terça-feira, 10 de outubro de 2017

Geração rasca vs Geração de estadistas

Ao longo da última semana, foi bastante interessante observar a forma natural como a generalidade dos comentadores encarou o palavreado que Vieira utilizou no seu discurso na AG do Benfica. De notar que não vejo grandes problemas no uso do calão - são estilos, e que atire a primeira pedra aquele que nunca recorreu a esse tipo de linguagem -, mas não deixa de ser (mais uma vez) revelador que os mesmos indíviduos, supostamente isentos, que se mostraram chocados com uma gravação off-the-record de Bruno de Carvalho ou com as liberdades que o presidente do Sporting tomou na última entrevista na Sporting TV, não tenham dedicado uma única palavra à forma como Vieira se expressou perante os sócios que o elegeram.

O nível da análise dos experts da bola nacional ao discurso do presidente benfiquista foi de uma pobreza franciscana. Nem mantiveram os padrões de exigência em relação à forma, nem se preocuparam em pegar nas muitas polémicas do conteúdo: Vieira mentiu na cara dos sócios benfiquistas - desde quando é que Jorge Mendes não é representante de jogadores do plantel sénior do Benfica? (perguntem ao Filipe Augusto e ao Pizzi quem é o seu agente) -, Vieira entrou em contradição com mentiras anteriores - no ano passado disse que tinha vendido Renato Sanches a pronto (o que o R&C demonstrou ser mentira) e na AG disse que nenhum clube paga a pronto -, empurrou a responsabilidade de determinadas contratações polémicas para cima de Rui Vitória, não esclareceu totalmente a questão da venda Jimenez/Mitroglou, voltou a fazer promessas relativamente à descida substancial do passivo... ou seja, não faltou sumo para ser analisado pormenorizadamente, mas desta vez os comentadores não aparentaram ter muita sede.

Viu-se apenas uma falta de coerência no momento de procurar a polémica em função do clube, que, na realidade, não é nada a que não estejamos já acostumados. Uns representam uma geração rasca de dirigentes, apesar de terem um trabalho de qualidade mais que comprovada, enquanto outros, com passados muito duvidosos e protagonistas de escutas e emails que indiciam práticas de corrupção e tráfico de influência, são os estadistas de que o futebol português precisa.

De qualquer forma, aqui fica mais um registo para memória futura dos comentários do homem da batuta da propaganda encarnada, o mestre cartilheiro e das notas soltas (e ainda analista isento da CMTV nos tempos livres) Carlos Janela. Apesar de tudo o que já se sabe, continua a enojar-me a suprema lata com que este sujeito se tenta fazer passar por sério, e como é que ainda há quem lhe continue a dar pouso. Enjoy!