domingo, 29 de março de 2015

Vitória à imagem do selecionador

Se há um balanço que pode ser feito destes primeiros jogos oficiais de Fernando Santos, é que parece que o selecionador soube incutir na equipa uma dose elevada de realismo que levou os jogadores a encararem com concentração máxima os desafios que tiveram até ao momento. Nenhum dos jogos foi um portento de espetacularidade, mas todas as exibições foram sólidas. Contra a Sérvia, voltámos a ter uma seleção pragmática, concentrada e paciente, que manteve quase sempre o jogo controlado, aguardando o momento certo para disferir o golpe fatal ao adversário. Não houve nota artística, mas conquistámos 3 preciosos pontos contra um adversário que pode ser muito perigoso se dispuser de espaço para que as suas individualidades brilhem.



Positivo

As 3 dimensões de Fábio Coentrão - a sua colocação no meio-campo foi uma aposta ganha de Fernando Santos. Jogou sempre numa rotação muito elevada, conseguindo ter um papel importante em todos os momentos do jogo. Sempre preocupado em dar o apoio necessário a Eliseu (colocando-se muitas vezes em linha com a defesa, com Eliseu a deslocar-se para um espaço mais interior), muito combativo no meio-campo, e a aparecer com frequência na área adversária. Foi um verdadeiro extremo na forma como apareceu ao 2º poste para finalizar para o 2-1. E ainda fez o cruzamento para Ricardo Carvalho inaugurar o marcador. O melhor em campo.

Meio-campo afinado - a dupla Moutinho / Tiago funcionou muito bem. Souberam fechar os caminhos da área de forma muito eficiente, recuperando inúmeras bolas, e saíram sempre a jogar com muito critério. William incorporou-se na perfeição numa altura em que a preocupação principal era manter o resultado. Foi fantástico o cruzamento de Moutinho para o golo de Coentrão.

Pragmatismo à moda grega - Fernando Santos parece ter importado com sucesso o ponto forte da "sua" seleção grega: muita gente a defender (até Ronaldo e Nani desciam com frequência) de forma a povoar o nosso meio-campo de modo que a Sérvia não tivesse espaço para pensar e jogar, e aproveitando ao máximo a muita experiência dos homens em campo - que raramente se desconcentraram.


Negativo

As ofertas de Eliseu - numa noite de enorme concentração defensiva, as duas principais oportunidades de que a Sérvia dispôs foram geradas por dois momentos de desatenção de Eliseu: um alívio de cabeça para a entrada da área onde havia apenas um sérvio, e a demora em subir do 2º poste, deixando Matic em jogo para um golo fantástico. 

Ataque pouco povoado e inspirado - o downside do pragmatismo à grega é precisamente as dificuldades que isso gera no outro lado do campo. Poucas unidades incorporadas em simultâneo no ataque e poucos riscos corridos, que se juntaram a uma noite pouco inspirada de Ronaldo, Nani e Danny. Não chegámos muitas vezes com perigo à baliza de Stojkovic, mas valeu-nos a eficácia na finalização.

Cuidado com a renovação - William, que entrou a poucos minutos do fim, foi o único sub-27 em campo. Aliás, dos 14 jogadores utilizados, apenas 4 têm menos de 30 anos. A experiência é importante, mas convém não abusar. Agora que a qualificação está bem encaminhada talvez seja hora de começar a injetar algum sangue novo na equipa em jogos a sério.



Três jogos oficiais de Fernando Santos, três vitórias à imagem do selecionador - pouco espectaculares mas resultado de uma atitude séria, sem facilitismos. Somos líderes isolados do grupo com 2 pontos de avanço sobre 2º e 3º e 8 (!) sobre o 4º e 5º, numa altura em que só restam 4 jogos por disputar. Ou seja, o lugar no playoff está praticamente assegurado, e o apuramento direto dificilmente nos fugirá caso a seleção continue a encarar cada um dos jogos com este nível de seriedade.