segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Missão cumprida com um rasgo de génio

Perante o desgaste evidenciado por uma boa parte da equipa titular e perante a proximidade de 3 jogos que poderão definir o nosso futuro em 3 competições diferentes, Marco Silva decidiu fazer - e bem - uma mini-revolução no onze que subiu ao relvado para defrontar o Gil Vicente. No entanto, isso acabou por não mudar aquilo que já é uma irritante imagem de marca do Sporting desta época: uma primeira parte murcha e pouco intensa, passada demasiado longe da área adversária e com poucas ocasiões de perigo.

A equipa regressou dos balneários com outra atitude, intensificando a pressão e acelerando as ações ofensivas, explorando com mais insistência o corredor central para criar desequilíbrios, e acabando por conseguir uma segunda parte agradável de seguir, tendo como ponto alto a obra de arte de Nani - que por si só valeu a deslocação ao estádio.

A própria reação de Nani ao golo que marcou deixa adivinhar um efeito psicológico positivo que poderá ser muito importante para o jogador, e que pelo peso que tem na equipa poderá contagiar outros que têm andado um pouco abaixo daquilo que sabem fazer. E como seria importante que isso acontecesse neste momento...




Positivo

O golo de Nani - um remate absolutamente extraordinário que conquistou um lugar na galeria dos melhores golos da época. Mas houve mais Nani que isso. Fez o desvio ao 1º poste para o golo de Tanaka, e só não marcou em duas outras ocasiões porque o Gil Vicente tinha um enorme guarda-redes na baliza. Mesmo estando ainda afastado das melhores exibições que já lhe vimos realizar esta época, acabou por ser fundamental na obtenção da vitória.

João Mário a 8 - calhou-lhe fazer o papel de Adrien e saiu-se bem. Aliás, arrisco a dizer que se saiu melhor do que Adrien se sairia se tivesse jogado. Para além de ter cumprido defensivamente - apesar de não ter sido um jogo exigente nesse aspeto - e de ter sido o jogador esclarecido a que nos habituou, nunca teve medo de subir no terreno e ajudar a aumentar a presença na área. É uma opção a rever em futuros jogos com estas características. E esteve muito bem ao afastar William do árbitro quando este protestava uma decisão absurda.

A dupla de centrais - mais uma exibição de qualidade de Paulo Oliveira e Tobias Figueiredo. Num jogo em que o volume ofensivo adversário foi escasso, revelaram enorme utilidade para o coletivo ao fazerem bem a pressão mal os jogadores mais adiantados do Gil recebiam a bola em lances de potencial contra-ataque.

Oportunidades bem aproveitadas - Tanaka e Miguel Lopes aproveitaram bem a titularidade. O japonês marcou um golo pleno de oportunismo, fez uma excelente assistência de peito para João Mário e quase bisava perto do final (grande defesa de Adriano), e teve outros bons pormenores ao longo do jogo. Perante tal eficiência na área, apenas me pergunto por que motivo tem tanta tendência para pisar outros terrenos mais afastados da baliza. Miguel Lopes fez uma primeira parte sofrível, mas melhorou imenso na segunda parte com várias iniciativas que levaram perigo para a baliza do Gil Vicente. Acabou por estar ligado ao monumento de Nani ao marcar o lançamento de linha lateral. André Martins esteve bastante ativo na primeira parte, baixando de rendimento na segunda, mas arriscou pouco ao nível do passe e quase nunca entrou na área. Precisa de fazer mais se quer ser opção para aquela posição.

42098 - quantos clubes em Portugal colocariam 42098 espectadores (de carne e osso, não falo de espectadores-fantasma que outros se habituaram a registar nas suas assistências) no estádio quando a equipa está a nove pontos da liderança e vem de uma série de três jogos sem ganhar? Eu respondo: um, o Sporting. Imaginem como será quando recomeçarmos a ganhar títulos com regularidade.  

Adriano e a atitude do Gil Vicente na primeira parte - na 2ª volta ainda não tínhamos recebido um adversário que não viesse apenas para o pontinho e que não abusasse do antijogo em todas as ocasiões possíveis. O Gil, dentro das suas limitações, tentou jogar e nunca recorreu a expedientes de equipa pequena para fazer avançar o relógio. E o que é facto é que, mesmo jogando de uma forma positiva, conseguiu ir para o intervalo com o mesmo resultado que os outros - muito por culpa de Adriano Facchini, que impediu a goleada com uma enorme exibição. Sempre simpatizei com o Gil Vicente - não é clube que se dobre para prestar vassalagem aos donos deste futebolzinho e faz o seu percurso de uma forma digna - e fico a torcer para que consigam a manutenção.


Negativo

A intensidade colocada na primeira parte - não é novidade nenhuma no Sporting 2014/15, mas o que é facto é que voltou a acontecer. Lentidão na circulação de bola, pouca acutilância na aproximação à área, pressão demasiado ligeira no meio-campo adversário. Apesar de ter sido o suficiente para controlar totalmente a partida, foram demasiado escassas as oportunidades de golo criadas para um jogo destas características.

O risco de colocar William - notou-se claramente que William começou o jogo com demasiadas cautelas na abordagem aos portadores de bola adversários. Ameaçava ser menos um a defender, mas felizmente com o decorrer da partida conseguiu encontrar o equilíbrio certo entre a agressividade defensiva e as cautelas para não ver amarelo. Mesmo assim, esteve muito perto de ver o amarelo por protestos depois de uma decisão incompreensível do árbitro. Jorge Ferreira não perdoaria.



O nível exibicional poderia ter sido mais constante, mas o importante é que regressámos às vitórias - e com direito a um golo estrondoso que ficará na memória dos sportinguistas durante muito tempo (Nani já nos tinha oferecido outra prenda deste calibre contra o Maribor). Pelo meio ainda deu para gerir o plantel sem perder qualquer jogador para o jogo com o Porto. Missão cumprida.