Após o fecho da janela de transferências, o Record sentiu-se na necessidade de se retratar pela inqualificável capa sobre a eventual chegada de Neto ao Benfica.
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Para mim, o que classifica esta capa como vergonhosa, não é o facto de não se ter concretizado a contratação de Neto pelo Benfica, ou a ida de Rodrigo e Garay para o Zenit. Capas com nomes de jogadores apontados a determinados clubes são, infelizmente, demasiado frequentes e encaradas à partida com desconfiança. A realidade normalmente acaba por dar razão a essa desconfiança, pois são poucas as transferências que se acabam por concretizar, e a maior parte não terá passado de pura especulação baseada em rumores ou em fontes de credibilidade mais do que duvidosa.
O problema está no facto de as pessoas que alinharam esta capa terem achado esta possível transferência (que dificilmente se poderia considerar um supernegócio, como agora o jornal a qualifica, independentemente dos milhões que o Benfica ainda recebesse por Rodrigo e Garay) tão importante a ponto de abafar a consagração de Cristiano Ronaldo como o melhor jogador do mundo no dia anterior.
Para todos os efeitos, o Record é um jornal desportivo. Sabemos que em Portugal o desporto que vende se resume ao futebol, pelo que já nos habituámos que o mais banal dos acontecimentos à volta de um dos grandes clubes portugueses seja tratado com um mediatismo bem superior ao mais notável dos feitos em outras modalidades. Felizmente que existiram recentemente algumas exceções à regra, em que alguns jornais deram um destaque bem assinalável às vitórias de Rui Costa no ciclismo e de João Sousa no ténis.
Mas num dia em que o futebol português efetivamente teve um motivo de destaque internacional, assinalado pelos órgãos de comunicação social dos quatro cantos do mundo, algumas pessoas do Record decidiram desvalorizar esse mesmo feito. Que pessoas foram essas e quais os motivos que os levaram a isso? Seria interessante saber.
Pelo meio, haverá certamente jornalistas sérios naquele jornal cuja credibilidade é afetada indiretamente por estes episódios, o que é de lamentar. O jornalismo desportivo precisa de uma injeção de seriedade, e está mais que visto que com pessoas como João Querido Manha o problema não está mais perto de se resolver. Pelo contrário. Compreendo a necessidade de vender, mas não é razoável transformar as capas em espaços de sensacionalismo, propaganda ou simplesmente para marcar uma posição contra pessoas ou entidades pouco apreciadas por quem manda no jornal.