sábado, 14 de dezembro de 2013

O mérito do Sporting e o demérito dos outros

Há uma tendência dominante na opinião pública que aponta como o principal motivo para a liderança isolada do Sporting as falhas dos seus principais rivais.

É uma teoria com a qual concordo, e que tenho vindo a defender em posts anteriores. São vários os argumentos que a suportam:

  • A história recente: o Sporting vem da pior época da sua história. Porto e Benfica vêm de uma das suas melhores épocas de sempre. O facto de à 29ª jornada da época passada Porto e Benfica terem 0 derrotas demonstra o fosso que estava cavado entre esses dois clubes e o Sporting.
  • Estabilidade: os plantéis de Porto e Benfica mantiveram-se praticamente intactos. É certo que o Porto perdeu Moutinho e James, mas dos 12 jogadores mais utilizados por Paulo Fonseca, 10 transitaram do ano passado. Em relação ao Benfica é sabido que não houve nenhuma saída de vulto. Melgarejo foi a única saída mas nunca foi um jogador fundamental. Por outro lado o Sporting teve muitas alterações: do onze-tipo, Maurício, Jefferson, William, Wilson e Montero não estavam no clube na época passada. Porto e Sporting mudaram de treinador, enquanto que o Benfica apostou pela 5ª época consecutiva em Jorge Jesus.
  • Investimento: a capacidade que Porto e Benfica tiveram para reforçar os seus plantéis facilitam a vida a qualquer direção e equipa técnica. O Porto gastou €11M em Reyes, €8M em Herrera, €5M em Quintero e perto de €4M em Ghilas. O Benfica contratou uma enorme quantidade de jogadores por €24M, com a agravante de o ter feito sem realizar vendas significativas. O Sporting teve em Montero a única contratação que ultrapassou a marca do milhão de euros. Como é evidente, quem tem mais dinheiro para gastar, tem uma maior probabilidade em ser bem sucedido no reforço a equipa.
  • Cultura vencedora: neste caso aplicando-se apenas ao Porto, a experiência e o hábito de vitória são questões podem ser um fator de desequilíbrio nos momentos decisivos.

São questões incontornáveis que, em conjunto, colocam em Porto e Benfica uma responsabilidade que não pode ser exigida ao Sporting. E nem entro na diferença de influências ao nível dos bastidores.

No entanto, olhando para a classificação, vemos o Sporting isolado na frente, com uma pequena vantagem de dois pontos sobre os rivais.

Apesar dos elogios que agora chovem à equipa do Sporting, que contrastam com o "Cair na real" que muitos vaticinaram após a derrota no Dragão, continua a ser quase consensual que a prestação do Sporting se deve, mais do que mérito próprio, a demérito de Porto e Benfica.

No entanto, Jaime Mourão Ferreira, no programa "Grandes Adeptos" da passada segunda-feira, pôs na mesa um ponto adicional bastante interessante que não me tinha ocorrido.

(áudio: 44s)

De facto, os 29 pontos que o Sporting tem neste momento permitiriam que, no ano passado, estivesse a apenas 3 pontos de uns dos melhores Porto e Benfica da história. E isto já tendo ido ao Porto, Braga, Guimarães e Barcelos, e recebido o Benfica em casa.

Sendo certo que os outros clubes têm muito mais responsabilidades, não se pode colocar em segundo nível o mérito do Sporting. É evidente que a ausência das competições europeias permite outro nível de concentração nas competições internas e ajuda a preservar os jogadores de lesões indesejadas, mas a verdade é que o plantel foi dimensionado tendo em consideração esse fator. Se o Sporting se tivesse qualificado no ano passado para a Liga Europa, seria razoável imaginar que o investimento poderia ser um pouco superior, fortalecendo as alternativas no plantel.

O comportamento de Leonardo Jardim e seus jogadores tem sido praticamente imaculado, e merecem todo o reconhecimento que tem caído de todos os setores da opinião pública nas últimas duas semanas, independentemente das facilidades concedidas por Porto e Benfica. O desempenho até agora permite-nos ser otimistas em relação ao futuro, mas devemos ter consciência que poderá não ser possível manter este nível até ao final, e que os rivais a qualquer altura poderão subir ao patamar de jogo que lhes é exigível.

De qualquer forma, a elevação do rendimento de Porto e Benfica não é necessariamente um facto adquirido. Porque convenhamos, o que não é normal é haver um campeonato em que duas equipas seguem sem derrotas até à penúltima jornada, ou uma delas ter perdido apenas 1 jogo nas últimas três épocas.