quinta-feira, 21 de novembro de 2013

José Manuel Ribeiro e o sucesso da desinformação

José Manuel Ribeiro, diretor de O Jogo, fez no princípio desta semana mais um artigo (obrigado pela informação, RP!) sobre a formação do Sporting. O texto consiste num singelo parágrafo, mas o conteúdo vem perfeitamente na linha do post que escrevi recentemente sobre este senhor.


Gostaria de refletir sobre os comentários de José Manuel Ribeiro sobre a equipa B de 2012/13, sobre a equipa B de 2013/14, e sobre o aproveitamento da formação do Sporting em geral.


Os "miúdos maravilha" de 2012/13

Pressuponho que por "miúdos maravilha", José Manuel Ribeiro se refere (com a sua habitual dose de sarcasmo) aos jogadores da equipa B que foram utilizados por Jesualdo Ferreira. Olhando para as estatísticas individuais da equipa principal na época passada, vemos que a utilização foi a seguinte nos 42 jogos oficiais realizados:

Fonte: zerozero.pt

Ou seja, "miúdos maravilha" com uma utilização considerável, só existiram três: Dier, Bruma e Ilori, respetivamente os 19º, 22º e 23º mais utilizados em 2012/13. Desses, Bruma e Ilori saíram como todos sabemos. Isso significa que só ficou Dier, que efetivamente tem tido uma utilização irregular. 

Seria expectável que todos os outros jovens tivessem uma avenida aberta para a titularidade da equipa principal quando a sua utilização na época passada variou entre 12 e 327 minutos? Só se for na cabeça de José Manuel Ribeiro, porque nenhum sportinguista esperava que isso pudesse acontecer.


João Mário e o sucesso da fornada 2013/14

João Mário é um caso especial na equipa B. No final da época passada os sportinguistas esperavam que fizesse promovido ao plantel principal já este ano. Não para titular indiscutível, mas para ter uma utilização moderada. Aliás, João Mário fez parte da pré-época com o plantel principal e chegou a ser utilizado contra a Real Sociedad.

No entanto, o aparecimento de William Carvalho para uma posição onde já havia Rinaudo, retirou o espaço de que João Mário precisaria para poder subir definitivamente ao plantel. Se fosse uma terceira opção, poucos minutos faria (aliás, basta ver a pouca utilização que Rinaudo tem tido), o que não seria bom para o seu desenvolvimento.

Daí fazer todo o sentido que João Mário seja emprestado ao Cercle, pois o jogador precisa de um patamar competitivo e motivacional superior ao que a Liga de Honra pode oferecer.

Agora, quando José Manuel Ribeiro, sobre o empréstimo de João Mário, escreve "Para o provar, temos o maior êxito na matéria em 2013/14, que não é tão grande como se diz.", recorrendo novamente à fina ironia que caracteriza o seu presidente, falha na minha opinião em dois aspetos: 

1. O empréstimo ao Cercle não representa nem sucesso nem insucesso, é apenas mais um patamar que um jogador da formação sobe no sentido de prosseguir o seu desenvolvimento e aumentar as hipóteses de mais tarde transitar para o plantel principal do Sporting.

2. José Manuel Ribeiro parece ter-se esquecido de Carlos Mané. É que Carlos Mané já fez parte do Sporting B do ano passado (apesar de na altura ainda ter idade de júnior), do Sporting B deste ano, e agora tem vindo a ser lançado gradualmente na equipa A. Ainda é cedo para dizer se Mané será um caso de sucesso da formação, mas pelo que o jogador já mostrou e pela estratégia de integração que Leonardo Jardim tem levado a cabo, não há motivos para que os sportinguistas não se possam sentir otimistas.


Sporting e o sucesso da formação

Ter sucesso na formação não quer dizer que o plantel tenha que gerar cinco novos titulares todos os anos. É um processo que tem que ser visto numa ótica de continuidade, e não em balanços individualizados ano a ano. 

Escreveu o diretor de O Jogo que "Do berçário, Leonardo Jardim só garante lugar efetivo a Rui Patrício, Adrien e William Carvalho.". Pois bem, talvez José Manuel Ribeiro não tenha reparado, mas este ano, em 11 jogos oficiais, o "berçário" do Sporting teve a seguinte participação:
  • 11 jogos - Adrien e Wilson Eduardo
  • 10 jogos - Rui Patrício e William Carvalho
  • 9 jogos - Cédric e André Martins
  • 5 jogos - Eric Dier
  • 3 jogos - Carlos Mané

Não sou um especialista em futebol como José Manuel Ribeiro, nem tenho acesso a estatísticas do mundo inteiro como ele certamente terá, mas diria que não devem ser muitos os casos por essa Europa fora em que uma equipa de primeira linha do seu país consegue ter um rendimento semelhante ao do Sporting com este nível de utilização da prata da casa.

E temos ainda que considerar que, numa época em que o Sporting tem tido poucos jogos e, felizmente, poucas lesões, serão menos as oportunidades que os jovens da equipa B terão para serem chamados à equipa principal.

O que os sportinguistas esperam para o futuro é um cenário intermédio entre a escassa competição que o clube terá este ano, e o caos estrutural e competitivo que foi a época passada. Não é normal terem sido lançados no ano passado 10 jogadores da equipa B na equipa principal, mas também não será normal o clube estar fora das competições europeias e da Taça em Novembro (o Sporting fará entre 35 a 37 jogos esta época, dependendo do percurso na Taça da Liga). De qualquer forma, há muito caminho a percorrer até Maio.

Voltando a José Manuel Ribeiro: estar a fazer balanços sobre o sucesso da formação em Novembro é, no mínimo, prematuro. Omitir o exemplo de Carlos Mané para poder colocar a bandeira da formação num jogador que vai para a Bélgica é má-fé. Medir o sucesso da formação de um clube ao número de jogadores de uma única fornada que foram chamados à equipa principal, quando o Sporting até joga frequentemente com 5, 6 ou 7 produtos da academia em simultâneo, é desonesto e de bradar aos céus. Ainda para mais com os péssimos exemplos de aproveitamento da formação que são o seu Porto e o Benfica, mas que aparentemente não o incomodam tanto.