quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A estrelinha de Fernando Santos

Chamar de "estrelinha" à imensa vaca leiteira que acompanha Fernando Santos desde que decidiu seguir a carreira de selecionador (primeiro na Grécia e agora em Portugal) é provavelmente o understatement do ano. Terceiro jogo, terceira exibição sofrível, terceira vitória por 1-0, duas das quais ao cair do pano.

Portugal ganhou o jogo de ontem à Argentina nos descontos, numa jogada que nasce de um remate de Adrien à baliza que Éder bloqueou, desviando involuntariamente a bola para Quaresma, que estava isolado no flanco direito, que por sua vez cruzou para a finalização de cabeça na pequena área de um lateral esquerdo baixote que tinha entrado na segunda parte para substituir um colega lesionado, e que foi o único remate à baliza que fizemos durante os 90 minutos. Isto, meus senhores, não é definitivamente uma "estrelinha" qualquer.

Para ilustrar a verdadeira dimensão desta "estrelinha", socorri-me da seguinte imagem:


Não me entendam mal, não quero desvalorizar aquilo que Fernando Santos conseguiu. Falando apenas do que tenho visto com mais atenção (ou seja, desde que assumiu o cargo de selecionador português), Fernando Santos tem feito por merecer essa sorte. Recuperou vários jogadores ostracizados que ainda têm algo a oferecer, chama aqueles que parecem em melhores condições para servir a seleção e adapta o sistema de jogo em função do tipo de adversário que defronta, revelando uma boa dose de bom senso, que é sempre algo que se recomenda. A seleção joga mal, é certo, mas ganha - e isso não poderá ser minimizado.

Em relação ao jogo com a Argentina, não valeu o tempo que se perdeu em frente ao ecrã (imagino o sentimento das pessoas que pagaram 60 ou 80 euros para assistirem no estádio). A Argentina fez mais para marcar e o resultado acaba por ser lisonjeiro para Portugal.

Valeu pela vitória e, enquanto sportinguista, pela estreia de Adrien como internacional - que me faz lembrar aquelas situações de pessoas que são consideradas inocentes após cumprirem uma pena de prisão de 20 anos: é importante para o jogador e um alívio que tenha finalmente acontecido, mas não apaga de forma alguma a injustiça de que Adrien foi alvo ao longo do último ano.