Foi uma vitória conseguida da forma mais improvável possível, em que existem dois lances paradigmáticos: o golo que definiu o resultado foi conseguido na sequência de um lance em fora-de-jogo de André Martins, que aproveitaria a posição irregular para fazer uma assistência milimétrica para a cabeça de Slimani, que não perdoou; e, perto do fim, Patrício comete um erro enorme que deixou Jackson com o golo nos pés, mas Dier conseguiu encontrar os rins necessários para se virar, esticar a perna, e impedir o empate que já parecia inevitável.
Um erro de arbitragem e uma falha tão absurda quanto inesperada do nosso guarda-redes, que este ano já nos custaram demasiados pontos para o campeonato e uma eliminação da Taça de Portugal, desta vez não decidiram um resultado contra o suspeito do costume e penalizaram a equipa que mais vezes tem beneficiado deste tipo de situações.
Podemos alegar inclusivamente que o Porto deixou-se cair numa espiral nervosa após o golo, não voltando a ter oportunidades de perigo (com exceção da que já referi, que Dier salvou) e mostrando vários jogadores de cabeça perdida, como Fernando. Os erros de arbitragem podem ter este efeito no rumo de um jogo, e o Sporting sabe-o melhor que ninguém. É caso para perguntar aos portistas: dói, não dói?
Apesar de um início de jogo forte, com grande pressão em todo o campo, o Sporting não foi capaz de criar grandes oportunidades de golo. O Porto, a partir dos 15 minutos, equilibrou a partida e, através de Quaresma, conseguiu ter os dois maiores lances de perigo da primeira parte: primeiro, um cruzamento de letra que encontrou Varela, que rematou para grande defesa de Patrício; depois, um remate em arco da quina da área que embateu com estrondo na barra. Jackson, perto do final da primeira parte ainda teria uma grande ocasião num cruzamento, mas cabeceou em desequilíbrio (que não me parece ter sido causado por Cédric, que só tocou em Jackson depois deste cabecear).
É preciso reconhecer que o Sporting teve sorte em ir para o intervalo com o jogo empatado. Não se pode dizer que o Porto estivesse a dominar, mas teve indiscutivelmente mais arte para criar perigo, e fez mais que o Sporting para justificar o golo.
Na segunda parte, o Sporting voltou a entrar muito forte, ameaçando a baliza de Helton por várias vezes. Primeiro por Dier, de livre, depois por Mané num desvio ao primeiro poste na sequência de um canto, e por Slimani na recarga à defesa de Helton. Pouco depois o Sporting marcaria o único golo do jogo.
A partir daí o Sporting baixou no terreno, de forma a reduzir os espaços no seu meio-campo, e para tirar partido das muitas recuperações de bola que ia fazendo para iniciar jogadas de contra-ataque. Existiram três ocasiões de superioridade numérica que podiam (e deviam) ter causado mais perigo, mas infelizmente o Sporting confirmou algumas deficiências no aproveitamento deste tipo de situações, que já havia demonstrado por várias vezes ao longo da época.
No entanto, do ponto de vista defensivo a equipa esteve extremamente concentrada, com um espírito combativo que quebrou praticamente todas as iniciativas portistas para se aproximarem da área de Rui Patrício. Não só o Porto parecia gradualmente perder o controlo emocional, como também pareceu quebrar fisicamente, acabando por ser pouco mais que inofensiva durante toda a segunda parte.
Em termos individuais, há dois destaques óbvios: William Carvalho, que fez um jogo monstruoso, e Slimani que mais uma vez marcou um golo que valeu pontos. Mas genericamente toda a equipa esteve muito bem, sendo justo referir as também excelentes exibições de Dier e Rojo, que estiveram intransponíveis.
Custa-me escrever que foi uma vitória importantíssima, porque não me consigo desligar da forma como foi conseguida, mas a verdade é que estes três pontos repõem um distanciamento mais que justo em relação ao Porto, que poderá vir a ser decisivo na luta pelo segundo lugar. Nada está decidido, mas o panorama está agora bem mais agradável.