As últimas semanas têm sido férteis em avanços e recuos no processo de venda de João Mário ao Inter. Segundo as notícias que nos vão chegando através da comunicação social, a transferência já várias vezes esteve acertada ou muito perto disso, mas apareceram sempre certos entraves que foram adiando as assinaturas no papel: ou divergências nos valores totais oferecidos e pretendidos por uma e outra parte, ou questões de definição dos prazos de pagamento, ou ainda falta de entendimento na quantia que deverá ser paga no empréstimo e na que será paga no momento da venda propriamente dita. A única coisa que parece ser certa é a enorme quantia de dinheiro que estará envolvida - seguramente uma das maiores vendas de sempre do futebol português.
Este facto tem sido particularmente difícil de digerir por certas pessoas, que se vão consolando com o facto de o Sporting ter direito apenas a uma pequena parte do dinheiro da venda. As versões vão divergindo, umas metendo a banca, outras metendo fundos, e as restantes metendo bancos e fundos (até a Doyen metem ao barulho). Aqui fica uma dessas versões, pela voz de Rui Gomes da Silva, que é um verdadeiro tratado sobre a arte de atirar números para o ar sem saber do que fala:
Será efetivamente assim? Bem, a resposta é: não. É verdade que existem compromissos que terão de ser respeitados com a banca, e também com o fundo que detém 25% do passe de João Mário (vendidos por Godinho Lopes à QFIL de Peter Kenyon por €400.000), mas as contas que têm sido feitas por aí são demasiado simplistas.
É certo que o fundo terá de receber 25% do valor da transferência. Então e a banca?
Em primeiro lugar, há que esclarecer que a parcela que será entregue à banca não é dinheiro jogado fora. O Sporting, ao dar esses montantes a Novo Banco e BCP, estará a reembolsar os empréstimos bancários que contraiu, ou seja, estará a reduzir o passivo da SAD.
Em relação aos valores, tomando como bom o documento do Acordo Quadro entre o Sporting e a banca que o Football Leaks divulgou há uns meses, existem as seguintes obrigações a cumprir ao vender jogadores:
Considerando que a tranche B do Contrato de Abertura de Crédito Sporting SAD valia, no momento da assinatura deste acordo, cerca de 25 milhões de Euros, é muito provável que esse valor ainda não tenha sido reembolsado na totalidade. Como tal, o Sporting terá de entregar aos bancos 30% do valor da venda, obviamente deduzido do montante que cabe à QFIL e das comissões pagas a intermediários.
Fazendo um exercício com estas percentagens, SE João Mário for vendido por (por exemplo) 40 milhões de euros, cada entidade envolvida terá direito a:
Há, no entanto, um pormenor importante: o Sporting só terá que entregar esse valor à banca no dia 30 de julho de 2017. Ou seja, a totalidade do valor que a SAD receba a pronto do Inter poderá ficar disponível para outras finalidades que o clube considere prioritárias. Há é que garantir que no final de julho de 2017 exista liquidez disponível para cumprir esta obrigação.
Já agora, existem dois tipos de receitas operacionais que o Sporting precisa, obrigatoriamente, de alocar parcialmente em reembolsos à banca: as vendas de jogadores (que funcionam da forma que foi explicada atrás) e os prêmios de participação nas competições europeias. Esta época, o Sporting terá de reembolsar a banca em 5 milhões de Euros pela participação na Liga dos Campeões, independentemente da carreira que o clube fizer (estão garantidos 12M e uma parcela do Market Pool português, para além dos valores que se receberão pelas vitórias, empates e progressão na competição; ou seja, mesmo na pior das hipóteses, não deverá ficar abaixo dos 15M).