sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Carlos Pereira e a gratidão que a seleção deve aos clubes

Em entrevista à RR, o presidente do Marítimo, entre outros assuntos, disse:
(...) os meios financeiros estão escassos, ao contrário da Federação, que tem um produto que não compra e vende a alto preço com aquilo que é dos clubes. (...) Mas quem beneficia da grande fatia daquilo que é a seleção portuguesa de futebol, que é feita com os ativos dos clubes (...)
Começa por fazer alguma confusão que um presidente de um clube que há décadas tem o alto patrocínio dos dinheiros públicos através do governo regional da Madeira, possa estar a tentar pedinchar mais dinheiro de instituições do Estado. Adiante, que não é disso que este post se trata.

O senhor até pode ter alguma razão em teoria, mas se atendermos que o grosso das receitas da FPF com a participação das seleções vem das fases finais das competições em seniores, não me parece que o Marítimo tivesse direito a um grande encaixe monetário. Espero que Carlos Pereira não queira que a FPF comece a mandar mais dinheiro para os clubes espanhóis, ingleses e turcos, que é onde estão os principais jogadores da seleção. Aliás, com a saída de Moutinho para o Mónaco e a provável saída de Rui Patrício para o estrangeiro, brevemente teremos um 11 onde não haverá nenhum jogador de clubes portugueses.

Mesmo assim, a verdade é que o Marítimo, tendo uma formação bastante acima da média suportada por uma equipa B que ficou em 16º lugar na II liga no ano passado, poderia reclamar um contributo importante ao nível da evolução do jogador nacional, e consequentemente parte das receitas da FPF. Ou não?

Numa análise estatística simples, organizando a utilização de jogadores do Marítimo na I liga em 2012/13 por nacionalidade, chegamos ao seguinte resultado:



Ou seja, na época passada, apenas pouco mais que 1/3 do tempo de jogo foi preenchido com jogadores portugueses. E o mais assustador é que o Marítimo ainda deve ser dos melhores. Se fizermos esta análise para o que foi o Benfica dos últimos anos, ou para o que será o Porto de 2013/14, o panorama será certamente tenebroso.

Tivemos nas últimas semanas alguns sinais de que o futebol jovem em Portugal parece estar a querer inverter a tendência dos últimos 15 anos, com as presenças de destaque no Mundial Sub-20 e no Europeu Sub-19. Será que os nossos clubes estão mentalizados para transformar estas promessas em valores seguros do futuro do nosso futebol?

Se não estiverem, mais vale acabarem com intervenções deste tipo.