O Sporting anunciou, ontem, através de um comunicado, a saída de Augusto Inácio do clube. A decisão é explicada pela incompatibilidade do cargo de dirigente com a de comentador televisivo, em função das novas regras estabelecidas pela Liga que podem responsabilizar e penalizar os clubes que tiverem elementos que assumam ambos os papéis em simultâneo.
Este pretexto acaba por ser bastante conveniente na antecipação de algo que era inevitável: a saída de Inácio do Sporting, que ocorreria o mais tardar no final do atual mandato. O seu papel no clube estava há muito esvaziado, principalmente desde a entrada de Jorge Jesus. A criação do cargo de responsável pelas Relações Internacionais foi a forma encontrada para explicar o seu afastamento sem que perdesse a face. Os meses que se seguiram comprovaram o que era previsível: Inácio entrou de imediato no comentário televisivo e as suas intervenções públicas limitaram-se quase exclusivamente à participação no programa Playoff - não consta que Carnaxide seja uma metrópole situada num país estrangeiro.
Inácio cumpriu um papel importante na campanha eleitoral, por ser a cara mais familiar da lista de Bruno de Carvalho, começou por ser um elemento razoavelmente ativo após as eleições, mas gradualmente foi perdendo o limitado protagonismo que tinha. Bruno de Carvalho soube ser grato e procurou sempre proteger a imagem de Inácio aos olhos dos sportinguistas e do público em geral.
Por seu lado, Inácio manteve sempre uma postura discreta e solidária, nunca deixando transparecer publicamente algum tipo de desagrado pelas sucessivas perdas de relevância dentro da estrutura. Poder-se-á dizer que isso é o mínimo exigível a dirigentes relegados para um papel menos relevante do que à partida lhes estaria reservado, mas convém relembrar que nem isso existia nas direções anteriores. Não é preciso um grande esforço de memória para recuperar situações de dirigentes que colocaram o seu ego à frente dos interesses do Sporting, não perdendo tempo a disparar críticas em todas as direções assim que se sentiam relegados para um plano secundário.
Por tudo isto, é da mais elementar justiça reconhecer o papel que Inácio desempenhou ao longo destes três anos. Deu a cara pelo clube no pior momento da sua história centenária e contribuiu para tirar o Sporting do abismo em que caía.
Obrigado, Inácio!