Quando o Sporting anunciou a Missão Pavilhão, muitos benfiquistas aproveitaram para lançar farpas sobre a iniciativa, recordando os tempos em que os sportinguistas criticaram a Operação Coração.
Não me parece que seja exatamente o mesmo tipo de situação. Enquanto que a Operação Coração foi lançada por Manuel Damásio para abater o passivo do clube, ou seja, para abater dívidas que não continuariam a crescer independentemente do valor angariado, a Missão Pavilhão tem por objetivo o enriquecimento do património do clube.
Seria melhor que o Sporting tivesse meios para o fazer sem ter que recorrer aos sócios? Claro que sim. Mas desenganem-se aqueles que acham que Benfica e Porto construíram os seus pavilhões com dinheiro próprio. Fizeram-no com recurso à banca e, no caso do Porto, associando-se a uma empresa pública (de todos nós) que pagou para dar o nome ao pavilhão.
Como é evidente, não faria qualquer sentido que o Sporting recorresse exclusivamente à banca para construir um pavilhão numa altura em que ainda decorre o processo de reestruturação financeira do clube, e sabendo que o crédito bancário está mais complicado (e caro) de obter do que nunca -- não só para o Sporting, mas também para os nossos rivais.
A meu ver, seria importante que a direção do Sporting esclarecesse de onde vem o resto do dinheiro para a construção do pavilhão, já que os donativos só irão cobrir uma parcela pequena do montante total (assumindo que o objetivo é cumprido). De qualquer forma isto não invalida que cada um de nós não participe dentro das suas possibilidades.
Voltando à comparação com a Operação Coração: é verdade que na prática estamos perante duas situações em que os clubes andam a pedir dinheiro aos sócios, mas na minha opinião há uma diferença entre contribuir para um projeto concreto de construção de património, do que estar a fazê-lo para tapar buracos financeiros não estancados.
Os benfiquistas mais trocistas poderiam informar-se um pouco mais sobre a campanha de donativos "O Primeiro Impulso", em 1954, que serviu para angariar dinheiro para a construção do antigo Estádio da Luz. E, já agora, recordarem uma outra situação ocorrida uns anos após a Operação Coração e a Operação Cabeça, no período mais negro da história do clube, em que o presidente era Vale e Azevedo:
Convenhamos que é difícil descer mais baixo do que isto.