Na edição de quarta-feira do jornal A Bola, tivemos uma capa um pouco invulgar. Vítor Serpa aparentemente sentiu-se incomodado com o salário de William Carvalho, apesar de não se conhecerem grandes insatisfações do jovem jogador relativamente ao valor que aufere no Sporting.
Serpa deve ter sentido o toque, ao ver que um dos jovens futebolistas que melhor futebol tem praticado esta época ganha menos que um certo diretor de qualidade duvidosa de um jornal desportivo de qualidade ainda mais duvidosa. E muito menos que outros craques como Carlos Martins e Yannick Djaló que vão espalhando o perfume do seu futebol não se sabe muito bem onde. Mas esses casos já não têm tanto interesse para Vítor Serpa.
Um adepto comum provavelmente poderia ser enganado ao pensar que o jogador está feliz por ser titular no clube que o formou e que o aumento do vencimento não será a sua prioridade nº 1. Mas Serpa e A Bola não só não se deixam levar em cantigas, como não dão tréguas, recauchutando acontecimentos antigos já conhecidos de todos para o destaque de uma primeira página, como esta observação:
Sim, já todos sabíamos que percentagens de passes foram alienadas de forma irresponsável pelas sucessivas direções do Sporting, em particular a de Godinho Lopes. Eu pensava que notícias de 2011 já amplamente divulgadas no passado não deveriam fazer parte de uma primeira página de um jornal, mas eu também não sou um diretor de jornal que tem um salário superior a um jovem futebolista titular do Sporting. Que raio saberei eu do que deve ser ou não ser uma notícia de primeira página?
Mas o filão noticioso sobre o vencimento de William Carvalho ainda não terminou. Vítor Serpa e o jornal A Bola podem prosseguir este extraordinário exemplo de jornalismo de investigação com esta notícia divulgada ontem:
A taxa de IRS sobre os mais ricos pode subir de 48 por cento para até cerca de 60 por cento do rendimento coletável, de segundo um estudo do FMI, citado pelo «Dinheiro Vivo».
Segundo o Fundo Monetário Internacional, a taxa marginal de imposto sobre os rendimentos mais altos – atualmente 48 por cento, sobre mais de 80 mil euros anuais – ainda pode aumentar. Esta taxa poderá subir até 60 por cento.
Atendendo que:
Ou seja, 4.999€ x 12 + 20.000€ = 79.988€ é o que o jogador ganhará durante um ano. Serpa poderá dedicar amanhã uma capa para alertar William Carvalho para a iminente subida de escalão de IRS. Assim, pode ser que o jogador comece a jogar mal de propósito de forma a não receber mais prémios de jogo. E isso sim, seria um final feliz para o diretor do jornal A Bola, que certamente estará mais incomodado com a qualidade que o jogador está a demonstrar do que com o salário que este ganha ou deixa de ganhar.