Sugeri há dias a utilização do conceito trampião no léxico futebolístico nacional, que define indivíduos portistas e benfiquistas que encontram um espaço comum de convivência a bem da proteção simultânea de ambos os clubes, em detrimento das ameaças externas (Sporting).
Como exemplo recente, temos a forma como Guilherme Aguiar e Rui Gomes da Silva se apoiaram mutuamente para tentar impingir ao mundo a mentira de que o golo de William contra o Marítimo teria sido precedido de uma mão de Rojo.
Ou a forma acolhedora como na quarta-feira foi recebida a claque do Benfica no Dragão, com as suas bandeiras e adereços diversificados, na sequência do acordo de cavalheiros que reduziu a quota de bilhetes fornecidos ao clube visitante.
E ainda, no final do clássico de ontem, episódios como a terna conversa entre Jesus e Pinto da Costa, a falarem da dieta de um e da saúde do outro, das risadas durante o animado diálogo entre Rúben Amorim e Antero Henrique à saída do balneário, que até pareciam velhos conhecidos, ou do confortável camarote VIP colocado à disposição de Luís Filipe Vieira.
O futebol é bem mais bonito quando é vivido num ambiente de cordialidade e amizade. E não há nada mais belo que um genuíno momento de comunhão e partilha entre trampiões.
Não me espanta este convívio são entre elementos das duas instituições. É que à frente do Benfica está um homem que pode ser considerado o sócio nº 1 dos trampiões. O provedor dos trampiões. O xerife dos trampiões. Luís Filipe Vieira, sócio do Porto e do Benfica, braço direito de Pinto da Costa durante anos, é amigo dos seus amigos e defende-os com unhas e dentes.
O xerife Vieira é um homem corajoso que não hesita em colocar a estrela ao peito sempre que necessário, principalmente quando é necessário defender a diligência da bipolarização, que transporta tesouros como o cofre com os milhões da Liga dos Campeões, pertença dos cavalheiros que usam cartolas vermelhas ou azuis, dos ataques dos bandidos que cobrem a cara com uma bandana verde.
Recordemos, por exemplo, um episódio que aconteceu há pouco mais de um ano.
No dia 2 de Março de 2013, tinham-se cumprido 20 jornadas do campeonato. Benfica e Porto lideravam a tabela classificativa de mão dada, com 52 pontos. O Sporting era 11º classificado com 22 pontos. Nesse dia Luís Filipe Vieira deu uma entrevista ao Record. Adivinhem quem foi o alvo principal do seu ataque?
Março de 2013 |
O Sporting, claro está. Também avisa Jorge Jesus que o Benfica terá sempre um bom treinador, e que tentará chegar à final da Liga dos Campeões. Para o co-líder do campeonato, nem uma palavra.
O interessante no meio disto tudo é que nesse mesmo dia o Sporting recebia o Porto para o campeonato. Viera, como bom trampião, resolveu tentar dar uma bicada no Sporting, não fossem os leões atrapalhar os seus amigalhaços portistas na cavalgada para o título.
Há prioridades. O Sporting, em pleno período eleitoral, a atravessar uma crise gravíssima, e a 30 pontos do Benfica, era a principal fonte de preocupações para Luís Filipe Vieira.
Curiosamente, o Sporting acabou mesmo por fazer uma desfeita a todos os trampiões, empatando 0-0, num jogo cheio de incidentes: pela primeira vez em que há memória, o treinador principal (Jesualdo Ferreira) e o seu adjunto (Oceano) foram expulsos, Rojo viu um 2º amarelo por causa de uma falta que foi cometida por... Rinaudo, e mesmo assim o Sporting teve alma e talento para criar várias oportunidades nos últimos minutos que podiam ter valido a vitória no jogo.
O Benfica aproveitaria a ajuda do Sporting e ganharia o seu jogo nessa jornada, passando a ser líder isolado. Devem ter sido dias de difícil digestão para o xerife Vieira.