quarta-feira, 11 de outubro de 2017

A idade de ouro do futebol português

Portugal qualificou-se para o mundial de 2018. Parabéns a Fernando Santos e aos jogadores que contribuíram para este desfecho. Será a décima participação consecutiva da seleção nacional em finais das grandes competições internacionais. Durante este período, conquistámos um título em 2016, fomos finalistas vencidos em 2004, e semi-finalistas em 2000, 2006 e 2012. Algo que as gerações portuguesas mais novas encaram com naturalidade, foi uma raridade nas décadas que antecederam esta bonança recente. Estamos a viver uma autêntica idade de ouro do futebol português.

Isso deve-se, sobretudo, a dois motivos: os sucessivos alargamentos ao número de participantes nas fases finais facilitou o acesso a muitos países que, noutros tempos, nunca ou raramente se qualificavam, nos quais se inclui Portugal; e ao facto de termos tido o privilégio de contar com dois jogadores que pertencem à elite da história do futebol: Figo e Cristiano Ronaldo. Com esta última afirmação, posso estar a ser um pouco cruel com o magnífico naipe de jogadores que, ao longo dos últimos 20 anos, os rodearam: Vítor Baía, Fernando Couto, Ricardo Carvalho, Pepe, Deco, Rui Costa, Nani ou João Vieira Pinto foram jogadores de classe mundial, mas, a meu ver, o fator que permitiu a Portugal esta série ininterrupta de participações em fases finais e o sucesso em tantas ocasiões recai, em primeiro lugar, na influência e classe das suas figuras máximas.

Com certeza que Portugal se teria qualificado várias vezes mesmo sem Figo e sem Ronaldo, e possivelmente até poderíamos ter feito um brilharete ou outro, mas nunca conseguiríamos ter alcançado esta série de sucessos. Com a globalização do jogo, são muitas as seleções que têm jogadores de grande nível, habituados a alinhar nas maiores ligas do mundo. A diferença não está nesses jogadores, e muito menos nos treinadores - a qualidade técnica dos nossos selecionadores é, tradicionalmente, angustiante. A diferença está nos extra-terrestres que tivemos. Ganhámos a final de 2016 sem o nosso extra-terrestre em campo, é verdade - como diria Al Pacino, any given sunday you're gonna win or you're gonna lose - , mas nunca teríamos lá chegado sem ele.

Cristiano Ronaldo tem 32 anos. Se nenhum azar suceder, fará o mundial de 2018 e, havendo vontade, o europeu de 2020, mas já numa fase descendente - pelo menos em teoria - da carreira. Quando este Ronaldo acabar, voltaremos a ser apenas o pequeno retângulo situado na ponta da Europa com uns escassos 10 milhões de habitantes, mas que uma anormalidade estatística disfarçou de forma gloriosa nos últimos 20 anos. Infelizmente, há quem continue a desvalorizar a sua importância. Deviam apreciá-lo enquanto podem. Quando se retirar, vai levar com ele a bonança que o futebol português tem vivido.