segunda-feira, 30 de junho de 2014

Os motivos do fracasso da seleção


Não deve haver um único português que tenha considerado positiva a campanha no mundial da seleção portuguesa. Não nos qualificarmos para os oitavos de final num grupo como o nosso é uma desilusão, mesmo que no papel o Gana seja uma seleção com alguns jogadores fortes e os EUA tipicamente organizarem o calendário das suas competições internas de forma a poderem aparecer no mundial na melhor forma possível.

Paulo Bento diz que o jogo com a Alemanha marcou muito negativamente a equipa, mas a verdade é que o destino se encarregou de nos dar algumas ajudas - a combinação dos resultados dos jogos EUA - Gana e Alemanha - Gana voltou a pôr-nos dependentes de nós próprios, e os problemas no estágio no Gana colocaram-nos à frente uma equipa psicologicamente destroçada - que nós não soubemos aproveitar.

Ouvir Paulo Bento dizer que é o único responsável por tudo o que de mau se passou é preocupante. Não só não corresponde à verdade, como leva a duvidar que a FPF vá fazer uma avaliação séria de todos os aspetos que falharam - e que não se resumem apenas ao selecionador. Que Paulo Bento não se importa de dar o corpo às balas, já todos sabíamos. Foi assim no Sporting durante vários anos. O problema é que ao fazê-lo está mais uma vez a dar cobertura a outras pessoas que não fizeram o seu trabalho de forma competente, e que merecem também ser julgadas pelo insucesso da campanha no Brasil.

Foram vários os erros cometidos. Tentando não ser demasiado exaustivo, aqui fica a minha opinião sobre quais os motivos principais que contribuíram para a nossa eliminação prematura.


A convocatória

Não foram convocados os 23 jogadores que poderiam dar o melhor contributo no mundial. Paulo Bento foi fiel ao seu núcleo duro, independentemente do estado seu estado físico e de forma. Compreendo que se levem alguns jogadores que façam bom balneário, mas nunca pode ser esse o principal critério de escolha.

A aposta na polivalência foi excessiva: não faz sentido levar apenas 2 laterais de raíz e deixando opções bem mais válidas para várias posições em Portugal.

É verdade que os nossos 10/12 melhores jogadores estavam lá. Mas olhando agora após o facto consumado, parece evidente que alguns dos que ficaram de fora dos 23 poderiam ter tido um papel importante, com Antunes, Adrien, Quaresma e Bebé à cabeça. Muito provavelmente teria sido o suficiente para seguirmos em frente para os oitavos de final.


O calendário de preparação

Paulo Bento focou ontem o facto de a Alemanha ter chegado ao Brasil apenas três dias antes de Portugal. A questão é que a Alemanha fez o estágio no Estado da Bahia, onde se realizou o primeiro jogo. Estiveram, portanto, a treinar oito dias no clima em que disputariam o primeiro jogo.

A passagem pelos EUA teve o mérito de adaptar os jogadores ao fuso horário da competição, mas os benefícios desportivos ficaram-se por aí. A seleção viajou para Campinas (que do ponto de vista de clima é diferente dos locais dos dois primeiros jogos) apenas cinco dias antes da estreia no mundial. Teria sido bem mais produtivo viajar-se mais cedo para o Brasil, e de preferência num ambiente mais reclusivo do que aquele estado de festa permanente que se viveu.

Neste caso parece-me que a responsabilidade será da direção, pois este tipo de decisões envolvem questões financeiras relevantes que ultrapassam as competências do selecionador.


Desaproveitamento dos jogos de preparação e persistência no erro

Paulo Bento utilizou os jogos de preparação com a Grécia e México para experimentar novos sistemas de jogo, em vez de verificar como respondiam os jogadores no sistema tradicional para perceber quem está em melhor forma. Quando começaram os jogos a doer, o selecionador optou pelo sistema do costume, com os jogadores do costume.

A resposta com a Alemanha foi má, mas contra os EUA Paulo Bento apostou exatamente nos mesmos jogadores (excetuando as alterações forçadas devido a lesões). A entrada de William deveu-se apenas à lesão de André Almeida, e nesses 45 minutos William demonstrou aquilo que todos já sabíamos: era a melhor opção para o lugar.

Também era evidente que Meireles há muito que já não tem a intensidade de jogo que o caracterizava no auge da carreira. Dentro do lote de selecionados, Rúben Amorim parecia estar em melhores condições de fazer aquele papel. Infelizmente foi preciso esperar pelo jogo com o Gana para o ver jogar.

Rui Patrício terminou cedo a época no Sporting, mas apenas foi utilizado no jogo com a Irlanda. Ou seja, chegou ao jogo contra a Alemanha apenas com 90 minutos de utilização no espaço de um mês. Para um guarda-redes presumivelmente titular, não se justificava que tivesse sido mais utilizado durante os jogos particulares?

E finalmente Ronaldo. Sendo um jogador que raramente participa no processo defensivo e com as limitações que eram conhecidas, não faria mais sentido jogar a 9? Se é verdade que foi o próprio a recusar-se a jogar nessa posição, o caso é ainda mais grave.


As lesões

Foram demasiadas para se poder atribuir exclusivamente à falta de sorte. A convocação foi, neste sentido, o 1º prego no caixão: foram escolhidos demasiados jogadores em más condições físicas. Depois alguma coisa deverá ter sido mal calculada na preparação, pois as lesões musculares sucederam-se.

Como é evidente, aqui as responsabilidades terão que estar situadas algures entre a equipa médica e os preparadores físicos.


O que se segue

Existiram outras coisas que na minha opinião não correram bem, mas parece-me que as que mencionei são as principais. 

É agora imperioso iniciar um processo de renovação dos jogadores, trazendo jovens com mais fome de bola, que tenham algo a provar e que queiram marcar o seu espaço, e deixar de fora jogadores que estão claramente na fase descendente das suas carreiras. Infelizmente, Paulo Bento não parece ser uma pessoa com o perfil indicado para esta tarefa - as suas declarações reafirmam a lealdade para com aqueles que o acompanharam ao longo dos quatro anos em que está no cargo - pelo que nos resta desejar que a estrutura FPF consiga dar a orientação necessária ao selecionador para que os interesses da seleção sejam defendidos. Algo me diz que é melhor esperarmos sentados.

Pescadinha de rabo na boca

                                                                                                                         
Isto é jornalismo de primeira água, com fontes credíveis e verificação de factos.

29 de junho, 11h36, jornal A Bola


29 de junho, 17h19, jornal Marca


(via twitter - @porta19)

Adulterar a história ao fim de 14 meses

É uma enorme falta de honestidade intelectual (ou então uma preocupante falta de memória) vermos alguns portistas utilizarem as exibições de James no mundial como argumento de que foi normal a repartição €45M / €25M no negócio de venda do colombiano e de Moutinho ao Mónaco.

Não me parece que a política de contratações que leva um clube (que não olha a despesas para procurar afirmar-se de imediato como uma equipa de topo europeu) a adquirir um jogador por €45M seja aquilo que ele conseguirá fazer daí a 14 meses no campeonato do mundo. Na história do jogo só se gastaram valores desta escala por jogadores consagrados, cujo impacto se fará sentir de imediato, como se pode ver na lista das mais caras contratações de sempre no futebol mundial.

Fonte: Wikipedia

Era evidente o enorme potencial de James? Claro que sim. Mas teria James um percurso compatível com uma avaliação de top-20 das maiores transferências de todos os tempos? Claro que não. James vinha de uma época em que começou muito bem, mas a sua influência na equipa do Porto foi decaindo ao longo da temporada.

Tanto foi assim, que a esmagadora maioria dos portistas concordava que seria mais complicado encontrar um substituto para João Moutinho - e foi precisamente João Moutinho o jogador mais lamentado ao longo do ano, apesar de as opções para substituir James não terem sido propriamente um sucesso.

Moutinho foi considerado peça imprescindível ao longo dos três anos que jogou no Dragão. James nunca teve esse estatuto, e nunca foi sequer a figura principal do ataque de um Porto que contou com Falcao, Hulk e Jackson durante a sua passagem pelo clube.

James acabou por ter uma época muito boa em França. Moutinho foi uma enorme desilusão. Mas não era de todo expectável tamanha disparidade de rendimento dos dois jogadores. O que sabemos hoje não muda aquilo que era um facto indesmentível em maio de 2013: James ainda não era jogador para ter uma avaliação superior à de João Moutinho. A valorização de ambos os jogadores na transferência serviu um único propósito: impedir que o Sporting recebesse por inteiro a parcela das mais-valias a que teria direito.

sábado, 28 de junho de 2014

Solavancos no arranque da Sporting TV

                                                                                                                                  
Parece que a Sporting TV já não pode ir para o ar a 1 de julho. Desconheço totalmente quais as regras que têm que ser cumpridas para que seja aprovado o lançamento do canal, pelo que também não faço ideia se a responsabilidade do atraso será do Sporting ou da ERC.

O que acho estranho é que numa altura em que qualquer cliente de televisão por cabo tem acesso a canais generalistas e temáticos de toda a espécie e feitio (alguns dos quais exploram de uma forma degradante as manias mais bizarras de pessoas nitidamente desequilibradas), um projeto como a Sporting TV (ou outro canal de efetivo interesse público) tenha que se sujeitar a algo que não é mais que um mero passo burocrático que não traz qualquer valor acrescentado para a sociedade.

Mais ridícula se torna esta situação quando a própria Meo tem um serviço que permite a QUALQUER pessoa tenha o seu próprio canal - que fica disponível para todos os clientes da operadora numa questão de minutos.


Será portanto absurdo que a Sporting TV não comece a transmitir por faltar cumprir um procedimento caduco sem qualquer utilidade aparente.

No entanto, isto não invalida que existam algumas coisas que não me agradam no processo da formação da Sporting TV:
  • O logo do canal: também não gostei do primeiro logotipo que foi divulgado. Os sportinguistas deram a sua opinião nos meios que tinham ao seu alcance e a direção acabou por solicitar a sua alteração. Tudo bem até aqui. Não gostei foi que, no comunicado que anunciou o novo logotipo, a direção referisse que "o produto final apresentado não correspondeu às expectativas do Conselho Directivo". A direção do Sporting será sempre a primeira responsável por todas as áreas do clube, e se o logotipo foi divulgado terá sido certamente com a sua aprovação. É normal que o Conselho Diretivo não seja composto por especialistas em design e imagem, e que aceitem a sugestão dos especialistas na matéria que trabalham para o clube. Foi um tiro ao lado? Foi, e felizmente foi a tempo de se corrigir. Mas aquele comentário no comunicado era completamente desnecessário. Não gosto que a direção do meu clube tente sacudir a água do capote de assuntos pelos quais é responsável.
  • Benfiquistas na Sporting TV: ao ser divulgada a equipa da Sporting TV, ficou-se a saber que alguns dos funcionário do canal são adeptos benfiquistas. Sinceramente, a mim não me incomoda nada. O ideal seria que todos fossem sportinguistas e competentes. Não sendo possível, venham pessoas que sejam benfiquistas (ou de outro clube) e competentes. Prefiro-as a sportinguistas que não tenham jeito para essas funções. O que não faz sentido são discursos como os que foram feitos na altura da re-estruturação do jornal, em que foi referido que todos os novos funcionários subcontratados tinham que ser sócios do Sporting. Isso sim, é populismo. Diz-se que Marco Silva é benfiquista. Isto significa que não serve para o Sporting? Com certeza que não.


De qualquer forma, nada disto deve ser encarado com dramatismo. A Sporting TV é uma experiência nova para o clube, vão haver certamente algumas coisas que não correrão bem ao princípio, e haverão muitos ajustes a fazer ao longo do caminho. O importante é que haja competência para identificar os problemas realmente relevantes e encontrar soluções para que o canal possa servir os sportinguistas da forma que todos desejamos.

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Capas que não fizeram história, nº 39: Critérios e rapinações

                                                                                                                                            
Bruno de Carvalho foi suspenso por 45 dias devido a um artigo não assinado do jornal Sporting onde se fala das lealdades dos membros do conselhos de arbitragem, disciplina e justiça, e por textos escritos no seu facebook particular. 

O Conselho de Disciplina do juíz Herculano decidiu ajuizar em causa própria, punindo Bruno de Carvalho por um texto de autoria desconhecida que certamente lhes foi bastante incómodo. Aproveitaram também para rapinar mais uns milhares de euros em multas. Confesso que não me lembro de alguma vez algum presidente de uma SAD ter sido castigado pelo conteúdo de artigos do jornal do clube. Seria interessante que o CD explicasse por que motivo começou agora a fazê-lo.

Fico então à espera que as instâncias de justiça do nosso futebol iniciem uma exaustiva investigação às páginas das publicações oficiais de outros clubes portugueses.

Só por curiosidade, quantos dias de suspensão devia valer isto para Vieira?


Há uns meses falou-se muito de coação. Isto é o quê, mesmo?

(capa retirada do blogue O Rapaz de Verde e Branco)

Os salários dos selecionadores do mundial

                                                                                                                                        
Valores em libras.

via @nunovalinhas

Se estivesse no lugar de Paulo Bento também não quereria sair. Espero que saiba justificar os €3,2M que irá receber até ao Euro 2016.

Curiosamente, os três mais bem pagos também foram eliminados. Apenas continuam em prova 8 dos 16 mais bem pagos.

O ensurdecedor som dos grilos à noite

                                                                                                                                           
Pelo menos não se ouviu outra coisa lá para os lados do Estádio da Luz depois de o Benfica ter emitido o seu último comunicado, às 23h de ontem.



Brincadeiras à parte, crescem os rumores de que Gaitan pode mesmo ir para o Zenit sobreavaliado. Se isso acontecer será uma nova demonstração de que Vieira e Pinto da Costa são farinha do mesmo saco. O risco que o Benfica corre é que o Real Madrid pode não gostar da brincadeira. Se os espanhóis se mexerem junto da UEFA para reclamar os seus direitos não se sabe como pode a história acabar.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Fim

                                                                                                                             
Despedimo-nos com o melhor jogo que fizemos no mundial, o que, convenhamos, não era difícil. Paulo Bento finalmente fez alterações no meio-campo que há muito se impunham e a resposta foi positiva. 

Por outro lado, Paulo Bento optou por não mexer nos três elementos mais ofensivos, o que se demonstrou ter sido uma má decisão, pois Éder foi um elemento a menos em campo.

Entrámos bem, criámos oportunidades para marcar e chegámos com felicidade ao 1-0. À medida que o tempo foi avançando fomos perdendo gás, e na segunda parte o Gana acabou por conseguir tomar conta do jogo.

Ironicamente, acabámos por sofrer o golo do empate imediatamente a seguir aos alemães terem feito aquilo que precisávamos deles. A equipa ficou impaciente, mais partida, sucederam-se passes errados, mas conseguiríamos chegar ao 2-1 com mais um erro defensivo do nosso adversário.

A partir daí os ganeses ficaram psicologicamente arrasados e acabámos por ter oportunidades suficientes para marcar os 3 golos que nos faltavam para conseguirmos o apuramento, mas estivemos péssimos na finalização.

Noutras circunstâncias, a vitória por 2-1 seria um bom resultado. O Gana é uma equipa complicada, que esteve bem melhor que Portugal contra alemães e americanos, e os nossos jogadores fizeram um jogo sério e empenhado, pelo que não merecem censura pelo que fizeram hoje. 

A nossa eliminação teve, acima de tudo, origem em dois momentos: na convocatória e no jogo com os EUA. Escreverei sobre isso amanhã, mais a frio.

P.S.: mais uma vez, muito maus os comentários de Paulo Sérgio na RTP. Quem passa largos minutos a dizer que só nos faltavam dois golos para o apuramento, quando nos faltavam três (o que não é um pormenor de pouca importância naquelas circunstâncias) está a prestar um péssimo serviço a quem assiste ao jogo. Ao começar a narração de um jogo falando no 3º penteado de Ronaldo mostrou que está na carreira errada. Pode ser que a SIC Caras esteja a precisar de pessoal.


Portugal - Gana: à espera de um milagre

                                                                                                                                         
Há pouco mais de duas semanas, após a vitória categórica contra a Irlanda, estava longe de imaginar que chegariamos à 3ª jornada da fase de grupos numa situação tão delicada como aquela em que estamos metidos hoje.

A palavra milagre tem sido referida por jogadores, jornalistas e adeptos a um ritmo que nos faz pensar que estamos a falar das aparições em Fátima, e não de um jogo de futebol. Mas é mesmo de um milagre que precisamos. Aliás, de dois milagres: uma vitória nossa contra o Gana  e outra da Alemanha aos EUA com números que nos permitam recuperar o abismo de diferença de golos que nos separa dos americanos.

O pior é que, olhando para o percurso dos várias equipas intervenientes, o milagre mais complicado parece ser a nossa vitória. Acredito mais que a Alemanha consiga vencer por 3 golos, do que nós por 2 golos o Gana.

Infelizmente os nossos jogadores parece que também já atiraram a toalha ao chão. Ronaldo demonstrou mais uma vez não saber lidar bem com o fracasso, fazendo declarações que não lhe ficam nada bem após o jogo com os EUA - ainda mais sendo o capitão de equipa. Essa falta de confiança também ficou bem evidente nas palavras de João Pereira, Ricardo Costa e Pepe, os jogadores que entretanto falaram para os jornalistas.

Em relação ao onze, parece-me que se justifica que Paulo Bento faça as seguintes alterações:

  • Colocar Ronaldo a ponta-de-lança, de forma a que joguem dois extremos que desçam a apoiar o lateral. Não é admissível que voltemos a jogar num esquema tão desequilibrado como aquele que vimos no jogo passado. Assim como assim, Hélder Postiga e Hugo Almeida não devem estar aptos, e Éder mostrou muito pouco contra os EUA, pelo que Ronaldo acaba por ser a única opção para o centro do ataque.
  • Retirar os jogadores em pior forma, dando oportunidades a outros que têm demonstrado estar melhor: William Carvalho, Ricardo Costa, Rúben Amorim devem jogar nos lugares de Miguel Veloso, Bruno Alves e Raúl Meireles.
  • A defesa esquerdo, confesso que estou indeciso sobre quem será a melhor opção entre André Almeida e Miguel Veloso. Talvez apostasse em Almeida, apesar de haver dúvidas sobre se estará em condições para jogar.

Independentemente de quem jogue, espero que tentem aproveitar esta oportunidade para deixar uma imagem um pouco mais positiva. Que joguem como se o apuramento estivesse exclusivamente dependendo de nós, indo à procura do golo desde cedo, mandando no jogo e demonstrando um pouco da qualidade que celebrizou o futebol português nestas grandes competições nos últimos dez anos. Qualquer coisa que nos tire parte deste intenso sabor a amargo que as exibições feitas até agora nos deixaram.


O mistério da venda de Garay

Só €6M?                                                                                                                                      
A SAD do Benfica anunciou a venda dos direitos desportivos e económicos de Garay ao Zenit por €6M. O Benfica detinha até ontem 40% do passe do jogador, mas o comunicado não especifica se esses €6M se tratam do valor total da transação ou se é o dinheiro que o Benfica encaixará. Tratando-se da segunda hipótese, significa que o Zenit pagou €15M pelo jogador.

Inicialmente esta omissão no comunicado conseguiu lançar a confusão sobre a comunicação social, que apresentou versões diferentes. Por exemplo, enquanto que o Maisfutebol referia que os €6M se referiam ao valor total da transação (cabendo €2,4M ao Benfica), o DN dizia que a venda era de €15M. Entretanto o DN já corrigiu a notícia e alinhou com os valores apresentados pelo Maisfutebol, o que significa que possivelmente a venda total será mesmo de €6M.

Confesso que €6M me parece muito pouco para um jogador desta categoria, mesmo atendendo que ia entrar para o último ano de contrato e que já tem 28 anos. Para além disso, fico sempre de pé atrás atendendo à capacidade de engenharia negocial que Vieira tem revelado no passado - ver casos Roberto, Pizzi, Rodrigo & André Gomes, etc. - para salvar a face da sua direção e fazer passar-se como um grande negociador.

A primeira hipótese que me veio à cabeça foi uma venda subvalorizada de Garay, que seria compensada mais tarde com a venda ao Zenit de outro jogador sobrevalorizado. Desta forma, o Benfica encaixaria mais dinheiro em prejuízo do Real Madrid.

Outra hipótese possível é que Garay tenha invocado a lei Webster nos 15 dias que se seguiram à final da Taça de Portugal - os jogadores só têm 15 dias após o último jogo oficial do clube para rescindirem através dessa lei. O jogador cumpriu 3 anos de um vínculo de 4, e apenas teria que indemnizar o Benfica pelo montante dos seus vencimentos até ao final do contrato - indemnização essa que provavelmente teria que ser repartida pelos outros detentores do passe. Será que a exerceu e a carta de rescisão ficou guardada na gaveta durante umas semanas por acordo entre as duas partes, para dar ao Benfica uma hipótese de o vender? Isso explicaria a mensagem que Garay deixou ontem através do site do Benfica:


Foi através da lei Webster, por exemplo, que Paulo Assunção deixou o Porto para ir para o Atlético Madrid. Esta lei apenas se aplica para transferências para clubes de outros países.

É claro que também pode ter sido uma venda ditada pela necessidade financeira (na conjuntura atual, haver um clube português que paga um salário de €3M a um jogador é uma loucura) e pela pressão exercida pelo jogador para sair.

Quanto à saída do Benfica para o Zenit, é mais um caso que mostra que o dinheiro fala sempre mais alto. Não há 5º ou 6º lugar no ranking da UEFA que valha a qualquer clube português, mesmo quando a alternativa é ser-se desterrado para uma cidade onde viverá congelado durante a maior parte do ano. Money talks, bullshit walks. É assim a vida.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Stephen Colbert e o EUA - Portugal

                                                                                                                                       

A conferência de imprensa de ontem

                                                                                                                                     
Humberto Coelho fez finalmente o frete de interromper as férias e compareceu com Henrique Jones na sala de imprensa para responder às perguntas dos jornalistas, que finalmente parecem ter percebido que nem tudo correu maravilhosamente bem na preparação do mundial.

As perguntas colocadas foram pertinentes, mas as respostas do diretor da FPF foram evasivas e pouco esclarecedoras. Humberto Coelho foi trapalhão, não acrescentou nada de novo, e foi evidente que deu a cara apenas para tentar aliviar alguma da pressão da conferência de imprensa que Paulo Bento dará esta tarde em Brasília.

Por seu lado, Henrique Jones desvalorizou o estado físico e as lesões dos jogadores, afirmando que não havia motivos para acreditar que não fossem estar a 100% durante o mundial, acrescentando que todos os jogadores que entraram em campo estavam medicamente aptos a jogar.

O médico da seleção afirmou ter dado a sua opinião sobre as características do centro de estágio no momento da escolha, mas que não teve influência na decisão final - nem sequer confirmou se concordou com Campinas. Disse também que a seleção precisaria entre 15 a 30 dias para se adaptar a 100% ao clima de Manaus, e 10 a 15 dias ao clima de Salvador, pelo que seria impossível os jogadores conseguirem estar totalmente ambientados.

Aparentemente também não foi Henrique Jones que escolheu o fisioterapeuta do Real Madrid para fazer parte da comitiva. O médico limitou-se a indicar à direção que precisava de mais dois fisioterapeutas, e que não teve influência nos nomes dos técnicos que foram contratados.

Compreendo que ninguém tenha dado qualquer resposta que ajudasse a esclarecer o que tem estado a correr mal neste mundial. Para todos os efeitos, existem ainda ténues possibilidades de passarmos à fase seguinte e apenas estariam a dar tiros nos próprios pés se começassem a revelar aquilo que efetivamente se passou desde que o mundial começou a ser preparado.

No entanto, não só não continuamos sem respostas que expliquem as opções tomadas, como as perguntas ainda se continuam a acumular: 

  • Se não foi o médico, quem decidiu integrar o fisioterapeuta do Real na comitiva? Foi Cristiano Ronaldo que fez pressão? Jorge Mendes? O Real Madrid diretamente? Quem na federação tomou essa decisão?
  • Se é necessário assim tanto tempo para os jogadores se adaptarem ao clima de Salvador e Manaus, não faria sentido a seleção chegar mais cedo? Em vez de fazer de Campinas o hub das deslocações da seleção, porque não viajaram diretamente para o local dos jogos? Sempre teriam mais alguns dias de adaptação?
  • Se os jogadores estão medicamente aptos, significa que houve algo que falhou redondamente para os colocar em condições físicas e técnicas para jogos desta importância. Quem são os responsáveis por isso? A equipa técnica? Falta de motivação dos jogadores? Mau ambiente no balneário?

São perguntas que percebo que só venham a ser respondidas após o regresso a casa de Portugal. Mas espero que os jornalistas façam o seu trabalho e pressionem a FPF a respondê-las - caso contrário dificilmente haverá apuramento de responsabilidades e arriscamo-nos a termos mais do mesmo daqui a dois anos.

Um apelo ao Gana


Nem nos matraquilhos...


terça-feira, 24 de junho de 2014

He's back!


A luta de um jornalista desportivo contra uma horda de climatólogos

                                                                                                                                           
Luís Pedro Sousa, chefe de redação do Record, escreveu na semana passada a propósito das reações que se seguiram ao Alemanha - Portugal:
Portugal viveu uma semana de depressão. A goleada sofrida frente à Alemanha, no jogo de estreia do Mundial 2014, não só fez esquecer a euforia vivida nos dias anteriores, especialmente desde as vitórias nos dois mais recentes jogos de preparação e das notícias relacionadas com a plena recuperação de Cristiano Ronaldo, como permitiu que emergisse uma série de novas vocações entre os cidadãos nacionais. O país ficou a saber que tem milhares de especialistas em meteorologia, climatologia, fisiologia e até medicina, que ainda acumulam tais saberes com uma notável cultura futebolística, especialmente nas suas componentes tático-estratégicas.

Da parte que me toca, assumo que a carapuça me serve na perfeição. Sim, escrevi sobre a hipótese de o local de estágio ter sido mal escolhido. Sim, escrevi sobre o facto de a seleção poder não ter tido tempo suficiente de adaptação às diferentes condições climatéricas que iria encontrar na fase de grupos. Sim, coloco em causa a preparação física e o rigor dos pareceres médicos que deram a cobertura necessária para que Paulo Bento embarcasse com os jogadores da sua preferência. Sim, coloquei em causa os experimentalismos nos jogos de preparação que impediram que o mais-que-provável onze inicial ganhasse rotinas no sistema de jogo que todos saberíamos que seria utilizado quando chegassem os jogos a doer.

Sim, tenho tendência para ficar otimista para o futuro próximo quando conseguimos uma boa exibição, da mesma forma que fico mais cético para o que aí vem quando fazemos um jogo abaixo das expetativas.

Quais as minhas qualificações técnicas de metereologia, climatologia, fisiologia, medicina e cultura futebolística, em especial nas suas componentes tático-estratégicas? Zero. 

Considero-me, no entanto, um indivíduo relativamente atento ao que se vai passando, e há décadas que sigo em detalhe todas as incidências à volta destas grandes competições. E lamento dizer a Luís Pedro Sousa que sempre que chegamos a estas grandes competições internacionais levamos com os discursos dos responsáveis em como todos os pormenores estão a ser minuciosamente preparados para que nada falhe quando chegar a hora das decisões. E existem temas que são invariavelmente referidos quando chegamos a esta fase, como a importância da adaptação ao clima local e a existência de programas específicos para que cada jogador possa chegar à competição na melhor forma possível após uma longa e desgastante época. Coisas que normalmente damos por garantidas, mas que acabam por saltar à vista de todos quando não são feitas de forma competente.

Mais: se os pormenores extra-jogo não fossem importantes, bastaria levarmos uma comitiva com 23 jogadores, treinadores, uma equipa médica, algum staff de apoio direto, e seria suficiente. No entanto, a comitiva oficial que está no Brasil é composta por:
  • 23 jogadores (agora apenas 22)
  • 1 selecionador nacional
  • 3 treinadores adjuntos
  • 2 médicos
  • 1 enfermeiro
  • 1 fisioterapeuta-chefe
  • 2 fisioterapeutas
  • 1 fisioterapeuta do Real Madrid
  • 1 analista de equipas adversárias
  • 1 técnico de audiovisuais
  • 4 técnicos de equipamentos
  • 1 presidente da FPF
  • 1 vice-presidente da FPF
  • 1 diretor da FPF
  • 1 diretor geral da FPF
  • 1 diretor da divisão desportiva da FPF
  • 1 diretor de operações
  • 3 observadores (não sei o que observam)
  • 2 assessores de imprensa
  • 1 organização (é este o cargo oficial, não faço ideia do que significa)
  • 1 oficial de segurança da PSP
  • 1 oficial de segurança da GNR (é para não ferir suscetibilidades?)
  • 2 chefes de cozinha
  • 1 representante da Nike (?)
  • 1 representante da Cosmos (WTF?, o que faz este? Leva a bolsinha com todos os bilhetes de avião?)
  • 1 fotógrafo

in Media Guide FPF

Ao todos, viajaram para o Brasil 36 indivíduos para que nada falte aos 23 jogadores convocados. Das duas, uma: ou assumimos que as pessoas que fazem parte da comitiva têm efetivamente um papel a desempenhar, ou então estão simplesmente a passar férias pagas à conta da FPF. Prefiro acreditar na primeira hipótese, e creio que Luís Pedro Sousa concordará comigo (caso contrário já o teria escrito nas suas colunas de opinião).

Por isso gostaria que os senhores jornalistas (Luís Pedro Sousa não foi o único) saibam viver com as opiniões sobre todas aquelas coisas que nos venderam como sendo fundamentais para que a seleção tenha sucesso, que vêm dos vários setores da sociedade civil, de gente com visibilidade mediática ou simplesmente pessoas anónimas como eu. Para todos os efeitos, é a nós que a seleção portuguesa está a representar. Não é um assunto que interesse apenas a jornalistas desportivos, dirigentes, jogadores e treinadores. Diz respeito a um país inteiro.

O que é triste é que, sendo jornalista desportivo, tenha preferido ocupar linhas a ironizar sobre quem fala sobre o assunto em vez de se dar ao trabalho de escrever sobre assuntos importantes que têm sido ignorados pela generalidade da imprensa.

Já agora, dispenso que jornalistas desportivos, uma classe carregada de "profissionais" que envergonham diariamente o seu código deontológico, incapazes de chamar os bois pelos nomes quando os factos o justificam plenamente, os primeiros a alinhar no folclore do desígnio nacional a bem da construção de audiências e vendas de jornais, que mataram o jornalismo de investigação para passarem a ser ferramentas de propaganda ao serviço de terceiros, que diariamente preenchem páginas de opiniões que ou são insonsas ou carecem de um mínimo de isenção, e que fizeram da especulação um modo de vida com o objetivo de faturar mais uns cobres, venham agora, do alto da sua imensa sabedoria, criticar aqueles que ousam dar a sua opinião nos espaços que têm ao seu dispor. Não só é pretensioso como, acima de tudo, não têm qualquer estatuto moral para o fazer.

A alma gémea de Paulo Bento

                                                                                                                                         
Nota prévia: este post não é uma crítica ao visado pela opinião que deu. Longe de mim estar a criticar os comentadores que dão as suas opiniões ANTES dos jogos começarem, mesmo que tenham falhado redondamente nas suas previsões. Prefiro esses aos que ganham a vida fazendo prognósticos de totobola à segunda-feira nos nossos jornais e televisões. Os jornalistas e comentadores de hoje preferem refugiar-se nos lugares comuns e alinhar pelo diapasão de quem manda, sendo cada vez menos aqueles que arriscam dar as suas verdadeiras opiniões antes do facto consumado.

O programa Contragolpe deste domingo foi para o ar pouco antes do início do EUA - Portugal. Após se conhecer o onze que Paulo Bento iria utilizar, a maior parte dos comentadores do programa (goste-se ou não, é um programa que efetivamente tem pessoas ligadas ao jornalismo que são independentes e dizem o que pensam) não compreendeu algumas das apostas de Paulo Bento. Por exemplo, a aposta em Postiga e o facto de William ficar no banco.

Todos os comentadores? Nem todos. Existe um irredutível comentador que continua a estar numa perfeita sintonia com as opções e ideias de Paulo Bento:


As opiniões de Rui Pedro Braz são legítimas (apesar de altamente discutíveis), mas agora que sabemos como se passou, olhar para isto só dá uma enorme vontade de rir (ou de chorar).

"Postiga deve ter crescido fisicamente neste estágio"

"Os EUA vão oferecer todo o controlo à seleção portuguesa (...) por aí explica-se a presença de Miguel Veloso no onze, vai ser muito importante Portugal ter boa circulação de bola em zonas mais próximas da área adversária"

Enfim, embirrações minhas que vêm desde o momento em que este mesmo senhor disse isto:


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Os números não mentem

A condição física da nossa seleção                                                                                        
O site squawka.com tem uma série de estatísticas interessantíssimas sobre os jogos do campeonato do mundo. Estive a olhar para o grupo de estatística Duels, que basicamente mostra o sucesso que os jogadores de cada seleção têm nas situações de confronto físico com os adversários.

Existem estatísticas de três categorias:

  • Tackle (disputa de bola pelo chão)
  • Take Ons (quando um jogador tenta ultrapassar um adversário no um contra um)
  • Aerial (disputa de bolas aéreas)


Ao nível dos Take Ons, estamos ao nível das melhores, graças sobretudo às ações individuais de Nani (que nos dois jogos conseguiu 6 ações em 8).


Ao nível dos Tackles, os números portugueses já não são tão lisonjeiros, correspondendo à 26ª posição com apenas 37% de bolas ganhas.


No jogo aéreo, os números são assustadores: somos a 2ª pior equipa do mundial.


Na soma destas três categorias, ficamos no 26º lugar.


Como é evidente, há vários fatores que são determinantes para a má prestação da seleção até agora, mas a componente física tem sido seguramente uma delas.

António Varela e o serviço público no Twitter

                                                                                                                                               
Segunda parte do Portugal - EUA. William entra bem na equipa, Portugal parece ter finalmente meio-campo, coisa que simplesmente não existiu na primeira parte. O que teve António Varela, subdiretor do Record, a dizer sobre isso, em pleno jogo, no Twitter?


Não tardou que começasse a receber algumas respostas sarcásticas de gente que não percebe nada de futebol. Depois do jogo terminar, António Varela esclareceu o mundo de que se tinha tratado apenas de um comentário pedagógico...


Pois. Aparentemente Varela não gostou que os adeptos estivessem a elogiar demasiado o jogo de William e sentiu-se na necessidade de colocar água na fervura. Deus nos livre de termos adeptos a twittarem blasfémias deste tipo: William já entrou tarde, William dá outra segurança, foi preciso uma lesão para Paulo Bento fazer aquilo que todos nós já tínhamos percebido. Que horror!

Somos uns felizardos por termos jornalistas que se dispõem a fazer este tipo de serviço público (e de borla!) para educar os ignorantes que pensam perceber alguma coisa de um jogo de futebol.

Já agora, sobre o jogo para trás de William: 1 passe errado, 97% de eficácia. Fraco.


Não nos podemos queixar da sorte

                                                                                                                                                            
Dificilmente o jogo poderia ter começado de melhor forma. Um golo marcado por Nani aos cinco minutos, na sequência de uma enorme cortesia dos jogadores adversários, colocou-nos na posição que mais se adequa às características dos nossos jogadores: dar a iniciativa ao adversário e tentar matar o jogo em contra-ataque.

Infelizmente não soubemos aproveitar essa benesse. Os americanos mandaram totalmente no jogo sem que a nossa seleção conseguisse pô-los em sentido aproveitando o seu adiantamento. Até à meia-hora de jogo fomos sufocados pela cavalgada dos americanos pelo nosso flanco esquerdo. André Almeida fez o que lhe foi possível, atendendo que estava completamente abandonado pelos colegas. Só quando Meireles encostou à esquerda para dar o apoio que se impunha há muito, é que o jogo acabou por estabilizar. No final da primeira parte veio o único momento de infelicidade, quando Nani fez um grande remate a 30 metros ao poste e Éder, na recarga, obrigou Howard a uma excelente defesa.

Mais uma vez as lesões apareceram em força: Postiga aguentou pouco mais que dez minutos, e André Almeida jogou em sacrifício na fase final da primeira parte, acabando por sair ao intervalo. William entrou para o meio e Veloso passou para defesa esquerdo. Já não considero as lesões uma infelicidade - são demasiados casos para ser uma simples questão de sorte ou azar.

William entrou muito bem. Portugal parecia controlar a partida, mas os EUA conseguiram empatar num grande remate de fora da área, na segunda vaga de um canto. Pouco depois deram a volta num lance em que a nossa defesa esteve aos papéis. 

A partir daí, a ausência de ideias a atacar da nossa seleção ficou completamente exposta aos olhos do mundo. Bolas despejadas para a área, com Bruno Alves já a jogar ao lado de Ronaldo e Éder, sem qualquer resultado prático. Mas eis que a sorte normalmente nos bateu à porta, com Varela a fazer mais uma vez o papel de salvador e a marcar um excelente golo na última jogada do jogo, que nos deixa ainda com ténues hipóteses matemáticas de seguirmos em frente.

Individualmente, gostei de Beto, Ricardo Costa, William Carvalho e João Moutinho. Raúl Meireles foi uma nulidade desde cedo - foi quase sempre o último a partir para o ataque e o último a chegar à linha defensiva quando os americanos atacavam, com um raio de ação limitadíssimo, incapaz de pôr o pé quando a bola passava a poucos centímetros dele. Só deu nas vistas quando fez alguns remates quando já jogava a extremo, pouco antes de sair. Nani foi o único que assumiu a responsabilidade de carregar a equipa, mas tirando o golo e o remate ao poste esteve desastrado. Ronaldo não existiu, com exceção do cruzamento para o golo de Varela.

No entanto é justo que diga que o que correu mal não teve a ver com falta de vontade dos jogadores. Fizeram o que lhes foi possível dentro das limitações físicas, técnicas e táticas que são evidentes a todos.

Agora liguem as calculadoras. Somos peritos nisso, mas normalmente a história não acaba bem.

domingo, 22 de junho de 2014

Portugal - EUA: a primeira final

                                                                                                                                                   
Após a pesada derrota no jogo inaugural com a Alemanha, é inevitável que todos os jogos que aí vêm tenham que ser considerados como autênticas finais. Ganhando, podemos continuar a sonhar. Perdendo, acaba tudo.

A Alemanha e o Gana fizeram-nos ontem um grande favor ao empatar, permitindo que a nossa seleção fique dependente apenas de si própria para seguir em frente na competição. Se ganharmos os dois jogos conseguiremos o apuramento para a fase seguinte, independentemente do goal average com que fiquemos no final da fase de grupos.

De resto é esperar que a equipa entre com fome de vencer, concentrada, e empenhada em mostrar que o jogo com a Alemanha foi apenas um acidente de percurso.

Eu avançaria com este onze...


... mas já sei à partida que estou errado, pois Paulo Bento confirmou ontem na conferência de imprensa que Meireles vai jogar.

Apesar dos bons jogos de Eduardo nos particulares, Beto teve uma época que justifica ser a opção para substituir Rui Patrício. Esperemos apenas que a ausência de competição desde que terminou a época de clubes não se faça sentir. Apostaria em Miguel Veloso para defesa esquerdo e Neto para central, mas o mais provável é que Paulo Bento volte a apostar em André Almeida e Ricardo Costa. No meio-campo utilizaria William e Amorim, mas Moutinho quase de certeza que será acompanhado por Miguel Veloso e Raúl Meireles. Na frente, para além de Ronaldo e Nani, creio que Éder está de longe em melhor forma que Hélder Postiga. No entanto, pelo que se vai dizendo será Postiga a jogar de início.

Mas independentemente dos onze que entrarem em campo, temos qualidade suficiente para ganhar. Força, rapazes!

sábado, 21 de junho de 2014

A tecnologia da linha de golo

                                                                                                                                 
Este mundial tem sido positivamente marcado pelo excelente futebol praticado. Será natural, com o avançar da competição e entrando na fase do mata-mata, que as cautelas dos treinadores regressem em força, dando lugar a jogos mais fechados. E é melhor nem pensarmos na diferença qualitativa que nos espera quando virarmos as atenções para o campeonato português. Desfrutemos enquanto dura.

Mas existe um outro fator que marca este campeonato do mundo que representa um grande avanço na transparência do jogo e que, felizmente, perdurará: falo da tecnologia da linha de golo.

Já tivemos alguns lances que, noutros anos, poderiam ser alvo de enorme discussão caso as imagens televisivas não fossem totalmente esclarecedoras. Mesmo dentro de campo a pressão sobre o árbitro desaparece no julgamento deste tipo de lances. Um pequeno passo tecnológico, um grande salto para o jogo.


Curiosamente, ainda não me apercebi de qualquer discussão ou proposta para a liga portuguesa adotar esta tecnologia já na próxima época. Seria bom que todos aqueles que andam ocupados com os jogos de cadeiras de poder do nosso futebol concentrassem os seus esforços para adotarem esta inovação para as nossas competições profissionais. Querem credibilizar o nosso futebol? Podem começar por aqui. É instantâneo, rápido, e provavelmente nem será muito caro.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

As voltas que o mundial dá

                                                                                                                                                 
Na 3ª jornada a Inglaterra, eliminada, defronta a Costa Rica, que assegurou há pouco o apuramento para os oitavos-de-final. Como se sentem os ingleses em relação a isso?


* A Costa Rica vai mesmo descansar jogadores contra a Inglaterra. Não me lembro de uma maior humilhação em toda a história do nosso futebol.

Braga A?

                                                                                                                                           
Achei muito estranho quando foi noticiado que o Porto iria receber por empréstimo um jovem de 19 anos do Atlético de Madrid, aparentemente sem opção de compra estabelecida.

A última década do Porto tem sido marcada por uma política de compra de jogadores jovens para desenvolver e valorizar, com o objetivo final de realizar mais-valias consideráveis após alguns anos de aproveitamento desportivo. Tem sido essa a principal fonte de receitas do clube, que mesmo assim se revela muitas vezes insuficiente para cobrir o profundo desequilíbrio orçamental que é conhecido.

Como é evidente, não encaixa nesta estratégia a chegada de um promissor jovem de 19 anos (mas que ainda não é um jogador feito), provavelmente no período de um ano e sem quaisquer perspetivas de realização de mais-valias financeiras que compensem o tempo que será investido nele.

Mas eis que entretanto se sabe isto:

in rr.pt

Quem sai mais a ganhar com este negócio? Será que compensará desportivamente ao Porto aquilo que nunca irão concretizar financeiramente? 

Depois de escolher o treinador, agora Mendes coloca um jogador que detém parcialmente. Será que quer transformar o Porto num Braga A?

Depois de fazer o milagre de Espírito Santo em Valência, de estar envolvido em transferências estranhíssimas do Benfica e de trazer jovens que valem milhões para o Braga, eis que aparentemente o Porto começa a parecer mais um clube a dançar ao som da música do poderoso empresário.

Ainda é cedo para perceber se a estratégia desportiva do Porto irá mudar em relação ao que tem sido hábito. Apesar de ter definido a questão do treinador muito cedo, o Porto tem andado pouco mexido no que toca a contratações. Os jogadores confirmados até ao momento tratam-se sobretudo de operações realizadas a custo zero (com exceção de Evandro). É normal (e prudente) que o Porto esteja na expetativa para perceber que vendas vão realizar com Jackson, Mangala e Fernando, para saber quanto poderá gastar em contratações. Mas entretanto já não falta muito para a pré-época arrancar.

Overdose de qualidade no mundial: um aviso para o futuro da seleção

                                                                                                                                                  
Até agora a qualidade média dos jogos do mundial tem sido agradavelmente surpreendente. No lugar de uma competição carregada de equipas com demasiadas preocupações táticas, como tem sido hábito nas últimas edições, em que pouco se arrisca, temos este ano um largo conjunto de seleções que tenta assumir o jogo e procurar o golo.

Aliado a esta atitude mais positiva das seleções participantes, este desporto é cada vez mais um fenómeno universal, e assistimos ao despontar de talentos em países que não são conhecidos pelos seus pergaminhos futebolísticos. Há uns anos, julgaríamos que o Irão, Costa Rica, Honduras, Equador, Argélia ou Austrália seriam seleções para quem perder por menos que 3 seria uma vitória. Neste mundial, temos visto algumas destas seleções a baterem o pé a outras que partiam como grandes favoritas. Curiosamente, as maiores goleadas deste mundial foram impostas à Espanha, Portugal e Camarões.

Esta injeção de qualidade relativamente a mundiais anteriores tem sido uma publicidade fantástica para o futebol, e é também um sério aviso para as ambições de todos nós, que queremos que Portugal esteja sempre presente nas fases finais das grandes competições. A difusão do talento democratizou-se, e cada vez mais os plantéis dos grandes clubes europeus estão abertos a jogadores de todas as proveniências, sejam de países europeus, sul-americanos, africanos ou asiáticos. Ao invés, são cada vez menos os jogadores portugueses que fazem parte de equipas de primeira linha (Ronaldo, Pepe, Coentrão e, vá, Nani, são os que restam).

A FPF e a Liga andam claramente a dormir na sombra do sucesso dos últimos dez anos. Não se compreende como ainda não definiram regras para que os plantéis dos clubes fossem obrigatoriamente compostos com um mínimo de jogadores portugueses, e um mínimo de jogadores da formação. Ou vendo de uma forma inversa, podiam definir um número máximo de jogadores inscritos que não sejam portugueses, formados em Portugal ou da formados no clube. Se a UEFA faz isto na Liga dos Campeões, há algum motivo para não se aplicar uma regra idêntica em Portugal?

Em segundo lugar, a FPF tem que começar a ser menos discriminatória em relação aos clubes pequenos. Salvo raras exceções, jogadores que não alinhem no Benfica, Sporting, Porto (e agora Braga) simplesmente não são convocados. Numa altura em que a maior parte dos clubes de topo não aposta em jogadores nacionais, há que dar oportunidade a jogadores que se vão destacando no campeonato nacional por equipas com menores ambições.

A ironia: o futebol de rua (em que os miúdos se organizavam e jogavam livremente) desapareceu, mas por outro lado as escolinhas de futebol estão espalhadas por todo o país (onde os miúdos são orientados por gente que, teoricamente, deveria ter mais facilidade em desenvolver as suas aptidões). No entanto parece que a base de recrutamento nunca foi tão apertada.

A FPF não pode ficar à espera que os clubes ponham os interesses da seleção em primeiro lugar. O Sporting tem sido, nos últimos anos, o único clube a apostar de forma regular e consistente nos jogadores da formação - quer por uma questão de cultura formativa que nunca se perdeu, quer por uma questão de necessidade. É um desperdício o talento que há nas escolas de Benfica e Porto e que nunca chega a ter uma oportunidade de demonstrar o que vale ao mais alto nível. É um desperdício que não se dê uma oportunidade aos Bebés de agora, assim como não se deu aos Pauletas de ontem, só porque não equipa de verde, vermelho ou azul.

Se nada for feito, daqui a 4 anos dificilmente nos qualificaremos para o mundial. O pior é que, mesmo que se faça alguma coisa já hoje, muito provavelmente já vamos tarde.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Teste? Só se for à nossa paciência...

Paulo Bento enlouquece quando sai sua zona de conforto                                                                             
in abola.pt

Ou muito me engano, ou isto não é simplesmente um teste. Já só há mais um treino antes do jogo com os EUA, pelo que não há muito tempo disponível para experimentalismos.

Não discuto Beto como titular - só tenho receio pelo facto de não ter feito qualquer jogo desde que terminou a temporada no Sevilha - e já lá vai um mês. Ricardo Costa ou Neto, qualquer um faz sentido.

De resto, Veloso à esquerda, William no meio e Eder à frente parecem-me as opções que fazem mais sentido. Colocaria também Amorim no lugar de Meireles.

Não há dúvida: Paulo Bento enlouquece quando sai da sua zona de conforto - entenda-se por zona de conforto "uma situação em que todos os habituais titulares estão aptos".

Xerife na bancada


Nascer 9 vezes

                                                                                                                                                           
Há 6 meses:


Ontem:


Não sei se Filipe Nascimento tinha valor para aspirar algum dia a fazer parte do plantel principal do Benfica, mas cá para mim ficou com o destino traçado quando fez o desabafo público às declarações de Jesus. Os infalíveis não gostam de ser colocados em causa.

Alfinetadas que doem pouco

Parece que o Porto veio buscar mais um jogador às camadas jovens do Sporting. À semelhança do que aconteceu há um ano com Sambú e Cassamá, o Porto veio às compras a Alcochete só para mostrar ao Sporting que pode vir "roubar" jogadores à academia sempre que quer.

Honestamente, não me parece uma grande demonstração de força por parte de um clube que há quatro anos nos veio buscar o capitão de equipa. Essa sim, doeu profundamente.

Agora, acham que fazem mossa com Candés, Sambús ou Cassamás? Há um ano muito se escreveu que os dois jogadores contratados pelo Porto eram as estrelas da equipa de juvenis do Sporting, mas veja-se como terminou o campeonato que terminou no último fim-de-semana: o Porto a ver-nos a discutir o título na última jornada com o Guimarães. Por cada dois que saírem haverão outros dois talentos da academia que terão oportunidade de se desenvolver.

Não tenho dúvidas que o Sporting também conseguiria ir buscar jovens jogadores ao Olival caso a direção considerasse que seria uma política útil para o clube. Bastava acenar com um salário chorudo a jogadores estrangeiros da formação portista em final de contrato, e estaria feito.

Cada vez mais as formações dos grandes estão carregados de jogadores que abandonam cedo os seus países de origem, para quem o amor ao clube que os tenta desenvolver é algo que simplesmente não existe. Os clubes onde estão são apenas uma ferramenta para tentarem chegar ao sucesso, e sem família que os acompanhem devidamente gravitam à sua volta oportunistas que se preocupam mais em receber as suas comissões rapidamente do que no desenvolvimento dos jogadores que representam. São, portanto, alvos perfeitos para ações deste tipo.

Não quero, no entanto, que o Sporting responda na mesma moeda. Prefiro que a equipa B do Sporting seja constituída por jogadores formados no Sporting, que querem estar no Sporting, e complementada com alguns jogadores contratados com grande potencial (infelizmente tem havido algumas contratações questionáveis). Ir comprar inflacionado a um rival só para marcar pontos de utilidade duvidosa num campeonato de alfinetadas terá, acima de tudo, efeitos contraproducentes: a pressão sobre o jogador será maior (pelo mediatismo da troca de clube) e os companheiros que o recebem não verão com bons olhos a entrada de alguém que terá certamente um salário muito superior ao seu.

Há no entanto lições que o Sporting já deveria ter percebido: não faz sentido continuar a utilizar regularmente jogadores em final de contrato. Se essa regra se aplica à equipa principal e à equipa B, então também faz todo o sentido aplicá-la aos juniores.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Preparação minuciosa?

Sobre a estratégia delineada pela FPF para preparar o mundial                                                  
A propósito das lesões musculares que assolam a nossa seleção, a SIC apresentou ontem um quadro com o que se deve fazer para ambientar uma equipa a um clima diferente.

Na coluna esquerda está Portugal. Na coluna direita a Alemanha.


Portugal chegou ao Brasil no dia 11, cinco dias antes do seu primeiro jogo, estagiando num local que não tem quaisquer semelhanças climatéricas com Salvador e Manaus. A Alemanha estagia desde o dia 8 na Bahia, precisamente no Estado onde realizou o jogo com Portugal.

Media Guide da FPF

A seleção entretanto voltou para Campinas, para um ambiente que não tem nada a ver com o que vai encontrar em Manaus, para onde viajará no final da tarde de 6ª feira. Na noite de domingo, após o jogo com os EUA (a 22 de junho), a equipa regressará novamente a Campinas e no dia 24 viaja para Brasília.

Círculo verde: local de estágio; Círculos vermelhos: locais dos jogos

Não sou ninguém para estar a mandar bitaites sobre este tipo de assunto, mas espero que os profissionais da FPF saibam realmente o que estão a fazer. Admito que não será fácil encontrar as condições ideais de adaptação quando os locais dos jogos são tão diversificados. 

No entanto, todo o folclore de mediatismo à volta da seleção (que começa a ser uma tradição), a oportunidade da tournée aos EUA em vésperas de uma competição importantíssima e um centro de operações tão deslocado de todos os locais dos jogos tornam legítimas as dúvidas sobre se as questões desportivas terão sido intransigentemente defendidas por quem manda na FPF.