quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Há vida para além da Champions

A eliminação de ontem foi um autêntico soco no estômago, mas a vida continua e há que começar a delinear uma estratégia para atacar o muito que ainda há para ganhar esta época. Apesar disso, não podemos deixar de fazer um balanço da eliminatória e perceber o que falhou. Vamos por partes.

A eliminatória com o CSKA, os erros da equipa e de Jesus

Cometemos erros? Cometemos vários e acabámos por pagar bem caro por eles. Mas não me parece que seja honesto alguém colocar em causa o trabalho que está a ser desenvolvido quando é fácil perceber que o Sporting teria passado a eliminatória com maior ou menor dificuldade se não tivesse sido vergonhosamente prejudicado pelas equipas de arbitragem de ambas as partidas. 

Também podemos questionar as decisões de Jesus em relação à abordagem à partida e a forma como mexeu (ou não mexeu) na equipa durante a segunda parte, quando o desgaste começava a ser visível. Mas vejamos: o Sporting fez uma excelente 1ª parte, procurando correr poucos riscos para não entregar ao adversário um jogo à sua medida, e chegou ao intervalo a ganhar. Até aqui, nada a apontar. Começa a segunda parte, e sofremos um golo fortuito devido a uma má abordagem à bola de Adrien e um ressalto infeliz que acabou por dar golo marcado com o cotovelo. Jesus refresca o ataque. Sofremos o 2-1 pouco depois, mas na resposta o jogador que Jesus lançou em campo marcou um golo que nos deveria ter dado o apuramento. Jesus falhou de facto ao não ter refrescado mais a equipa, quem sabe se não teríamos ido para prolongamento com mais de dois pares de pernas frescas em campo.

Mas antes de começarmos a criticar tudo a torto e a direito, pensemos no que elogiaríamos e criticaríamos se apenas um dos quatro lances que nos prejudicaram tivesse sido julgado de maneira diferente.

Para mim a questão da arbitragem de ontem morreu a partir deste parágrafo. Ao contrário do que se passa na arbitragem nacional, estes roubos contínuos nas competições europeias (Schalke, Wolfsburgo, CSKA por duas vezes) não são algo de pessoal contra o Sporting - foi apenas uma questão de termos tido o azar de apanhar os adversários errados. Espero que o Sporting não gaste desnecessariamente energias em protestos à UEFA, e se limite a entalar Fernando Gomes de forma a que o presidente da FPF tenha que aparecer em público em defesa de um clube que representa.


O impacto da eliminação no resto da época

Conforme já escrevi, creio que não nos livramos de termos que vender um jogador bem vendido, provavelmente ainda nesta janela de transferências. A questão poderá agravar-se em setembro na eventualidade da decisão do TAS sobre o caso Rojo não nos ser favorável, mas aí parece-me que será suficiente vender outro jogador após o final da época - desde que antes de 30 de junho. Se for William o jogador a ser transferido em agosto / janeiro, seguramente que não precisaremos de vender um segundo jogador.

Para além disso, fica mais difícil arranjar folga para reforçar a equipa nas posições que parecem estar mais carenciadas (lateral direito e ponta-de-lança semelhante a Slimani). Tal só acontecerá através de um negócio de oportunidade, quem sabe se agarrado à venda que teremos que fazer.

Em termos de consequências negativas de natureza desportiva, é isto. Não é de todo um cenário catastrófico. Quando Bruno de Carvalho referiu em entrevista aquela frase polémica do desconhecimento do orçamento para este ano, estava a ser prudente em função do pior cenário que podia acontecer. Prudência que se percebeu na forma como foi abordado o mercado. O pior cenário concretizou-se, e agora há que fazer os ajustes necessários para que a época decorra sem quaisquer problemas de tesouraria.


As oportunidades que surgem da eliminação

Dentro do muito mau que foi a eliminação da Champions, existem oportunidades que deveremos aproveitar de forma inteligente.

Espero que os responsáveis pelo futebol do Sporting se lembrem daquilo que foi a época em que Leonardo Jardim foi o nosso treinador. Sem competições europeias, a equipa pôde focar-se exclusivamente nas competições nacionais e isso ajudou-nos a garantir - apesar de termos um orçamento muito inferior aos adversários diretos e uma equipa completamente nova - um segundo lugar confortável e a qualificação direta para a Champions da época seguinte.

Se dependesse de mim, o Sporting ignoraria a Liga Europa tanto quanto possível. Usaríamos exclusivamente segundas linhas, afetando o menos possível o plano de treinos para a jornada seguinte do campeonato. 

Entre a 4ª e a 12ª jornada, todos os jogos para o campeonato antecederão ou se seguirão a uma jornada da Champions. O foco dos nossos adversários estará obrigatoriamente dividido, e isso pode ser uma vantagem a nosso favor. Mais: o Benfica - Sporting da 8ª jornada vai disputar-se poucos dias depois de uma jornada europeia.

Não nos podemos esquecer que o trabalho de Jesus está apenas no princípio. A equipa vai melhorar (e muito) ao longo da época. Temos um plantel mais forte e equilibrado do que aquele que Leonardo Jardim dispunha. Temos uma base de equipa muito mais experiente. É verdade que o Porto também está mais forte do que no tempo de Paulo Fonseca, mas não deixará de ter uma tarefa difícil de reconstruir uma equipa sem os jogadores de classe mundial que vendeu / perdeu este defeso e que não foram adequadamente substituídos. E creio que todos estarão de acordo em como o Benfica atual não tem nada a ver com a equipa que dominou o futebol nacional na época de 2013/14.

Não é altura para lírismos, temos que ser pragmáticos. As probabilidades de vencermos a Liga Europa são ínfimas. O dinheiro que dá é pouco significativo e os jogos às quintas-feiras são uma dor de cabeça para recuperar fisicamente os jogadores para a jornada seguinte. Não nos podemos esquecer do que aconteceu naquela sequência Wolfsburgo / Porto. Aproveitemos a Liga Europa para rodar os jogadores menos utilizados, de forma a não desgastar os habituais titulares e termos alternativas mais aptas a entrar na equipa a qualquer momento.

Não havendo dinheiro da Champions e confrontos com tubarões que exigem o esforço máximo dos jogadores para termos uma participação digna, temos que colocar as fichas todas nas competições nacionais. Deixemos o desgaste dos jogos a meia semana para os outros. Podermos estar focados totalmente no campeonato é uma vantagem enorme. Espero sinceramente que não desperdicemos esta oportunidade.