sábado, 15 de março de 2014

Capas que não fizeram história, nº 25: Crimes sem castigo

Muito dizem que temos sido anjinhos. Anjinhos, ao deixarmos os adversários utilizarem contra nós jogadores que lhes emprestámos. Anjinhos, quando fizemos questão de aparecer à hora certa no jogo decisivo que definiria o apuramento da fase de grupos da Taça da Liga. Anjinhos, por optarmos por utilizar jogadores em risco de suspensão antes dos jogos com adversários mais complicados.

Talvez seja verdade. Mas aí estamos a ser "anjinhos" por convicção. A convicção que nos leva a cumprir as regras que estão estabelecidas, e que todos têm a obrigação de seguir. A convicção de respeitar os jogadores que colocamos a desenvolver noutros emblemas, para nosso futuro proveito. A convicção de não considerar os jogos contra Académica, Rio Ave e Setúbal, menos importantes do que os confrontos que se seguiriam contra Benfica, Braga e Porto, pois no fim de contas nenhum deles vale mais do que três pontos.

Num outro nível, existe quem pense que, mais do que preocuparmo-nos com questões de arbitragem, temos que preocuparmo-nos em jogar mais, pois o rendimento individual de muitos jogadores e o desempenho coletivo estão bastante aquém do que já fizemos esta época. Respeito essa visão, mas se a tomarmos como boa e completa sobre a situação atual do Sporting, não estaremos a ser "anjinhos" por ingenuidade?

Quão melhor teria que jogar o Sporting para ficar à prova da torrente das asneiras que as equipas de arbitragem têm tido o "azar" de cometer nos nossos jogos? É uma pergunta à qual é impossível obter uma resposta, mas suspeito que se trata de uma missão quase impossível, nomeadamente atendendo às limitações orçamentais que o Sporting vive atualmente.

Provavelmente teríamos que ser extraordinariamente melhores do que somos agora. Não há equipa que resista a uma prática continuada de erros cometidos em momentos cirúrgicos. Pode conseguir ultrapassar a primeira, a segunda, e até a terceira contrariedade, mas mais cedo ou mais tarde vai quebrar, e sentir a pressão do garrote que lhe estão a colocar à volta do pescoço.

É por isso que acho que o problema principal está nas falhas da arbitragem, e não no rendimento da equipa.

Para além do prejuízo imediato que tivemos com os erros sucessivos cometidos contra nós, já pensaram na injeção de motivação que a equipa teria se os golos fossem validados, se os penáltis fossem assinalados, e se as faltas duras (muitas vezes violentas) fossem punidas devidamente? O que seria da saúde psicológica da equipa se os pontos se fossem acumulando em vez de irem desaparecendo ao sabor das decisões arbitrais? É ou não mais fácil para uma equipa motivada jogar melhor, do que uma equipa que se vê constantemente a ser espoliada dentro de campo por quem devia zelar pelo cumprimento das regras de jogo?

É claro que a equipa poderia render mais. É claro que nem todos os erros dos árbitros terão sido propositados. Mas daí a acreditar que não há qualquer tipo de más intenções para com o Sporting, principalmente quando casos que penalizam os nossos rivais acontecem de forma bem menos frequente, aí é que na minha opinião estaremos a ser anjinhos.

E já que os dirigentes e a classe da arbitragem não se disponibilizam para punir devidamente quem faz trabalhos de má qualidade, muitos dos quais em praticamente todos os jogos que apitam (vejam-se os casos de João Capela ou Bruno Paixão), então esses dirigentes e essa classe têm que ser chamados a responder pelo que tem sucedido.

E não nos devemos calar perante esta sequência de acontecimentos. Temos que estar conscientes que amanhã defrontaremos a cabeça do sistema, que precisa dos milhões que o segundo lugar no campeonato garante como de pão para a boca. Tal como nós.

Falamos de gente que montou uma rede de corrupção e de tráfico de influência que com o Apito Dourado ficou exposta perante o país de uma forma que não deixou dúvidas a ninguém. O mais assustador é que não é difícil imaginar que as escutas que foram tornadas públicas são uma gota no oceano de práticas continuadas de manipulação de jogos e campeonatos, que começaram há décadas e que ainda hoje se mantêm, apesar de os métodos agora serem certamente mais refinados.

E a verdade é que ninguém foi apanhado de surpresa, pois as escutas não foram mais que a confirmação daquilo que qualquer pessoa que acompanha o futebol desde o final dos anos 80 já tinha como certo.

Falamos de gente que foi condenada por tentativa de corrupção e que não recorreu da sentença.

Maio de 2008

Maio de 2008

É isto que vamos defrontar amanhã. Um clube liderado por excrementos humanos que nunca olharam a meios para atingir os seus fins, e que continuarão a fazê-lo enquanto os deixarem. Meios, esses, que lhes permitem ser praticamente imunes a maus momentos de forma, que é um luxo que os nossos jogadores nunca tiveram, não têm e, espero sinceramente, que nunca venham a ter.