terça-feira, 22 de abril de 2014

O relatório de benchmarking da UEFA

Na semana passada, a Lusa fez o seguinte artigo, amplamente divulgado por todos os órgãos de comunicação social portugueses:


Quem leia a notícia fica a pensar que a UEFA fez um estudo elaboradíssimo sobre as preferências clubísticas dos cidadãos europeus. Não podia estar mais longe da verdade. O relatório da UEFA onde esta estatística é referida é um documento de benchmarking (obrigado por me terem indicado como encontrá-lo, @captomente e @nunovalinhas), referente ao ano de 2012, que abrange as mais diversas áreas relacionadas com o futebol europeu. Fala de facto sobre o peso que os clubes mais populares têm dentro do respetivo país, mas trata também de outros temas interessantes como as transferências de jogadores, assistências médias, comissões de agentes, receitas, custos com pessoal, nível de capitais próprios, cash flow, mudanças de treinadores, etc..

A notícia dada pelos jornais e televisões do nosso país corresponde a 1 das 104 páginas do relatório. E acredito que olhos mais treinados do que o meu poderiam tirar daqui algumas conclusões interessantes.

É que há mesmo muito sumo neste relatório. Se tiver oportunidade hei-de voltar a ele em posts futuros, mas neste vou-me focar em alguns números que a UEFA reuniu que vão ao encontro do que Bruno de Carvalho disse sobre a necessidade de os clubes ajustarem os seus orçamentos à realidade do país.

Página 39: tendências da média de assistência de 2011/12 para 2012/13


Portugal: entre -10% a -20%. 37 ligas europeias estão melhor, 7 ligas europeias piores.


Página 62: evolução das receitas de 2011 para 2012



Portugal: as receitas caíram entre 10% e 20%. 44 ligas europeias estão melhores, 4 ligas europeias estão piores.



Página 69: evolução do rácio custos com pessoal / receitas de 2011 para 2012

Este índice essencialmente indica se o crescimento das receitas acompanha o crescimento dos custos com pessoal. Uma evolução de 0% significa que ambos cresceram proporcionalmente, uma evolução positiva significa que os custos com pessoal cresceram mais do que as receitas (o que é mau sinal).


Portugal: superior a 10%. Não existem ligas piores do que a nossa.


Página 80: lucros / prejuízos agregados por liga



Portugal: cerca de 30% de prejuízo, ao nível das piores ligas da Europa


Página 95: nível dos capitais próprios agregados por liga



Portugal: os passivos dos clubes são superiores em 1% em relação aos ativos.



Não sou um especialista na matéria, mas creio que todos sabemos que, nos dois anos que se sucederam ao período deste estudo, a situação geral dos clubes portugueses e da própria economia em Portugal piorou. Neste momento não há nenhum dos grandes com capitais próprios positivos (o Sporting terá após a reestruturação financeira, se se confirmarem as condições divulgadas). As assistências têm vindo a diminuir progressivamente, bem como a generalidade das receitas (os direitos televisivos do Benfica são uma das poucas exceções). Nos últimos dois anos, Benfica e Porto não desaceleraram o investimento na contratação de jogadores, gastando cada vez mais no reforço dos plantéis. As vendas milionárias já nem sequer têm sido suficientes para cobrir os défices operacionais.

Mas enfim, os 47% de benfiquistas é que são o ponto a reter deste relatório. Obrigado pelo bom serviço que nos prestaram, senhores da comunicação social.