sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

O sentimento é recíproco, André

Vou falar um pouco sobre André Villas-Boas. A sua carreira de treinador é curta mas pode-se sintetizar em três fases principais.

A primeira resume-se ao ano na Académica, em que terminou o campeonato de 2009/10 em 11º lugar com uns confortáveis 33 pontos. Pior que o 7º lugar e os 39 pontos que a Académica conseguira na época anterior com Domingos e melhor que o 14º lugar e os 30 pontos que o clube viria a conseguir na época seguinte com Jorge Costa.

Apesar de os resultados não terem sido extraordinários, a figura confiante e irreverente do jovem treinador, a fazer lembrar Mourinho, levaram o Sporting a interessar-se nos seus serviços para ser o sucessor de Paulo Bento e Carvalhal.

in Record

O roer de corda que aconteceu pouco depois é conhecido de todos, e Villas-Boas iniciou a 2ª fase na sua carreira no Porto com um ano absolutamente memorável em que venceu campeonato, taça e liga europa. Pelo meio, as juras de amor eterno do pequeno André ao clube que representava que culminou com a tirada da "cadeira de sonho".


 

Mas mais uma vez, roeu a corda ao compromisso que tinha e, a poucos dias do início da época deixou o clube do coração de calças na mão.

E iniciou-se a terceira fase da sua carreira. O período inglês. Primeiro no Chelsea, onde gastou cerca de €100M para contratar Raúl Meireles (€15M), Mata (€29M), Lukaku (€12M), Courtois (€9M), Oriol Romeu (€5M), Cahill (€9M), Lucas (€9M), De Bruyne (€8M), e mais alguns jogadores por valores inferiores. Os resultados foram uma desilusão e o treinador foi despedido em Março deixando o clube em 5º na liga e com uma eliminatória na Liga dos Campeões mal encaminhada após ter sido derrotado 3-1 com o Nápoles na 1ª mão dos 1/16 final. Di Matteo ainda conseguiu dar a volta, acabando por vencer a Liga dos Campeões nesse mesmo ano.

Seguiu-se o Tottenham. A primeira época ficou marcada pela extraordinária forma de Bale. Mesmo assim não foi além de um 5º lugar (no ano anterior o Tottenham tinha sido 4º) e falhou o apuramento para a Liga dos Campeões. 

Nesta época, com a venda recorde de Bale, Villas-Boas pôde novamente abrir os cordões à bolsa: Paulinho (€21M), Chadli (€9M), Soldado (€32M), Capoue (€11M), Chiriches (€11M), Eriksen (€14M) e Lamela (€32M), num total de €130M gastos. Mais uma vez os resultados foram uma desilusão. As goleadas sofridas fora com o City (6-0) e em casa com o Liverpool (0-5), a par do 7º lugar na tabela esgotaram a paciência dos dirigentes do clube, e Villas-Boas viu-se despedido pela 2ª vez em 4 clubes por onde passou.

Ainda não tinham passado 10 dias após o despedimento, e já Villas-Boas voltava a querer cair nas boas graças dos seus consócios, com esta frase:

in O Jogo

Não sei como hei-de reagir a isto. Villas-Boas, portista convicto, tem direito a dizer que nunca treinará Benfica e Sporting. No entanto, sendo esta afirmação de um homem que demonstrou uma enorme falta de caráter ao descartar-se por mais do que uma vez de compromissos que assumiu, não podemos encarar esta vontade como definitiva. Com André Villas-Boas sabemos que o principal resume-se aos cifrões e às prioridades do momento para a sua carreira.

Por outro lado, posso garantir que da minha parte o sentimento é recíproco. Villas-Boas teve a sua oportunidade de treinar o Sporting. Aceitou-a, mas depois deu o dito por não dito. E não me agradaria ver uma pessoa destas à frente da minha equipa. Mas não é só uma questão de personalidade e de valores. A verdade é que do ponto de vista de competência técnica ainda não me convenceu, pois a sua carreira tem 1 ano excecional (Porto), 1 regular (Académica), 1 mau (Tottenham 2012/13) e 2 desastrosos (Chelsea e Tottenham 2013/14). 

Há um facto indesmentível quando falamos da carreira de Villas-Boas: seja por ambição ou por incompetência, ainda não conseguiu levar até ao fim nenhum contrato. Mas a crista continua alta. O homem sabe vender-se e ter boa imprensa é algo que realmente dá muito jeito.