terça-feira, 17 de janeiro de 2017

As alterações na política de contratações para 2017/18

A edição de ontem do Record deu conta de uma reunião de três horas entre Bruno de Carvalho e Jorge Jesus, em que um dos temas abordados terá sido a necessidade de alterar a política das contratações já na próxima temporada.



Segundo o Record, o Sporting planeia fazer esta reformulação em duas frentes distintas.

Em primeiro lugar, o departamento de scouting e a cadeia de decisão das contratações serão reestruturados. A minha conclusão é que isto significa que o treinador perderá peso na escolha final dos nomes propriamente ditos - apesar de, obviamente, a indicação das características que pretende nos jogadores continuar a ser competência sua. Parece-me uma decisão sensata, face ao balanço que se pode fazer do que aconteceu nesta pré-época: foram satisfeitos muitos pedidos expressos de Jesus, mas pouquíssimos corresponderam às expetativas. Isto nem sequer é novidade na sua carreira: quando treinava o Benfica, Jesus também ganhou muito peso nas contratações na sua segunda época. Na altura, tal como agora, o acerto deixou muito a desejar e grande parte desse poder foi-lhe retirado.

Em segundo lugar, em vez de se continuar a apostar em jogadores "feitos" e com currículo, a estratégia passará por voltar a privilegiar a contratação de jovens com grande margem de progressão. Isto, na minha opinião, é obrigatório para um clube como o Sporting. O que aconteceu esta época não pode ser repetido. Não entrou um único jogador a quem se veja, a curto prazo, um grau de valorização elevado. Considerando o aumento dos custos com salários nas últimas duas épocas, o Sporting precisará, em cada época, de vender bem pelo menos um jogador. Isso não é um problema para os próximos 2 anos - felizmente existem muitos jogadores com mercado -, mas é necessário manter uma linha de desenvolvimento de jogadores ininterrupta, pois é a única forma de conciliar a necessidade de vender com o sucesso desportivo que todos desejamos.

Claro que tudo isto é muito bonito no papel, mas para funcionar será fundamental escolher as pessoas certas - até porque convém não esquecer que o balanço das contratações pré-Jesus também deixou muito a desejar. Ao longo dos quase quatro anos como presidente, certamente que já passaram, pelas mãos de Bruno Carvalho, propostas suficientes de jogadores que lhe permitam perceber quais são as pessoas que têm mais olho para o potencial dos atletas. Não sei se essas pessoas já estarão dentro do clube ou se terão que vir de fora, mas espero que o presidente saiba tomar as decisões corretas. Não há muitas coisas que aprecie em Vieira, mas se existem qualidades que lhe reconheço, enquanto presidente do Benfica, é a de ter sabido - apenas ao fim de muitos anos, é certo - rodear-se de profissionais competentes e a de não ter problemas em delegar. Se já existir, dentro do clube, gente com competências para assumir essas funções, há que apostar nessas pessoas. Não havendo, há que as procurar noutros lados. Em assuntos profissionais, a lealdade é uma qualidade importante, mas apenas se for acompanhada por competência.

P.S.: infelizmente, olhando para a presença de nomes como Vicente Moura e Marta Soares na lista de Bruno de Carvalho para o novo mandato, fico com dúvidas sobre se o presidente tem opinião semelhante à minha na questão da lealdade/competência.