A afirmação do presidente do Benfica em como o Benfica nunca fez antecipação de receitas é tão falsa como demagógica.
É falsa porque está provado que o Benfica, há não muito tempo, antecipou receitas. Refiro-me aos valores da transferência de Bernardo Silva para o Mónaco: o Benfica recorreu à sociedade financeira XXIII Capital para receber antecipadamente os valores que o Monaco tinha ficado de pagar em várias tranches.
É falsa porque está provado que o Benfica, há não muito tempo, antecipou receitas. Refiro-me aos valores da transferência de Bernardo Silva para o Mónaco: o Benfica recorreu à sociedade financeira XXIII Capital para receber antecipadamente os valores que o Monaco tinha ficado de pagar em várias tranches.
O documento que prova que o Benfica antecipou o recebimento desses valores foi divulgado pelo Football Leaks em janeiro de 2016.
Na altura, o Benfica reagiu em comunicado dizendo que a antecipação de receitas de transferências de jogadores era "uma vulgar operação financeira à semelhança de outras já feitas por esta e muitas outras sociedades desportivas". Ou seja, o Benfica reconheceu, em comunicado, que já tinha feito outras antecipações de receitas de transferências de jogadores, desmentindo, portanto, aquilo que o presidente do Benfica disse a todos os sócios e adeptos na entrevista da semana passada.
Para piorar, Vieira também mentiu ao dizer que qualquer antecipação de receita que houvesse seria para o pagamento de dívida. A antecipação de receita que o documento revelado pelo Football Leaks refere-se a tranches referentes ao período compreendido entre julho de 2015 e julho de 2016. Nesse período, a dívida abatida pelo Benfica foi marginal, muito inferior ao valor oficial da transferência de Bernardo Silva para o Monaco. Isto significa que o valor antecipado não foi destinado ao abatimento de dívida.
É fácil percebe a razão que levou o presidente do Benfica a fazer esta afirmação: distinguir-se positivamente em relação aos rivais. Segundo o último R&C, o Benfica não tem qualquer dívida referente a factoring (o que quer dizer pouco, porque os vários R&C's trimestrais de 2014/15 omitiram a antecipação de receitas da transferência de Bernardo Silva), em oposição a Sporting e Porto, que reportaram nas suas contas a existência de receitas antecipadas.
A afirmação de Vieira na entrevista é, portanto, falsa. Mas mesmo que fosse verdadeira, não passaria de demagogia barata destinada a enganar os benfiquistas. A antecipação de receitas não é mais do que uma forma alternativa de endividamento. Qual é a diferença entre pedir uma antecipação de uma receita de 15,75 milhões referente a uma transferência em relação a contrair um empréstimo obrigacionista do mesmo valor? No fim do dia, vai dar ao mesmo: quem antecipa receitas, fica com o dinheiro disponível mais cedo e perde o direito de as receber quando a prestação vencer, pagando, como contrapartida, uma comissão à sociedade financeira a que recorreu; quem contrai um empréstimo obrigacionista (ou outro tipo de financiamento) fica com esse dinheiro disponível de imediato e terá um dia de o pagar com juros - recorrendo, obviamente, ao dinheiro de outras receitas que entretanto for obtendo. E, como se sabe, não há clube em Portugal que tenha contraído mais empréstimos obrigacionistas do que o Benfica.