Devem existir no mundo poucos jogadores com um talento puro superior ao de Quaresma. É um facto que é um jogador desequilibrador, capaz a qualquer momento de lances geniais que podem resolver um jogo.
Grato por voltar a poder contar com tamanho talento no Porto, o jornal O Jogo faz hoje capa com o jogador, escrevendo que Quaresma "já ameaça todos os recordes". Mas olhando para a peça propriamente dita, é perfeitamente evidente que não passa de uma história com fins puramente motivacionais, e que até os próprios números apresentados pelo jornal acabam por contradizer aquilo que colocaram na primeira página.
Diz O Jogo:
No ano em que se celebram 20 anos sobre a abertura de um período extraordinário de transferências no inverno, o FC Porto encontrou um dos melhores reforços de sempre. Não é exagero. De forma objetiva - tendo em conta apenas os números -, Quaresma é já o quarto melhor de entre todos os jogadores de características ofensivas que os dragões contrataram no inverno desde 1993/94.
E que números são esses em que O Jogo se suporta para chegar a esta conclusão?
Em primeiro lugar, os golos marcados por um reforço de inverno do Porto. Quaresma já leva sete golos marcados em treze jogos. É uma média muito interessante, mesmo considerando que dois desses golos foram marcados de penálti. O recorde de golos marcados por um reforço de inverno do Porto é de 13 golos (McCarthy e Drulovic). À frente de Quaresma ainda está Adriano, que marcou 8 golos.
Em segundo lugar, os golos marcados por Quaresma numa época no Porto. O melhor que o jogador conseguiu no passado foi marcar 11 golos, em 2007/08.
O Jogo também faz referência à média de golos marcados por um reforço de inverno, mas aí McCarthy é imbatível, pois marcou 13 golos em apenas 12 jogos.
E é isto. São estes "todos os recordes" que Quaresma pode bater. Um recorde pessoal de golos marcados numa época, e outro de golos marcados por reforços de inverno do Porto.
E o que é que O Jogo não releva sobre os números e a prestação de Quaresma?
Em primeiro lugar, que tem apenas duas assistências para golo. Isto deve-se em grande parte ao facto de quando a bola chega a Quaresma, o mais provável é que a jogada acabe com um remate do próprio Quaresma. A equipa joga para Quaresma. Quaresma bate os penáltis. Quaresma bate os livres. Quaresma, Quaresma, Quaresma.
Em segundo lugar, a quebra de rendimento do principal jogador do plantel desde que Quaresma começou a jogar. Jackson marcou para o campeonato apenas 3 golos em 8 jogos, 2 dos quais ao cair do pano, com a vitória do Porto já assegurada, quando Quaresma já tinha sido substituído. Ou seja, com Quaresma em campo, Jackson marcou 1 golo.
E em terceiro lugar, os resultados em que se refletiram as exibições de Quaresma: 4 vitórias, 1 empate e 3 derrotas para o campeonato, 2 empates para a Liga Europa, 1 vitória para a Taça de Portugal, e 2 vitórias para a Taça da Liga. Não me parece um feito extraordinário.
E isto é apenas aquilo que os números demonstram. Porque também parece evidente para todos que a explosão que o jogador tinha, e que lhe permitia passar em velocidade por qualquer adversário, ainda não apareceu (e dificilmente voltará ao que era).
A única explosão que se viu a Quaresma desde que regressou ao Porto foi a sua reação na saída de campo após o empate com o Guimarães.
Quaresma até poderá ser decisivo no jogo de domingo, afinal tem talento suficiente para a qualquer altura fazer a diferença. Mas não queiram fazer dele o fenómeno que a capa de O Jogo sugere que é.