Muitos hão-de dizer, sobre a conferência de imprensa de ontem de Bruno de Carvalho, que a montanha pariu um rato. A essas pessoas, pergunto: o que esperavam que acontecesse?
Que Bruno de Carvalho declarasse guerra ao sistema? Já declarou há muito tempo. Infelizmente o Sporting mantém-se sozinho nessa luta e continua a ser penalizado por isso.
Que Bruno de Carvalho chamasse os bois pelos nomes? Chamou-os. Disse que quer Benfica quer Porto têm sido os beneficiados pelos roubos que nos têm feito, que os árbitros e dirigentes federativos são responsáveis por não estarmos na frente do campeonato, e que os ninguém faz nada para inverter esta pouca vergonha.
Que Bruno de Carvalho fizesse um discurso de tal forma eloquente que finalmente iluminasse a comunicação social, que continua a assobiar para o lado perante a mentira de campeonato que se está a jogar? Bem, isso de facto não fez, mas nem um Winston Churchill na sua melhor forma conseguiria despertar a consciência de quem não quer ser despertado.
Se Winston Churchill tivesse como audiência gente com a coluna vertebral de quem ocupa as instâncias de poder do futebol e dos responsáveis pela comunicação social desportiva portuguesa quando, perante a iminente invasão alemã, procurou mobilizar o povo britânico com o seu famoso discurso...
"We shall go on to the end, we shall fight in France, we shall fight on the seas and oceans, we shall fight with growing confidence and growing strength in the air, we shall defend our Island, whatever the cost may be, we shall fight on the beaches, we shall fight on the landing grounds, we shall fight in the fields and in the streets, we shall fight in the hills; we shall never surrender"
... a Luftwaffe teria arrumado com a RAF numa questão de dias e a Alemanha acabaria por dominar a Europa sem grande dificuldade. Vítor Serpa, João Querido Manha e Octávio Ribeiro deleitar-se-iam a promover a propaganda nazi, José Manuel Ribeiro lideraria um movimento clandestino com o objetivo de levar ao poder uns fantoches de Estaline, e Luís Sobral encolheria os ombros e diria que a submissão de uns povos por outras nações fazem parte da história da humanidade e como tal é preciso saber viver com isso.
Mas, salvaguardando as devidas distâncias, foi esse o objetivo de Bruno de Carvalho nas declarações que fez ontem. Procurar mobilizar os sportinguistas e despertar as consciências de quem deveria lutar por uma competição limpa e justa e denunciar as evidentes distorções da verdade desportiva no futebol português.
À comunicação social, pedindo-lhes que façam o seu trabalho e relatem com objetividade os dois pesos e duas medidas que têm existido persistentemente nos últimos 30 anos.
Aos sportinguistas, pedindo-nos o esforço extra de lutar pelo Sporting para além do apoio direto nos estádios onde joga o nosso clube. Como podemos fazer isso? Não sei, mas posso mandar umas hipóteses para o ar.
Por exemplo, não poderão os políticos sportinguistas e outras figuras de destaque da sociedade civil telefonar diretamente para quem manda, e exigir que ponham mão na bandalheira em que se tornou a arbitragem? Ou apontar o dedo em eventos públicos ridicularizando quem nos prejudica constantemente? Por exemplo, numa palestra, numa conferência, mandando uma piada para desanuviar tendo como alvo as figuras sinistras do nosso futebol?
E a todos nós, porque não escrever aos patrocinadores da Liga (Zon e Sagres, por exemplo), perguntando-lhes se querem continuar a ver o seu nome associado a esta pouca vergonha de competição? Ou então simplesmente deixando de mostrar os sorrisos de circunstância quando nos cruzamos na rua ou nos empregos com gente como Vítor Pereira, Duarte Gomes, João Capela, Pedro Proença, Herculano Lima, e tantos outros, que não deveriam merecer mais do que o nosso profundo repúdio.
Todos nós podemos tentar transportar um pouco da trampa profissional em que essas figuras fazem questão em chafurdar, também para a sua vida pessoal. Sem violências. Sem afetar as suas famílias ou a sua propriedade. Encher-lhes o dia com pequenas pitadas de desagradabilidade e de incómodo, que no fundo não é nada que se compare perante a quantidade de dias que já nos estragaram com a sua falta de profissionalismo e ética. Coisas pequenas, para que a sociedade comece a estigmatizá-los, como o faz com charlatões e vigaristas. No fundo, nada mais que dar-lhes o desprezo que fizeram por merecer.