Benfiquistas e portistas, especialmente os últimos, gostam de chamar os sportinguistas de "calimeros". É verdade que a cria de gallus gallus escurinha, conhecida por se equipar com uma casca de ovo na cabeça, gostava de se lamentar aos quatro ventos pelos infortúnios que a vida lhe proporcionava, e não é menos verdade que os sportinguistas, quando comparados com os portistas, se queixam imenso.
É que a nossa vida não tem sido propriamente fácil, e nos últimos 30 anos tem acontecido de tudo ao Sporting.
Por exemplo, olhemos para a última época em que o Sporting foi campeão. Um plantel de luxo que tinha, entre outros, Pedro Barbosa, Sá Pinto, Marius Niculae, Paulo Bento, André Cruz, Beto, Rui Jorge, Phil Babb, Ricardo Quaresma mas que, acima de tudo, era a equipa de Jardel e João Pinto.
Por exemplo, olhemos para a última época em que o Sporting foi campeão. Um plantel de luxo que tinha, entre outros, Pedro Barbosa, Sá Pinto, Marius Niculae, Paulo Bento, André Cruz, Beto, Rui Jorge, Phil Babb, Ricardo Quaresma mas que, acima de tudo, era a equipa de Jardel e João Pinto.
Quis o destino que nesse verão, no mundial da Coreia do Sul / Japão, João Pinto se passasse da cabeça, agredindo o árbitro do Portugal - Coreia do Sul, de má memória para os portugueses. João Pinto foi suspenso por quatro meses, ficando indisponível para o primeiro terço da temporada 2002/03. Para piorar, Jardel ficou com a cabeça totalmente feita em fanicos por causa de 1001 propostas para grandes clubes europeus que acabaram por nunca se concretizar, e começou a desleixar-se até passar a ser uma sombra do melhor ponta-de-lança que alguma vez vi jogar em Portugal.
Sem ter feito nada para o merecer, o Sporting viu desfeita uma dupla que certamente poderia liderar o Sporting a mais 1 ou 2 campeonatos.
Mas também tem havido muita incompetência própria. As últimas direções foram um desastre que por pouco não afundavam definitivamente o clube:
- Soares Franco, presidente sem ambição que se contentava com apuramentos para a Liga dos Campeões.
- José Eduardo Bettencourt, homem sem qualquer tipo de estratégia e bom senso, ao que juntou algumas das mais tristes figuras que um presidente de um clube já alguma vez terá feito em público (Pinto da Costa, ao decidir-se mascarar esta semana de Danny Zuko do Grease, conseguiu juntar-se ao clube).
- Godinho Lopes, que em nome de objetivos eleitorais formou uma direção que era um ninho de vespas que se estavam a borrifar para o sucesso do Sporting, e cuja estratégia de investimento foi inacreditavelmente mal executada.
Finalmente, a incompetência ou má-fé alheia, que tanto nos tirou nos últimos anos. A mão de Ronny e João Ferreira, que nos roubou o campeonato de 2006/07, a decisão inacreditável de Lucílio Baptista que nos roubou a Taça da Liga de 2008/09, ou as capeladas, proençadas, paratyzadas, xistralhadas e gomesadas, que nos impediram sequer de ter hipóteses de disputar a vitória em jogos importantíssimos ao mesmo tempo que nos afastavam da luta pelos campeonatos e taças.
É certo que os árbitros têm um trabalho difícil, que são muito pressionados e têm que decidir em décimas de segundo, mas isso é um argumento já demasiado gasto para servir de escapatória à montanha de asneiras que vão acumulando, muitos dos quais injustificáveis. E é estranho ver que exibições arbitrais deste nível, que tão frequentemente acontecem com o Sporting em campo, poucas vezes acontecem em desfavor dos outros emblemas rivais.
E os argumentos da pressão e da ter que decidir no momento perdem qualquer razão de ser quando vemos outras coisas que se vão passando fora das quatro linhas.
Por exemplo, o boicote dos árbitros ao Sporting. Há dois anos e meio, ao se sentirem pressionados por declarações da direção do Sporting após uma arbitragem vergonhosa de Carlos Xistra que nos privou de 2 pontos, decidiram não apitar jogos do Sporting.
Fica para a história a justificação do então presidente da APAF, Luís Guilherme, agora membro do Conselho de Arbitragem: “Para os árbitros, os clubes são todos iguais e tratados de igual
forma, mas há uns que não percebem isso. Há clubes que pretendem ter
privilégios que outros não têm”.
Nota-se mesmo que não há clubes com privilégios. Duarte Gomes e Bruno Paixão nunca foram vetados dos jogos do Porto. Nem Jorge Jesus alguma vez colocou em causa a honestidade de Proença e Bertino Miranda na sequência do golo em fora-de-jogo de Maicon, ou certamente que teria havido uma reação corporativa contra o Benfica semelhante à que o Sporting teve direito.
Podemos falar também da classe dos jornalistas, que rapidamente se retiraram em protesto da apresentação de Maurício e Cissé por as portas da sala de imprensa terem sido abertas aos sócios, mas que não teve nada a dizer quando Valdemar Duarte se queixou de ter sido agredido por Pinto da Costa e seus capangas, ou quando Rui Cerqueira pontapeou um jornalista da RR no final do Belenenses - Porto.
E nem vale a pena entrar nos órgãos federativos, que demonstram frequentemente ter mãos firmes para uns e índices de compreensão madreteresescos para outros. O caso mais ridículo foi quando, no espaço de um ano, tiveram 3 pesos e 3 medidas para cuspidelas a adversários por parte de jogadores dos grandes.
Ninguém no Sporting quer ter qualquer tipo de privilégio. O que queremos é que não nos lixem ano após ano, ao mesmo tempo que levam outros ao colinho. O que queremos é que os outros possam ser penalizados pelos erros que cometem dentro de campo, sem o aconchegante amparo daquelas mãozinhas protetoras que definem jogos, campeonatos e dinastias.
E para piorar, custa ver hipócritas vestidos de vermelho que durante anos acusaram o Porto de desvirtuar a verdade desportiva, mas que não têm problemas em recorrer a muitos dos métodos reprováveis utilizados por aqueles a quem chamam de corruptos.
Por isso, enquanto estas coisas acontecerem, os sportinguistas podem e devem mostrar a sua indignação. Já está provado que não é por ficarmos calados que as instituições e agentes que regulam o futebol em Portugal farão o seu trabalho de forma isenta e competente.
Se quiserem, continuem a chamar-nos de "calimeros". Por mim, estejam à vontade. O que vocês querem sei eu.