Na caixa de comentários do post anterior, Duarte Fonseca deixou um comentário para reflexão que me parece muito pertinente:
Caro,
Considero ser muito importante ter uma postura forte na negociação, mas não lhe parece que são casos a mais? E todos idênticos? Não lhe parece que começa a ser contra producente a forma de actuação? Prefere continuar a acreditar que a culpa é sempre dos jogadores? Não era bom questionar (mesmo que abstractamente) os métodos relacionais entre os gestores desportivos do Sporting e os jogadores?
São só algumas questões que gostaria de deixar para discussão.
SL
É uma questão de facto muito relevante. É inegável que este tipo de casos tem sucedido com demasiada frequência e é perfeitamente legítimo que se questione se a posição de permanente intransigência que a direção adota perante jogadores com objetivos divergentes é a que melhor defende os interesses do clube.
Desde que esta direção tomou posse já tivemos os seguintes casos:
- Bruma, com quem o Sporting não chegou a acordo para renovar, tendo posteriormente o jogador e representantes procurado, sem sucesso, a rescisão unilateral de contrato;
- Ilori, que a dois anos do fim do contrato disse veementemente que queria sair e que estava disposto a ficar dois anos sem jogar;
- Cassamá, Sambu e Bramé, com quem o Sporting não chegou a acordo para renovar e que assinaram pelo Porto no final do contrato;
- Labyad, colocado a treinar na equipa B sem jogar, cujo "pecado" era o enorme salário que auferia (em comunicado aquando da sua cedência ao Vitesse, foi referido que o Sporting poupa €4,5M durante o ano e meio do empréstimo) sem que tivesse um rendimento desportivo condizente;
- Elias, que ao voltar do empréstimo do Brasil foi também colocado a treinar na equipa B;
- Dier, que afirmou após ter saído que só não ficou no Sporting porque a direção não quis;
- Vários casos de jovens da formação que se recusaram a renovar contrato (ou cujas negociações se prolongaram durante largos meses), como Fokobo, Alexandre Guedes, Gelson Martins ou Matheus Pereira, em que alguns deles foram impedidos de jogar ou colocados noutras equipas.
Existirão certamente outros casos de que não me lembro de momento, mas que poderei colocar aqui caso alguém lhes faça referência. De qualquer forma, o objetivo deste post não é abordar cada caso de forma individual, mas fazer uma reflexão sobre aquilo que a direção pode fazer para este tipo de casos - ou sobre o que faz ou não faz de forma preventiva para impedir que as situações cheguem a pontos de rotura.
Excluo desta reflexão alguns dos casos referidos acima, em que é evidente que o único plano de carreira definido pelos empresários é o dinheiro imediato. Esses casos não merecem sequer que se perca tempo em pensar no que poderia ter sido feito para evitar a rotura.
É verdade que cada jogador é um caso, e todos têm os seus planos de carreira delineados, mais ou menos realistas e razoáveis, em função do valor que consideram ter - e se puderem cortar etapas nesse plano de carreira tanto melhor. Mas creio que também é legítimo que a direção se sinta no direito de estabelecer limites nos salários que paga ou em definir um preço para a saída dos jogadores, de acordo com as possibilidades e os melhores interesses do clube.
Há no entanto algo que nunca pode ser colocado em causa: durante os processos de negociação de renovações ou transferências, o mínimo que se pode exigir aos jogadores é que continuem a treinar e a jogar no caso de serem opções do treinador.
Há no entanto algo que nunca pode ser colocado em causa: durante os processos de negociação de renovações ou transferências, o mínimo que se pode exigir aos jogadores é que continuem a treinar e a jogar no caso de serem opções do treinador.
Infelizmente só há uma forma de apaziguar este tipo de situações: colocando dinheiro na mesa. É assim que Benfica e Porto normalmente resolvem os seus casos. Enzo pede para sair? Então em vez de ganhar 700.000€ ao ano passa a ganhar €2M. Jackson quer ser transferido? Então passa a ganhar €3M ao ano e ainda oferecemos 5% do passe ao empresário. Oblak, no princípio de 2013/14, numa altura que seria previsivelmente suplente, desapareceu sem deixar rasto. Chamou-se o empresário, oferece-se 20% do passe, aumenta-se substancialmente o salário ao jogador, e caso resolvido.
É claro que estes três casos têm uma coisa em comum que é indiscutível: os clubes podem ter cedido perante situações de chantagem (pelo menos no caso de Oblak é inegável), mas depois retiraram um enorme proveito desportivo dos jogadores que se traduziram em títulos (no caso do Enzo e Oblak) e em muitos golos (previsivelmente no caso de Jackson).
Mas o Sporting não pode seguir esse caminho. A meu ver, o espartilho financeiro em que o clube vive é um fator incontornável que reduz as hipóteses de gerir a relação entre os gestores desportivos e os jogadores. Estamos a falar de jogadores profissionais, a maior parte dos quais (se não todos) vê o Sporting como uma mera plataforma que os ajude a atingir outros patamares na sua carreira - e contra isso, sem liberdade orçamental para ir afastando tentações externas, a única coisa que vejo que a direção pode fazer é procurar gerir as suas expetativas a curto prazo. Se a estrutura de futebol faz isso de forma competente ou não, é difícil saber.
No entanto, não nos podemos esquecer de uma coisa: a direção NUNCA poderá controlar ofertas provenientes de outros clubes aos jogadores. Uma vez surgindo essas ofertas, não há muito a fazer - qualquer ser humano que não tenha poços de petróleo no quintal fica com a cabeça às voltas na perspetiva de poder receber um salário muito superior. Todas as expetativas que estavam alicerçadas na mente do jogador e empresário, repentinamente desvanecem-se.
Perante isto, o Sporting ou cede ao fim de 2 ou 3 tentativas negociais, ou tenta impor a sua vontade até ao limite da razoabilidade. Se essa razoabilidade foi ultrapassada nos casos de Rojo e Slimani, não sei, mas inclino-me para acreditar que não - pelo facto de ainda haver 3 semanas até ao fecho do mercado.
Mas independentemente da linha de rumo a seguir, acho inaceitável que exista tolerância para um jogador que se recuse a treinar e jogar. Até ao momento em que assine por outro clube, é jogador do Sporting Clube de Portugal e tem que cumprir as suas obrigações.