo, que é extenso, ficam aqui algumas das passagens que me parecem mais interessantes.

It seemed obvious at the end of last year that Montero's days with the Seattle Sounders were numbered, but following the first weeks of the new season, the reality is clear: He's just too good for this. The Seattle Sounders and MLS helped him reach this level, but it's one that Montero has since transcended.
MLS is an extremely tough league; hard challenges that might be considered a yellow card offense by referees in South America or continental Europe may go unnoticed by MLS officials. As a result, Fredy Montero has been brutalized at times in his three-plus seasons -- but that's a good thing. After all, the Seattle forward didn't need to develop his skill or learn how to finish; he simply needed to toughen up, and MLS obliged.
Unlike the Montero that would go down easily at the slightest contact in his inaugural MLS season, the Montero of 2011 could stay on his feet more often and avoid losing the ball under pressure.
While Seattle has the biggest fan support in the league, this league always felt like a stepping stone for Montero. Three years ago, the striker wasn't good enough or sufficiently prepared for European soccer; Today, there's absolutely no doubt that he's ready.
Having failed to find Montero a viable long-term strike partner for three (and now running into four) seasons -- Blaise Nkufo and O'Brian White were the closest, though Nkufo lasted one season before retiring and White was injury prone -- the Colombian is almost owed that courtesy.


Se é bem provável que os próprios dirigentes do Sporting que contrataram Fredy Montero tenham ficado positivamente surpreendidos pelo rendimento imediato e avassalador que o jogador demonstrou, há uma coisa que não parece ter sido obra do acaso: a mudança de paradigma das contratações.

Em vez de contratar jogadores jovens com grande potencial de valorização, esta direção parece ter uma estratégia diferente: contratar jogadores já com experiência, de forma a obter deles um rendimento mais imediato. Magrão tem 28 anos, Montero tem 26, Jefferson, Slimani e Maurício têm 25, Piris tem 24. A única exceção foi Cissé, que tem 20 anos, e mesmo assim já tinha um ano de experiência de primeira divisão portuguesa.

Jovens para valorizar já os temos na academia. Excetuando alguns casos especiais, não se justifica a contratação em massa de jogadores jovens para desenvolver como Viola, Xandão, Carrillo, Rubio, Arias, Van Wolfswinkel ou Torsiglieri. Ainda por cima, meia Europa (nos quais se incluem Porto e Benfica) estão na disposição de gastar milhões à procura do novo Messi, do novo James, do novo Di Maria, do novo Van Persie. Não temos forma de competir no mercado europeu, no brasileiro, no argentino ou mesmo no mexicano. Já há demasiado dinheiro e demasiada especulação nos valores dos passes dos jovens desses mercados.

Agrada-me esta aposta em jogadores mais maduros, em mercados menos mediáticos, para complementar a juventude da academia. Do ponto de vista económico a vantagem é evidente, mas para além disso assegura uma adaptação mais rápida dos jogadores contratados e uma menor responsabilização dos jovens da casa em terem que carregar a equipa às costas, dando-lhes mais espaço de desenvolvimento nos seus primeiros anos de sénior.