Esteve bem Bruno de Carvalho em realizar a conferência de imprensa de ontem. Na sequência de um jogo em que o Sporting beneficiou de um erro de arbitragem, o presidente do Sporting deu a cara, colocando a perspetiva em que o lance de fora-de-jogo de André Martins deve ser posto:
- O erro existiu, e o Sporting beneficiou disso
- O erro não é grosseiro, ao contrário de tantos outros erros que nos prejudicaram de forma bem mais evidente
- No balanço do deve e do haver, o Sporting continua com bastante menos pontos do que teria se não existissem erros de arbitragem
Não sei se vai ser dado o devido valor ao que aconteceu nesta conferência de imprensa, mas creio que de certa forma se fez história no dirigismo português: não me lembro de ver alguma vez um presidente de um grande admitir ter sido beneficiado por um erro de arbitragem tão em cima do acontecimento.
Quando se sentem prejudicados, tanto Pinto da Costa como Luís Filipe Vieira habituaram os adeptos de futebol a fazer sermões com a fúria de um inquisidor perante alguém que se atreveu a desafiar a doutrina dominante, mas quando são beneficiados assemelham-se a monges beneditinos a cumprir um rigoroso e casto voto de silêncio.
Quando as convicções são fortes e a causa é justa, não há que ter receio em manter um discurso claro e coerente, mesmo que por vezes não corrobore inteiramente a ideia que se pretende fazer passar. Não seríamos sérios se inventássemos narrativas estapafúrdias ou procurássemos atenuantes que justificassem o indefensável. É na falta de coerência que se apanham os oportunistas, os mentirosos e os "infalíveis". Isso são coisas a que os outros, os "infalíveis", nos habituaram.