quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Rui Santos e a arte de falar sem dizer nada

Não aprecio particularmente o estilo de Rui Santos. É um homem que sabe que tem um tempo de antena anormalmente elevado por ser um comentador polémico, e em virtude disso acaba por ser uma voz que aparece frequentemente a contrariar as tendências de opinião dominantes.

Não me parece pessoa para andar a fazer fretes a Porto, Benfica ou Sporting. Pelo contrário, já teve dissabores bem dolorosos no passado, muito provavelmente por apontar o dedo a pessoas pouco habituadas a serem criticadas.

Apesar de apreciar um homem que não tem medo de dizer coisas que não agradam aos poderes dominantes do futebol, que é uma espécie em vias de extinção no panorama da comunicação social portuguesa, devo confessar que não gosto do modo como Rui Santos transmite as suas ideias. Como os programas em que participa são extremamente longos, parece-me que o discurso acaba por ser pouco objetivo, perdendo-se frequentemente em considerações confusas e inúteis. Tudo porque é preciso encher chouriços para ocupar os longos minutos do seu programa a solo.

Ontem tive a oportunidade de ver o programa "Tempo Extra", que veio confirmar a ideia que já tinha de Rui Santos. Destaco dois momentos.

O 1º tem a ver com um quadro que Rui Santos apresentou para comprovar o conservadorismo das escolhas de Paulo Bento.


Diria que é um péssimo exemplo para demonstrar o conservadorismo de Paulo Bento. Aliás, utilizar 29 jogadores durante uma campanha de 12 jogos oficiais e mais alguns particulares até parece experimentalismo a mais. Quase que dá para formar três equipas diferentes.

Teria sido mais apropriado ver os minutos de jogo existentes, e ver quantos jogadores contribuíram para 90% desses minutos. Aí sim, poderia chegar a alguma conclusão interessante. Da forma que o fez acabou por ser um tiro completamente ao lado.

Pouco tempo depois, Rui Santos quis falar sobre a longevidade de Paulo Bento enquanto selecionador e relacionar com a percentagem de vitórias conseguida. Até pode ser interessante uma análise que enquadre Paulo Bento no quadro dos selecionadores mais bem sucedidos na história do futebol português, mas Rui Santos, mais uma vez, fê-lo de uma forma simplista. E, pior que isso, foi a forma como apresentou as suas conclusões.


Um quadro que compara alhos com bugalhos, não fazendo referência às grandes competições em que os selecionadores estiveram envolvidos e o nível de sucesso dessas campanhas, não serve para absolutamente nada. E a forma como o apresentou até dá ideia que nunca tinha visto aquele gráfico antes. Ou que se esqueceu de qual era o ponto que queria comprovar. Péssimo.

A SIC percebeu que o formato anterior do Tempo Extra, em que Rui Santos falava a solo durante duas horas, já tinha os dias contados. Decidiram juntar, no mesmo horário, Manuel Fernandes, Toni e António Oliveira a Rui Santos no novo programa "Play-Off". A dinâmica é diferente mas não nos poupa a testemunhar momentos caricatos como este.


Para além disso, mudaram o horário do "Tempo Extra" e reduziram drasticamente a sua duração. Passámos de duas horas de discurso polémico, atabalhoado e pouco objetivo para trinta minutos de discurso polémico, atabalhoado e pouco objetivo.

Alguém devia avisar a SIC que não parece que tenha havido grandes melhorias.