quarta-feira, 25 de maio de 2016

Uma questão de transparência

A questão dos moldes da contratação de Bruno Paulista é um assunto que, na minha opinião, e a bem da transparência - que tem sido um ponto de honra desta direção -, deveria ser alvo de esclarecimentos adicionais aos sócios por quem manda no Sporting. As únicas coisas que se sabem ao certo é que veio por empréstimo do Caála, clube ligado a António Mosquito, e que se trata de uma "Cedência temporária com direito de preferência até 30.06.2021", segundo o quadro de transferências publicado pelo jornal Sporting em setembro. A minha interpretação, perante isto, é que não existe obrigatoriedade de compra, o que provavelmente significará que o jogador não continuará no Sporting. Mas será mesmo isso?

A forma como este negócio foi conduzido não deixa de representar uma incoerência em relação à política de contratações que o clube tem seguido, e legitima a existência de dúvidas sobre todas as suas implicações. Ou seja, até haver novos desenvolvimentos, a compra de Paulista continuará a ser usada pelos rivais como arma de arremesso contra o Sporting.

No entanto, em matéria de transparência, há quem tenha telhados mais envidraçados do que o Sporting. No caso do Benfica, por exemplo, as últimas semanas deram-nos cinco bons exemplos da aversão que existe à divulgação de informação relevante.


1. A componente variável da transferência de Renato Sanches

A comunicação social portuguesa noticiou, na altura em que a venda ao Bayern foi conhecida, que 25 dos 45 milhões seriam facilmente realizáveis: 5 milhões por cada 25 jogos feitos pelo jogador em cada uma das épocas de contrato. Isto empurraria os números da potencial venda para 60 milhões, visto que os restantes 20 milhões são quase impossíveis de alcançar. 

No entanto, na semana passada, o jornal Bild revelou que esses 45 milhões variáveis dividem-se da seguinte forma: 5 serão pagos quando Renato Sanches cumprir 25 internacionalizações (muito provável); 10 dependem da sua nomeação para o XI mundial do ano (muito difícil); outros 10 para a nomeação se o jogador conseguir chegar à lista final de 3 nomeados para a Bola de Ouro; e mais 20 se vencer a Bola de Ouro. Ou seja, quase de certeza que o Benfica receberá um total de 40 milhões de euros pela venda do jogador.

40 milhões não deixa de ser uma venda fabulosa, em função do que o jogador mostrou até agora, mas convenhamos que existe uma diferença enorme entre uma versão e outra. E mesmo dando de barato que a credibilidade do Bild não é propriamente fantástica, fica a dúvida: por que razão o Benfica não divulgou o detalhe das componentes variáveis do negócio? E por que razão a CMVM não demonstra mais curiosidade? É que não se está a falar de trocos...


2. Quanto custarão e quem detém os restantes 50% do passe de Jimenez?

Com a venda de Gaitán ao Atlético Madrid, volta-se a especular sobre se o Benfica irá adquirir os 50% de Jimenez que ainda não possui, e por que valor o fará. De quem são esses 50%? O que se diz é que pertencem a Jorge Mendes. Considerando que a partilha de passes com agentes e fundos é proibida para transferências posteriores a 1 de maio, não seria de esclarecer quem detém o resto do passe do jogador mexicano?


3. Os direitos desportivos de Ederson

Perante notícias do interesse de clubes estrangeiros em Ederson, descobriu-se agora que o Benfica apenas tem 50% do passe do jogador. O relatório e contas da SAD é omisso em relação a isso: não existe qualquer referência à percentagem de passe detida pelo Benfica (e, já agora, de muitos dos jogadores do plantel que chegaram por um custo relativamente reduzido).

Curioso, também, que se diga que o Rio Ave irá vender a Jorge Mendes parte dos outros 50%... isto apesar de isso ser proibido desde 1 de maio de 2015...


4. Os direitos sobre uma futura venda de Jardel

Ao que se diz, o Benfica tem 100% dos direitos desportivos do jogador, mas a Traffic (antiga proprietária do passe de Jardel) terá direito a 50% do valor de uma futura venda. Para além disso, também o Olhanense terá direito a uma parcela. Mais uma vez, não há qualquer referência a isso nas contas do Benfica.


5. Os direitos sobre uma futura venda de Lindelof

O antigo clube de Lindelof terá a receber 20% de uma venda futura do jogador. O facto em si não é nada de estranho - é normal os clubes vendedores procurem assegurar este tipo de direitos -, mas, mais uma vez, o R&C do Benfica nada refere.


E também há quem diga que o presidente de uma SAD de um clube lisboeta da I Liga terá também direito a parte de uma futura venda de Lindelof.


A pergunta que qualquer pessoa poderá colocar é: perante as omissões existentes nas contas benfiquistas, existirão outros jogadores cujos direitos sobre futuras vendas estejam partilhados com terceiros, tal como Ederson, Jardel e Lindelof? 

No R&C do Sporting todas estas situações se encontram discriminadas: quer as percentagens de passes detidas pelo Sporting, quer os direitos que terceiros terão sobre vendas futuras dos atletas.


Esta preocupação com a informação dada aos sócios e adeptos é um dos fatores que mais aprecio na direção de Bruno de Carvalho. Sabemos com o que podemos contar e dá-nos ferramentas para avaliarmos o trabalho que vai sendo feito. Este nível de partilha de informação com os sócios é também, na minha opinião, um comprovativo de confiança em como as decisões são tomadas nos melhores interesses do Sporting Clube de Portugal. Que o caso de Paulista se esclareça nos próximos meses ou que, na pior das hipóteses, continue a ser a exceção que confirma a regra.

P.S.: não esquecer que o Benfica também tem o seu caso Paulista. Segundo o que divulgou a TVI24 na altura da sua transferência para a Luz, Samaris também chegou a Portugal através de António Mosquito.