sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Sporting - Benfica: fim da linha?

Sporting e Benfica jogam amanhã em condições que poucos acreditariam há duas semanas atrás.

O Sporting, com um plantel formado essencialmente por jovens da formação e contratações de baixo custo, venceu de forma convincente os dois primeiro jogos do campeonato. O que mais impressiona nem são tanto as vitórias em si, mas a forma como a equipa se apresentou em campo: solidária, confiante e eficaz.

Por outro lado, o Benfica, a equipa muitas vezes chamada de rolo compressor, parece transportar os traumas das derrotas do final de época seguinte. Cardozo e Melgarejo à parte, é exatamente a mesma equipa que maravilhou os adeptos no campeonato (onde teve apenas uma derrota) e na Liga Europa, jogando de peito feito contra um adversário teoricamente mais forte e caindo apenas nos descontos. As duas primeiras jornadas mostraram uma equipa insegura e perdulária que parece se querer desligar do treinador.

Isto mostra o quanto as questões psicológicas (e no caso do Sporting o treinador) têm peso na produção dos jogadores e, consequentemente, da equipa. O Sporting joga com 6 jogadores titulares que participaram ativamente na pior época de sempre do clube. O Benfica joga com 9 titulares que participaram ativamente naquela que esteve perto de ser uma das melhores épocas de sempre do clube.

O problema das questões psicológicas é que não são fáceis de ultrapassar, sendo mais fácil entrar numa espiral de descrença que parece que amarra os jogadores dentro de campo. Para sair dela não basta um jogo. Não acredito que depois de virarem o resultado com o Gil Vicente os jogadores do Benfica já tenham recuperado totalmente a saúde psicológica. Essa recuperação é muito gradual. O Sporting, no ano passado, também ganhou alguns jogos nos últimos minutos, e não foi por isso que na jornada seguinte as coisas melhoraram. 

Esta descrença é provavelmente o motivo que levou Jesus a lançar a carta Cardozo. É uma jogada de desespero para tentar semear medo no adversário e levantar o espírito dos seus jogadores e adeptos. O problema é que, para Jesus, enquando líder de balneário, é uma situação lose-lose. Se Cardozo entra e resolve o jogo, deixa de ter argumentos para afastar um jogador que o desautorizou em frente de todo o país. Se Cardozo entra e não rende, é mais um argumento que dá a quem pensa que já não tem condições de ser treinador do Benfica. Isto mostra que Jesus, ao convocar Cardozo, deve estar convencido que uma derrota amanhã será o fim da linha para si.

Quanto ao Sporting, o cenário é menos dramático. Leonardo Jardim já conseguiu conquistar os adeptos, mesmo tendo um perfil muito mais discreto do que Jesus. Tendo em consideração os valores individuais dos jogadores e o potencial coletivo de Sporting e Benfica, é evidente que há mais probabilidades de o Benfica ganhar. Depende da saúde psicológica que os jogadores benfiquistas demonstrarão ou não no jogo de amanhã. Mas, no caso de derrota do Sporting, isso não será o fim da linha para ninguém. Basta que os sportinguistas não se esqueçam das expetativas que tinham há um mês atrás.

Sporting candidato ao título é algo que só existe nas fantasias dos seus sócios e adeptos, e nas palavras dos adversários para tentar pressionar uma equipa jovem e que está junta há pouco tempo. Racionalmente, os sportinguistas sabem que existe um percurso longo até poderem defrontar de igual para igual adversários com orçamentos muito superiores e estruturas com muito mais influência em todo o edifício organizativo do futebol português. Independentemente do resultado de amanhã, para o Sporting, o comboio ainda vai no início da viagem.