Considerando a semana incrivelmente favorável que o Sporting viveu - começando pela vitória ao Porto, continuando com a conquista da Taça da Liga, assistindo à perda de pontos de Benfica e Porto e ao tiro no porta-aviões que foi a constituição de Luís Filipe Vieira como arguido - que, não tendo implicações desportivas, certamente que funcionará como facilitador para se desmontar a estrutura montada à sua volta -, o jogo de ontem com o V. Guimarães era um daqueles que, desse por onde desse, fosse como fosse, teria que acabar com uma vitória para o nosso lado.
À semelhança do que aconteceu na final da Taça da Liga, aquilo que aconteceu nos primeiros 45 minutos não permitiam perspetivas muito otimistas, pois a exibição do Sporting ficou bastante aquém do que se esperava. Mas, mais uma vez, a segunda parte trouxe uma equipa transfigurada que impôs um ritmo superior que contribuiu para quebrar fisicamente o adversário - que acabaria por pagar a fatura do esforço em pressionar e preencher os espaços nos primeiros 70 minutos -, também à semelhança do que tinha acontecido frente ao V. Setúbal. E foi precisamente nos últimos vinte minutos, numa altura em que já só dava Sporting, que voltaria a prevalecer a estatística que nos diz que é muito pouco provável o Sporting não marcar golos durante 90 minutos.
"Presos por arames" - o nível exibicional não foi famoso, em particular na primeira parte, mas houve um jogador que se apresentou a um nível elevadíssimo durante os 90 minutos. Falo, obviamente, de Fábio Coentrão que, com a sua qualidade e, sobretudo, com a garra e a determinação que coloca em campo, já conquistou o coração de todos os sportinguistas. A outra figura foi Mathieu, principalmente pelo decisivo golo que marcou, claro, mas também pela mentalidade que oferece à equipa. É um jogador habituado a ganhar e que está disposto a fazer de tudo em campo para ajudar a equipa a atingir os seus objetivos - seja como central, seja como extremo improvisado, seja como ponta-de-lança de recurso. Em comum aos dois: chegaram a Lisboa com o rótulo de estarem "presos por arames", mas já descartaram de forma categórica todos os receios que existiam sobre a condição física e níveis de motivação no momento da sua contratação. Numa altura de enorme exigência física, não há jogador no plantel que pareça tão fresco como estes dois.
Prevaleceu a estatística - no lançamento do jogo e na flash interview após a vitória, Jorge Jesus referiu que o Sporting tem sido, ultimamente, uma equipa mais cínica, mais italiana. Parece-me que esse cinismo é mais produto das circunstâncias - uma equipa fatigada e privada dos seus dois jogadores mais repentistas - do que de um ideal de jogo, mas a verdade é que, estatisticamente, é uma abordagem que, em Portugal, pode funcionar. E o que nos diz a estatística? Diz-nos que, jogando bem ou jogando mal, é quase inevitável o Sporting marcar pelo menos um golo: até agora, em 29 jogos oficiais em competições nacionais, só não marcámos nos dois jogos com o Porto e no jogo semi-a-feijões-com-um-onze-totalmente-remodelado com o Marítimo, na 1ª jornada da fase de grupos da Taça da Liga. Como tal, em 90% dos casos, é suficiente não sofrer nenhum golo para garantir os três pontos. Apesar de um Sporting - V. Guimarães ser uma daquelas partidas em que poucos apostariam num 0-0, a verdade é que esse desfecho não esteve assim tão longe de acontecer... mas no fim, a estatística levou a melhor através do pé esquerdo de Jérémy Mathieu. E quando uma determinada estatística se confirma tão frequentemente, dificilmente se pode considerar isso fruto do acaso ou das circunstâncias... mesmo quando as exibições não estão ao nível do que se desejava.
Os melhores - para além de Coentrão e Mathieu, bons jogos de William, de Acuña (apenas na segunda parte) e de Ristovski. Bruno César também entrou muito bem.
Muita força, Daniel! - o pontapé de saída foi o melhor momento da noite. E se há alguém a quem a vitória deve ser dedicada, é ele.
Presos por arames, sem aspas - é visível que há vários jogadores em acentuado subrendimento físico. O caso mais evidente é o de Marcus Acuña. O argentino fez uma primeira parte angustiante: nunca deu profundidade pelo seu flanco, movimentava-se a passo, incapaz de concretizar um drible, escondendo-se quase sempre em zonas interiores em vez de aproveitar o espaço que tinha junto à linha, obrigando Coentrão a ser, simultaneamente, lateral e extremo. Curiosamente, na segunda parte encontrou forças que parecia não ter, subindo bastante de rendimento. Bruno Fernandes e William Carvalho também parecem espremidos, mas a sua qualidade com bola nos pés permite que sejam sempre úteis. O que é facto é que existem demasiados jogadores que têm ido sempre a jogo, independentemente da importância do desafio e do nível do adversário. Está na hora de Jesus alargar o seu leque de opções.
A lesão de Dost - espero que não seja grave. Montero não é jogador para ser o ponta-de-lança no sistema que utilizamos, e Doumbia, apesar de ser muito incómodo para os defesas adversários, continua a mostrar-se demasiado trapalhão e pouco inteligente em determinadas ações de jogo. Pode ser que melhore com uma maior utilização, mas não sei se a equipa se pode dar ao luxo de esperar por ele.
Os anormais que dispararam pirotecnia no início da segunda parte - espero que sejam identificados e impedidos de entrar no estádio, no mínimo, até ao final da época.
Nota artística: 3
MVP: Fábio Coentrão
Arbitragem: bom trabalho de Luís Godinho. As incidências do jogo ajudaram.
Missão cumprida e, provisoriamente, liderança alcançada. O próximo jogo é já no domingo, contra o Estoril.