quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Brincar às seleções

Tenho muitas dificuldades em perceber a lógica que orienta a marcação dos compromissos particulares da seleção. Tirando o inevitável impulso das estatísticas individuais dos jogadores e do historial de Portugal, não consigo encontrar qualquer benefício na realização de um jogo com o Luxemburgo, uma seleção que na qualificação teve um duelo aceso com a poderosa Macedónia pelo 5º lugar do grupo C.

Para piorar, o jogo foi disputado num relvado deplorável. Tivesse sido o Luxemburgo - Portugal disputado há duas semanas, e teria sido um maravilhoso ensaio para os internacionais do Sporting prepararem o jogo de Arouca.

Dá toda a ideia que este planeamento e calendarização de jogos tem sobretudo o dedo da direção da FPF, e menos o do selecionador. Já sabemos que para Fernando Gomes, Humberto Coelho & Cª, os interesses desportivos são tipicamente relegados para segundo plano. O princípio orientador da marcação de particulares costuma ser o cachet recebido. Se o adversário tem ou não o perfil ideal para a preparação idealizada pelo selecionador, é uma questão secundária. É difícil esquecer que há precisamente três anos a seleção foi fazer um jogo ao GABÃO. Repito: ao GABÃO.

O lado positivo deste conjunto de dois jogos foi a possibilidade de Fernando Santos observar um conjunto de jogadores que serão o futuro desta seleção. É urgente a renovação da seleção, é bom ver que começa a haver  espaço para caras novas, mas apesar disso penso que esse processo deveria ter sido iniciado durante a fase de qualificação de uma forma mais gradual. Parece-me de uma utilidade algo discutível estar a lançar novos jogadores em massa num jogo a feijões, em vez de ir integrando um par de jogadores de cada vez ao lado do núcleo duro.

Aliás, qualquer ensaio que não inclua Cristiano Ronaldo acaba por ser um meio-ensaio. A partir do momento em que no seu lugar aparecem jogadores como Éder ou Lucas João, a estratégia de jogo tem que mudar radicalmente. É a cruz de estarmos tão dependentes de um único jogador. Compreendo a dispensa de Ronaldo (temos todo o interesse em que o nosso bola de ouro chegue a junho o mais fresco possível), mas por outro lado é um pouco constrangedor ver que o tempo de descanso que a seleção lhe concedeu acabou por servir para o jogador pôr em dia os seus compromissos relacionados com os seus negócios pessoais - no espaço destas duas semanas estreou um filme, desdobrou-se em entrevistas, tentou bater um recorde do Guiness de selfies tiradas, e sabe-se lá que outras atividades Jorge Mendes lhe terá arranjado para se ocupar...

P.S.: Fernando Santos disse no início do estágio que iria levar em consideração o Sporting - Benfica e o Real Madrid - Barcelona, e cumpriu de forma equilibrada para os clubes interessados. Valha-nos isso.

P.S.2: Parece que o Porto está indignado com o selecionador por não ter tido direito ao mesmo tratamento. Já têm a desculpa perfeita para usar se forem eliminados pelo Angrense.