Miguel Sousa Tavares perdeu a paciência. Na crónica de ontem no jornal A Bola, decidiu pôr de lado a tese de que Silvestre Varela é a raíz de todos os males que impede o Porto de jogar um futebol atrativo, e decidiu disparar em todas as direções.
Criticou a direção do Porto pela política de contratações dos últimos anos, por comprarem passes de jogadores sobre-avaliados que depois não rendem em conformidade, e as negociatas das comissões em que o clube está constantemente envolvido.
Criticou Pinto da Costa por insistir em contratar treinadores sem currículo, ao procurar sem êxito duplicar o caso de sucesso que foi André Villas-Boas.
Criticou Vítor Pereira e Paulo Fonseca por não apostarem, por medo ou por incompetência, em Atsu, Iturbe, Kelvin e Quintero, insistindo num modelo de jogo pouco atrativo que afasta o público dos estádios.
Criticou Paulo Fonseca pela confusão tática que implantou no Porto.
Criticou Defour e Varela por serem Defour e Varela.
É a opinião de um homem que sabe que vende por ser polémico. Em alguns pontos concordo, noutros discordo. No entanto, a frase que se destacou de toda a crónica foi a seguinte:
"O pior de tudo é chegarmos a um ponto onde os adeptos acabam a desejar que as coisas corram mal para que o treinador se vá embora."
Não posso falar pela generalidade dos adeptos do futebol, mas tenho sérias dúvidas que alguém que goste verdadeiramente de um clube possa alguma vez torcer por uma derrota só para que o treinador possa ser despedido.
É um tipo de raciocínio completamente retorcido, digno das lendas que relatam que garrafas de champagne foram abertas na sequência da derrota da seleção na final do Euro 2004.
É certo que a forma como a frase foi escrita não indica diretamente que Miguel Sousa Tavares deseja que o Porto perca para que Paulo Fonseca seja despedido o quanto antes. No entanto, atendendo à forma selvagem como o cronista perseguiu Vítor Pereira durante dois anos, repetida agora com Paulo Fonseca, parece-me que estamos perante um homem que deseja, acima de qualquer outra coisa, provar ao mundo que tem razão.
Por isso não me custa imaginar que Miguel Sousa Tavares, quando assistir na noite de sábado ao Porto - Braga, comodamente sentado na sua poltrona, exausto após um dia bem passado na caça à perdiz, reconfortado pelo crepitar aconchegante da sua lareira, conseguirá reunir a energia suficiente para levantar a mão que segura o charuto para festejar os golos marcados pelos minhotos na baliza de Helton.