segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Agora já chega, OK?

Eusébio morreu. O país chorou. Decretou-se luto nacional de três dias. Os noticiários dedicaram 100% da emissão ao sucedido. Formaram-se filas intermináveis para olhar para o caixão. Jornais fizeram coletas. Fez-se uma comparação com Mandela. O carro funerário deu a volta ao estádio. Seguiu-se um cortejo que atravessou quase toda a cidade. Realizou-se a missa de corpo presente com família, políticos, jogadores, dirigentes e malheiros. Enterrou-se o senhor. Uma cobertura televisiva nauseabunda que não deixou escapar sequer a colocação do caixão debaixo da terra. O presidente do clube anunciou ao fim de 24 horas o programa eleitoral para o seu mandato até 2020 com base nos desejos do falecido. Os partidos políticos tomaram uma decisão relâmpago de trasladar os restos mortais para o panteão, apesar de não a poderem concretizar até daqui a um ano. Já prometeram uma grande avenida com o seu nome. Dar o nome do estádio é que nem pensar, porque o Benfica é maior do que qualquer jogador. Transmitiu-se um jogo do mundial de 1966. Pacheco Pereira, Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa fizeram a análise técnico-tática do grande jogador que o país perdeu. Ergueu-se um memorial pavoroso. A FIFA prometeu uma homenagem na cerimónia de entrega da Bola de Ouro. Fez-se o minuto de silêncio em todos os estádios do país. Todos os jogadores envergaram uma fita preta no braço. Fez-se uma bonita homenagem no Estádio da Luz com aquelas enormes tarjas. Colocou-se o nome do defunto nas camisolas dos jogadores. Dedicou-se o primeiro golo. Dedicou-se o segundo golo. Dedicou-se a vitória contra o Porto. Dedicou-se a liderança no campeonato.


Agora já chega, OK? Se ganharem o campeonato podem voltar a fazer a dedicatória a Eusébio, mas até lá deixem o senhor descansar em paz.