quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O verdadeiro teste

Se há uma ideia que tem unido nesta última semana a esmagadora maioria dos jornalistas, comentadores e paineleiros da nossa praça, é que o Sporting ainda não teve nenhum teste realmente a sério às suas capacidades. 

Argumentam que a vitória do Sporting em Braga acabou por não ser um teste a sério porque jogou com mais um durante 60 minutos, e que o empate com o Benfica é pouco relevante porque o Benfica estava em crise na altura. Nota-se que existe em certos quadrantes um esforço deliberado para desvalorizar o que o Sporting conseguiu fazer até agora.

Vem agora o jogo com o Porto, e de facto se há um teste verdadeiramente a doer, é este. Não podemos ter ilusões, não há jogo mais difícil em Portugal do que ir ao Dragão. Mas daí a dizer-se que o Sporting este ano ainda não teve testes à sua capacidade vai uma grande distância. 

A equipa portou-se muito bem no jogo com o Benfica, dominando a maior parte do jogo, tendo sofrido um golo num lance individual que, efetivamente, uma equipa mais experiente teria conseguido anular. E certamente que em Braga o Sporting não teve culpa que Aderlan tenha derrubado Montero quando este se ia isolar. O Sporting já foi testado contra adversários de valor e a resposta foi genericamente positiva.

Mas o que eu não vejo fazer é o exercício ao contrário. E as outras equipas, nomeadamente Porto e Benfica, será que já superaram testes complicados?

Os jogos mais difíceis que o Benfica teve foram contra:
  • Sporting na 3ª jornada, onde empatou graças a talentos individuais e não convenceu coletivamente
  • Guimarães, na 5ª jornada, onde ganhou à tangente contra uma equipa que jogou com 10 durante 30 minutos, e que tinha apenas 3 dias de descanso após ter jogado para a Liga Europa
  • PSG, para a Liga dos Campeões, onde só não foi humilhado porque os franceses levantaram o pé do acelerador
  • Estoril, na 7ª jornada, em que ganhou à tangente contra uma equipa que jogou com menos um durante 35 minutos, e que tinha tido uma deslocação longa para a Liga Europa apenas 3 dias antes
  • Olympiacos, para a Liga dos Campeões, em que empatou mas foi dominado enquanto houve relvado que permitisse jogar futebol
Por sua vez, o Porto teve desafios difíceis com:
  • Estoril, na 5ª jornada, onde empatou contra uma equipa que tinha jogado 3 dias antes para a Liga Europa
  • Atlético Madrid, para a Liga dos Campeões, em que perdeu em casa
  • Zenit, para a Liga dos Campeões, em que perdeu em casa
Ou seja, se formos rigorosos, vemos que nem Benfica ou Porto passaram com distinção nenhum dos jogos mais complicados que tiveram este ano. É certo que têm uma experiência acumulada recente que os pode dispensar de ter que provar o seu valor da mesma forma que o Sporting, mas não vejo nem adeptos do Porto nem do Benfica convencidos com o futebol que as suas equipas andam a praticar.

O Porto perdeu dois jogadores muito influentes, principalmente Moutinho, e mudou para um treinador que ainda não conseguiu colocar a equipa a jogar futebol de qualidade de forma consistente. O Porto de Paulo Fonseca, quando defrontou equipas de nível de dificuldade superior, ainda não conseguiu ganhar uma única vez.

O Benfica, apesar de manter o treinador e os jogadores da brilhante (digo isto sem ironia) temporada de 2012/13, não é a mesma equipa devido a três fatores: (1) o primeiro tem a ver o trauma psicológico provocado pelas derrotas nas três competições e por haver jogadores que já não querem estar no Benfica, (2) seja por desgaste na relação com o treinador, (3) seja por terem visto goradas as suas expetativas de salto para outras equipas.

Penso, portanto, que é injusto que toda esta conversa de falta de testes a doer se concentre exclusivamente no Sporting. Mas por outro lado talvez seja melhor assim. Que continuem jornalistas, comentadores e paineleiros a mascarar as debilidades dos outros e a confrontar-nos com as nossas. Só encaradas de frente é que essas debilidades podem ser ultrapassadas.