A correria no fecho dos mercados
Os clubes portugueses têm que vender
todos os anos. Sem as receitas das vendas de passes de jogadores, os
clubes não conseguem cobrir os custos de estrutura, salários e
aquisições de passes. A estratégia seguida nos últimos anos tem sido esperar pelos últimos dias de mercado. Em 3 ou 4 dias decide-se o lucro ou prejuízo das SAD's ao longo de toda a época, em vez de se aproveitarem os 3 meses que passaram com as competições paradas.
Do ponto de vista de planeamento de um plantel, adiar as transferências para os últimos dias de mercado é um absurdo para quem compra e para quem vende. Com campeonatos já em andamento, os clubes potencialmente vendedores são obrigados a comprar antecipadamente jogadores para precaver possíveis saídas, levando à formação de plantéis sobredimensionados e em muitos casos desequilibrados. Por outro lado, os clubes compradores estão a integrar jogadores que não fizeram a pré-época com o clube, e que vão ter certamente um período de adaptação que os impedirá de dar o melhor contributo possível numa parte considerável das competições em que vão participar.
Do ponto de vista económico, não é mais que um jogo de poker. Quem compra está à espera do desespero de quem vende, quem vende está à espera do desespero de quem compra, de forma a conseguir o melhor negócio possível. Quem fizer melhor bluff sai vencedor.
Porto descansado
Este ano o Porto teve a sorte grande. Houve um milionário russo que se chegou à frente e levou dois jogadores por €70M ainda antes da pré-época se iniciar. No ano passado as coisas correram muito pior -- venderam Álvaro Pereira a uma semana do fecho do mercado por €10M (muito abaixo de ofertas que receberam no ano anterior) e depois venderam Hulk já em Setembro, por um valor muito inferior ao esperado, que até levou à rábula dos €65M que alegaram receber contra os €40M que os russos disseram que pagaram. Num ano em que gastaram €10M em aquisições, mesmo encaixando €50M, o Porto apresentou um prejuízo de €6M no final do 3º trimestre da época desportiva 2012/13. Pinto da Costa bluffou (nada de piadas fáceis com os desarranjos intestinais do senhor, por favor) e perdeu em grande.
Este ano o Porto já encaixou €70M, que devem ser suficientes para cobrir os €24M em aquisições de jogadores. Ou seja, o Porto já não deve ser obrigado a vender, a não ser que alguém bata uma cláusula de rescisão -- o que é muito pouco provável.
Benfica sobressaltado
O Benfica não tem esta segurança. Em 2012/13 o clube adquiriu passes no valor de €26M, e esperou pelos últimos dias de mercado para vender Javi Garcia e Witsel, por uns fantásticos €60M. Desportivamente foi um risco enorme, mas a época que Matic e Enzo fizeram acabou por fazer esquecer os seus antecessores. Mais tarde, no mercado de Janeiro, o Benfica ainda vendeu Bruno César por €5.5M. No total, as compras foram de €26M, vendas de €65.5M. No final do 3º trimestre o Benfica apresentou resultados positivos de €7.3M.
Este ano, o Benfica já gastou €25M em aquisições, e recebeu €4.5M em vendas. Num exercício simplista que exclui comissões de agentes, percentagens de receitas para fundos e outras alterações na estrutura de custos e receitas do clube em relação ao ano anterior, podemos dizer que faltam €43M de vendas para o Benfica apontar para um equilíbrio de contas este ano. E já só faltam 3 dias para o mercado fechar.
Os jogadores mais falados para sair têm sido Garay (que dará no máximo €10M, já que a cláusula de rescisão é de €20M e metade do passe é do Real Madrid), Matic (que Luís Filipe Vieira disse que não vende por menos de €50M), Sálvio, Gaitan e Enzo Perez. Como é evidente, nem todos terão que ser vendidos, mas a verdade é que de todos estes jogadores só Gaitan poderá ser substituído à altura.
Na entrevista da semana passada, LFV apontou para este ano como sendo o último em que o clube vai precisar de vender jogadores para ser rentável. Dificilmente alguém poderá acreditar neste discurso, juntando-se a mais um enorme conjunto de promessas feitas ao longo de 10 anos de presidência que nunca foram cumpridas. LFV vai ter que vender, e bem, este ano. A capacidade negocial (dependente do desespero de clubes compradores) vai determinar se vai precisar de vender 2 ou 3 jogadores (ou só 1 se conseguir vender Matic pela cláusula de rescisão). O que neste momento joga contra o Benfica é que o mercado está parado. Se Bale for vendido, e se o Tottenham (do homem da cadeira de sonho) comprar na Europa, pode ser que o mercado se agite. Caso contrário, sobra o mercado russo. O Anzhi já está a acabar com as loucuras em que se meteu. Resta saber se os outros clubes do petróleo e do gás ainda querem servir de mecenas à outra ponta da Europa.
A juntar à decisão de alto risco / alta recompensa ao transmitir os jogos na Benfica TV, Vieira não parece preocupado em repetir a dose no que toca às vendas de jogadores. Pode dar certo, mas não sei se será aquilo que se poderá chamar de boa gestão.
Sporting de outra realidade
O Sporting neste momento só joga com fichas de €1M. O orçamento está a ser reduzido de forma brutal e se conseguir ver-se livre dos contratos milionários de Labyad, Onyewu, Pranjic, Bojinov e Bouhlarouz até pode ser que não precise de vender mais. A vender, apenas Rui Patrício não poderá ser substituído à altura. O outro nome que se tem falado é Capel, que neste momento não é titular.