sábado, 14 de janeiro de 2017

O 11º mandamento

"Quando algo improvavelmente bom acontece ao Sporting, o sportinguista deve, de imediato, equacionar todos os cenários ainda mais improvavéis - mas em mau - que lhe poderão suceder a muito curto prazo." 

Esta frase foi inventada por mim no preciso momento em que escrevo estas linhas, mas poderia muito bem ser uma adenda aos 10 mandamentos do Sporting. Hoje, em Chaves, voltou a acontecer essa fatalidade tão sportinguista. Péssima primeira parte do Sporting, com os transmontanos a marcarem logo no começo e com a equipa a revelar um fio de jogo desesperantemente inócuo, e uma segunda parte decente graças às correções feitas ao intervalo, onde se consumou a reviravolta no resultado pouco depois de Rúben Semedo ter sido expulso. Mas, mais uma vez, a equipa foi incapaz de segurar os três pontos, desta vez por causa de um golo que tem tanto de caído do céu como espetacular.

Foto: Global Imagens / Octávio Passos



Mais uma vez, Bas Dost - correndo o risco de ser repetitivo, não tenho maior crítica a apontar a Jorge Jesus do que esta: é fundamental adaptar o estilo de jogo da equipa às caracterísitcas do avançado holandês. Se as bolas lhe chegarem em condições, Bas Dost marca. Tanto quanto me parece, fez quatro remates durante o jogo: dois originados por passes/cruzamentos mal direcionados, que não lhe davam condições decentes de sucesso. Um bom cruzamento (o de Gelson) e uma assistência de André que nem foi tão bem direcionada quanto isso. Uma oportunidade e meia, dois golos. É o melhor finalizador que temos desde Jardel. Comecemos a tirar verdadeiramente partido disso.



Falta de estofo de campeão - infelizmente, é a conclusão que se tira da forma como o Sporting entrou em jogo. Bem sei que o Chaves é uma equipa complicada, que não é fácil de derrotar no seu terreno, mas não é admissível que, com a oportunidade de reduzir a distância para o líder, o Sporting tenha entrado com tanta falta de fome de golo. A primeira parte foi do pior a que se assistiu esta época, com uma quantidade inacreditável de passes e cruzamentos falhados, e uma incapacidade gritante de converter em oportunidades de golo o imenso domínio territorial - muito por causa do sistema de jogo, desfasado dos intérpretes que estão no relvado, que redunda numa posse de bola esmagadora mas completamente inconsequente. Em 90 minutos, apenas me lembro de quatro ocasiões de golo - as dos golos, um remate de Adrien em desequilíbrio que Ricardo defendeu, e um passe de morte para André, que, solto no meio da área, conseguiu fazer o mais difícil: falhar o remate. Muito, muito pouco para tanta, tanta posse.

A expulsão de Rúben Semedo - falta desnecessária que resultou numa expulsão justa (valeu-lhe o segundo amarelo, mas o árbitro foi simpático ao não mostrar-lhe o vermelho direto) que não contribuiu em nada para o sucesso da equipa.



As substituições - as alterações ao intervalo produziram melhorias no jogo do Sporting. Não acho que Campbell e Alan Ruiz estivessem a ser piores do que a maior parte dos colegas, mas a entrada de André e Bryan Ruiz, dois jogadores mais despertos para a importância de se começar a defender o mais à frente possível, acabou com o jogo ofensivo do Chaves - que na primeira parte procurou (e conseguiu), por diversas vezes, tirar partido do adiantamento da linha defensiva do Sporting e das fragilidades dos nossos laterais. É preocupante não haver opções em melhor forma do que estas, mas isso é outra conversa. Já a saída de Dost é mais polémica, mas acho que, naquelas circunstâncias, era a que fazia mais sentido. Com o Sporting em inferioridade numérica e em vantagem no marcador, era previsível que o Chaves iria carregar no ataque. Considerando que era uma hora de cerrar os dentes para segurar a vantagem, não fazia sentido tirar Ruiz ou André, que estavam mais frescos, pelo que sobravam Dost ou Gelson. Jesus optou pelo holandês. Não correu bem, mas na altura era o que fazia mais sentido.



Mais dois pontos perdidos de uma forma inacreditável, mais um passo atrás numa recuperação psicológica e exibicional que tarda em consumar-se. Daqui a três dias repete-se o confronto, naquele que é, muito prematuramente, um jogo que poderá definir o que será o resto da nossa época.