quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Uma vez um boy, sempre um boy


Fala-se com insistência num movimento de clubes liderado pelo Porto para tentar retirar Mário Figueiredo da Liga e colocar Rui Pedro Soares.

Rui Pedro Soares, dragão de ouro de sócio do ano 2008/09, é também presidente do Belenenses. Há cerca de um ano, passou a ser detentor de 61% de ações do Belenenses após pagar cerca de 500€, correspondendo a 0,001€ por ação.

O nome do presidente do Belenenses não é estranho para ninguém que preste alguma atenção ao fenómeno político português. Pertencendo ao PS, Rui Pedro Soares foi nomeado pelo Governo de José Sócrates como administrador executivo da PT. Rui Pedro Soares tinha na altura 32 anos. Ninguém com dois palmos de testa acredita que tenha sido pelas suas competências enquanto gestor. Rui Pedro Soares é um excelente exemplo de uma das piores facetas deste país: um indivíduo que sobe na vida à custa do cartão partidário e não pelo mérito.


Os episódios estranhos em que Rui Pedro Soares não se ficaram por aqui. É uma das figuras apanhadas nas escutas do caso Face Oculta, a falar sobre uma possível compra da TVI pela PT, para controlar um canal que estava a ser incómodo para o Governo de Sócrates. Também é administrador da Taguspark, que pagava €350.000 por ano a Luís Figo para promover o parque tecnológico e, ao que se disse na altura, também para se declarar como apoiante do PS.

Curiosamente, há uns tempos saíram umas notícias em que Luís Filipe Vieira ponderava vender os direitos televisivos dos jogos do Benfica (antes de se decidir pela Benfica TV) a um projeto empresarial liderado por Rui Pedro Soares associado ao grupo espanhol Mediapro, que é o atual detentor do Porto Canal (em parceria com o F.C.Porto).

Estamos conversados em relação à integridade de Rui Pedro Soares. Agora é a face visível (uma evolução em relação ao caso Face Oculta) de um movimento de clubes que inclui o grupo Porto & Amigos (em que os principais são Porto, Braga, Guimarães, Académica e Belenenses). A importância que a Liga tem nos dias que correm é relativamente escassa, afinal o poder sobre os árbitros e sobre a justiça desportiva reside na FPF. O que está em causa é a tentativa de Mário Figueiredo centralizar os direitos televisivos na Liga, o que seria, convenhamos, algo de incómodo para Joaquim Oliveira e para a SportTV. Rui Pedro Soares pelos vistos gosta de ajudar a afastar gente incómoda para os seus amigos.

Não acho que Mário Figueiredo seja um bom presidente da Liga. É natural que se suspeitasse da sua independência quando foi eleito, pois é genro do presidente do Marítimo e sócio no escritório de advogados de Adelino Caldeira. Entretanto parece ter decidido proteger o interesse dos clubes pequenos contra os grandes, muitas vezes revelando falta de bom senso, e acabou por perder grande parte do apoio que tinha. E na verdade tem sido protagonista de episódios pouco dignos, nomeadamente ao tentar enfiar alterações de regulamentos de forma encapotada, para tentar ver se passavam despercebidas.

Mas isso não legitima mais uma tomada de poder de Joaquim Oliveira e Pinto da Costa, desta vez usando como muleta um homem que representa muito do que há de podre na sociedade em que vivemos. Gradualmente o ar do futebol português tem ficado menos poluído com a saída de cena de algumas figuras sinistras como Valentim Loureiro, Pinto de Sousa ou Adriano Pinto. Mas se é para dar lugar a tipos como este, não há grandes motivos para ter esperança num futuro melhor.
Imagem retirada do blog: WEHAVEKAOSINTHEGARDEN