O caso João Mário só teve direito a ser caso porque, há umas semanas, o seu pai disse publicamente coisas que não deveria ter dito. A partir do momento em que alguém tão próximo de um jogador diz o que não deve, é normal que a comunicação social dê relevo a qualquer pormenor que possa indiciar a existência de problemas - e sendo o assunto relacionado ao Sporting, então já sabemos que se junta a fome à vontade de comer.
É normal que o jogador, tendo propostas de clubes históricos de algumas das maiores ligas europeias, queira sair. É normal, também, que o empresário e outros representantes do jogador tentem capitalizar a atenção que a sua estrondosa época fez por captar. O que não faz sentido é que venham para a praça pública fazer quaisquer exigências ou ameaças veladas que depois não terão capacidade de concretizar.
João Mário renovou contrato há cerca de um ano e está ligado ao Sporting até 2020. Ou seja, não havendo qualquer alteração da sua situação contratual, terá que se apresentar ao trabalho nas épocas de 2016/17, 2017/18, 2018/19 e 2019/20. Isto significa que se os seus representantes quiserem fazer um braço de ferro com o clube, então deverão estar preparados para fazer força durante muito, muito, muito tempo.
Como é evidente, o clube terá sempre que decidir em função dos seus melhores interesses. Se considera que poderá obter melhores ofertas do que aquelas que foram apresentadas, então fez bem em recusar. O princípio deve ser este: havendo condições financeiras para tal, o Sporting deve ambicionar manter os melhores jogadores nos seus quadros, e não vendê-los à primeira oportunidade (nos últimos meses temos visto adeptos de outros clubes festejarem vendas avultadas como se de troféus se tratassem), mantendo um equilíbrio entre os interesses desportivos do clube e as ambições que os jogadores têm para as suas carreiras.
Não se concretizando a transferência, é óbvio que o clube não tem qualquer interesse em contar com um jogador que se sinta injustiçado, pelo que a sequência normal será avançar-se para o aumento salarial para níveis adequados à sua importância no grupo de trabalho - neste caso, ao nível de Rui Patrício, Adrien, William e Slimani. Mais uma vez, não se está aqui a inventar a roda: é prática comum dos clubes aumentar salários a jogadores de forma a mantê-los satisfeitos durante mais algum tempo.
Se houve alguma falha do Sporting neste processo até ao momento, foi no facto de não ter comunicado antecipadamente a ausência do jogador na apresentação aos sócios - mesmo que fosse apenas um par de horas antes, seria o suficiente para reduzir significativamente as especulações sobre o tema.
João Mário regressou hoje a Alcochete e já treinou. O seu agente diz que, daqui para a frente, é uma questão de se discutir a venda ou novo contrato, mas está enganado. É uma questão de se discutir uma venda que interesse ao jogador e ao Sporting, ou de continuar a treinar e jogar como até agora tem feito. Não se concretizando a venda, não tenho dúvidas que o compromisso de João Mário com o clube não sofrerá qualquer beliscadela, porque o clube não deixará de querer fazer justiça, dentro dos seus meios, a tudo o que o jogador tem conseguido alcançar.