sábado, 16 de novembro de 2013

A Academia do Sporting e as dores de cotovelo

Basta ver pela fornada de jogadores que o Sporting, geração após geração, tem fornecido às camadas jovens e seniores da seleção, para chegar à conclusão que a Academia é o centro incontornável da formação em Portugal.


Como é evidente, nem todos atingem um patamar de nível internacional, nem tal coisa seria possível. Por crises de crescimento, por falta de cabeça do jogador, por influências nefastas de empresários e outros oportunistas à procura de dinheiro fácil, por conjunturas pouco favoráveis para a afirmação de um jogador na equipa principal, ou por más decisões tomadas pelo próprio clube, são vários os fatores que podem influenciar o sucesso ou insucesso da carreira de um futebolista.

No Sporting, assistimos há décadas o fruto da qualidade no recrutamento e no processo de desenvolvimento dos jogadores. Ganhar campeonatos nas camadas jovens não é o objetivo, mas sim uma consequência natural do excelente trabalho que se faz.

Outros há que parece que investem na formação apenas para acrescentar umas taças aos seus museus. A efetiva utilização desses jovens nas equipas principais é nula ou anda perto disso. Não há um esforço continuado na aposta dos produtos da formação. O pouco que se vê são uns fogachos conjunturais para enganar adeptos mais influenciáveis.

Atitudes como as do Porto, que vem desviar juvenis a troco de contratos milionários, ou do Benfica, que parece sempre demasiado atento aos nossos jogadores em fim de contrato, são coerentes com a  política de terra queimada que vêm praticando há décadas, no caso dos primeiros, e nos últimos tempos, no caso dos segundos. Não olham a meios para salvar a face ou obter umas vitórias imediatas, por mais irrelevantes que sejam.

É indesmentível que a formação do Sporting é um orgulho para todos os sportinguistas e devia sê-lo também para o resto do país, mas infelizmente os agentes que saltitam por aí preferem constantemente desvalorizar tudo aquilo que a Academia já ofereceu ao futebol nacional.

Chegámos ao cúmulo de ver, no programa Dia Seguinte, Rui Gomes da Silva e Guilherme Aguiar de mãos dadas na afirmação de que o Sporting não teve nada a ver com a construção do jogador monstruoso que é Cristiano Ronaldo, perante uma postura completamente inadequada de Rui Oliveira e Costa.



Foi comovente ver dois homens que nunca estão de acordo em nada, partilharem este momento de comunhão tão sincero.

Mas deixemos de lado opiniões idiotas e vamos a factos que são indesmentíveis.

1. Se dispensássemos os jogadores formados pela Academia do Sporting, ontem teríamos jogado com um onze parecido com este:

Eduardo; João Pereira, Fábio Coentrão, Pepe e Bruno Alves;  Raúl Meireles, Rúben Micael e Josué; Licá, Vieirinha e Hélder Postiga.

No banco teríamos: Anthony Lopes, André Almeida, Ricardo Costa, Sereno, Neto, Antunes, Rúben Amorim, Paulo Machado, Hugo Almeida e Éder.

Seria de facto uma equipa que faria tremer qualquer adversário abaixo do 50º lugar do ranking FIFA.

2. Desde 1991, em que a FIFA criou o prémio de jogador do ano, tivemos os seguintes vencedores:
  • Lothar Mätthaus (formado no FC Herzogenaurach, na altura uma equipa da primeira divisão alemã)
  • Marco Van Basten (formado no UVV, no Elinkwijk e chegou ao Ajax com 17 anos)
  • Roberto Baggio (Vicenza)
  • Romário (Vasco da Gama)
  • George Weah (só chegou à Europa com 22 anos)
  • Ronaldo (Cruzeiro)
  • Zidane (Cannes)
  • Rivaldo (Paulistano)
  • Luís Figo (Sporting)
  • Ronaldinho (Grêmio)
  • Fabio Cannavaro (Nápoles)
  • Kaká (São Paulo)
  • Cristiano Ronaldo (Sporting)
  • Lionel Messi (Barcelona)
Encontrar dois Bolas de Ouro num retângulozito com 10 milhões de habitantes é algo que desafia todas as probabilidades. Apenas Itália e Brasil se podem gabar do mesmo, mas ambos os países têm bases de recrutamento bem mais amplas. Dentro desse grupo restrito de países com mais que um Bola de Ouro, encontrar dois que tenham vindo do mesmo clube é ainda mais improvável, e apenas o Sporting o conseguiu até hoje.

Atendendo às centenas de milhões de praticantes de futebol que existem pelo cinco continentes, é estatisticamente mais difícil que dois jogadores com o mesmo clube de origem vençam a Bola de Ouro, do que a mesma pessoa ganhar o primeiro prémio do Euromilhões por duas vezes.

Não é uma questão de sorte ou do acaso. Isso é argumento de gente mesquinha, incapaz de conviver com o facto de fracassarem cronicamente numa área onde existe, mesmo ao lado, um projeto de sucesso incontestável com uma dimensão planetária. Aprendam a viver com isso.