sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Paulo Bento

Vou escrever a minha opinião sobre o trabalho de Paulo Bento enquanto selecionador nacional. Faço-o hoje, propositadamente, antes do decisivo jogo com a Irlanda do Norte. Independentemente do resultado a minha opinião sobre Paulo Bento é esta e não vai mudar por causa de um resultado.

Vou começar por fazer uma lista das críticas que são feitas com mais frequência a Paulo Bento:
  • Dá preferência a jogadores representados por Jorge Mendes
  • Prefere convocar os jogadores de quem gosta em má forma em relação a outros que estão em boa forma
  • Não convoca jogadores de equipas pequenas mas não hesita em convocá-los quando chegam aos grandes (ex.: Licá e Josué)
  • Não tem plano B para tentar virar um jogo que esteja a correr mal
  • Teimoso
  • Gera conflitos com jogadores
  • Pouco audaz taticamente
Gestão de conflitos e personalidade

Paulo Bento é uma pessoa com uma personalidade forte. Não teme confrontos com quem quer que seja. E não me parece que tome favoritismos por qualquer clube em particular. É dos poucos treinadores que, perante uma provocação de Pinto da Costa, não tem medo de ir à guerra contrapondo o seu ponto de vista. Tenho a certeza que se Luís Filipe Vieira ou Bruno de Carvalho se intrometessem na vida da seleção de forma inadequada, poderiam contar com uma reação imediata do selecionador.

O mesmo se aplica para jogadores que têm atitudes incorretas, independentemente do seu estatuto. Não hesitou em afastar Ricardo Carvalho definitivamente quando este abandonou um estágio, por não ir ser titular. Fez o mesmo com Bosingwa, por este ter mandado uma boca quando num treino lhe deram um colete que o colocava na equipa dos suplentes.

Goste-se ou não, Paulo Bento prefere ter um grupo coeso que aceita as suas escolhas, do que estrelas que amuam quando as coisas não lhes correm de feição. É perfeitamente legítimo que assim seja, pois é o mínimo que se pode exigir a profissionais pagos a peso de ouro. Podem e devem ficar insatisfeitos por não jogarem, mas devem guardar essa insatisfação para si -- quanto mais não seja por respeito aos colegas que vão jogar no seu lugar. 

A história está cheia de seleções carregadas de jogadores de enorme talento e egos que nunca ganharam nada. Veja-se por exemplo a Holanda, que tem uma abundância de talentos individuais como muito poucos têm, mas com um balneário completamente dividido. Foram à final do mundial 2010 mas de resto têm tido sempre prestações muito aquém das expetativas. Ou a França, que ainda tem sido pior. Paulo Bento tem o balneário consigo e isso é meio caminho andado para que as coisas corram bem nos momentos difíceis.

As convocatórias

Paulo Bento quer que os jogadores sejam fiéis consigo, mas o selecionador também é fiel para com o seu núcleo duro de jogadores. Quer que se sintam parte do grupo, independentemente da forma em que se encontram. Dar esta segurança aos jogadores pode parecer injusto para quem está em melhor forma, mas é um excelente investimento para um óptimo ambiente de balneário.

Como é evidente, isto torna mais complicada a convocação de novos jogadores que se apresentam em boa forma. Mas isso, na minha opinião, é uma coisa boa. Um jogador que faça 5 bons jogos seguidos não pode pensar que tem as portas abertas da seleção A. Chegar à seleção deve ser o corolário de uma um período prolongado consistente e de qualidade, caso contrário qualquer jogador poderia exigir ser chamado após 3 ou 4 bons jogos. 

André Gomes e Nelson Oliveira, foram dos casos mais discutidos. André Gomes tinha 13 jogos pela equipa principal do Benfica quando foi convocado. Nelson Oliveira na época passada jogou pouco e continuou a ser chamado com frequência, mas é o avançado português que está mais próximo de rebentar para uma boa carreira, numa posição em que temos muito poucas alternativas. Por outro lado, André Martins já é convocado com regularidade, Adrien foi agora chamado e dúvido que deixe de ser convocado no futuro se continuar a jogar com tem jogado, e William Carvalho ainda só fez três jogos oficiais pelo Sporting. Há-de chegar a sua oportunidade se continuar na forma que tem estado.

Na minha opinião, o facto de Paulo Bento não chamar jogadores de equipas pequenas é o aspeto mais discutível das suas convocatórias. Tudo bem que a exigência de vitória e a pressão de quem joga em clubes como o Estoril e no Paços de Ferreira não corresponde ao que os jogadores sentirão na seleção, mas integrar dois ou três elementos de equipas pequenas não vai minar o espírito de vitória de Portugal. Para além disso, Paulo Bento não parece ter grandes problemas em convocar jogadores que jogam em equipas pequenas de outros países.

O mito dos jogadores de Jorge Mendes

Fui ao site da Gestifute ver que jogadores representam, e os que estão ou estiveram recentemente na seleção são: Adrien Silva, André Gomes, Bruno Alves, Bruno Gama, Cristiano Ronaldo, Custódio, Danny, Fábio Coentrão, João Moutinho, Miguel Veloso, Nélson Oliveira, Pepe, Pizzi, Ricardo Carvalho, Rúben Micael e Rui Patrício.

Jogadores convocados recentemente como Beto, Eduardo, Anthony Lopes, João Pereira, Ricardo Costa, Neto, Antunes, Rúben Amorim, Raul Meireles, André Martins, Josué, Vieirinha, Nani, Licá Hugo Almeida e Hélder Postiga, Sílvio, Varela, Paulo Machado, Sereno e Carlos Martins não são jogadores de Jorge Mendes. 

Podem existir nomes com que não se concorde, mas tanto os vemos na lista de jogadores de Jorge Mendes como de outros empresários.

No banco

Paulo Bento sempre foi e continua a ser um técnico conservador. Tem o seu modelo de jogo e insiste nele porque acredita que é o que melhor aproveita os jogadores à sua disposição. Não muda com frequência e percebe-se porquê: não é fácil mudar um modelo de jogo de uma seleção que faz 5 treinos de 3 em 3 meses. Lembrem-se de como Queiroz gostava de inventar. Às vezes até dava certo, mas muitas vezes nem por isso. 

Os resultados

Ainda não sabemos se nos vamos qualificar ou não, mas Portugal tem três resultados negativos até agora: empates com a Irlanda do Norte (em que merecíamos ganhar, apesar de termos jogado pouco) e com Israel (empatámos com muita sorte) e derrota com a Rússia (merecíamos no mínimo o empate). Mas a falta de foco dos nossos jogadores nas fases de qualificação é um problema antigo, já com Queiroz e Scolari tivemos que ir aos playoffs. A doer, no fase final do Euro2012, a seleção de Paulo Bento teve um comportamento fantástico. Num grupo de morte (Alemanha, Holanda e Dinamarca) passámos à fase seguinte com momentos de brilhantismo (principalmente contra a Holanda) e só fomos afastados pela Espanha na lotaria dos penalties. Espanha, que depois ganharia 4-0 à Itália na final. Seria difícil pedir melhor que isto, já que a qualidade dos jogadores que temos está longe do que era no ciclo Euro 2004 e Mundial 2006.

Conclusões

Paulo Bento é um homem de carácter que procura retirar o melhor dos jogadores que tem à disposição. Não admite vender a estabilidade de balneário para satisfazer caprichos de dirigentes ou jogadores que se imaginam acima dos restantes. É um homem leal que exige lealdade, e ao fim de 3 anos enquanto selecionador parece continuar a ter os jogadores consigo -- que é um dos dois requisitos fundamentais (o outro é a qualidade dos jogadores disponíveis), para continuar a obter bons resultados no Mundial 2014. Esperemos que não existam mais sobressaltos na qualificação.